Paulo Adriano, Diocese de Leira-Fátima
Como seria de esperar, agora os dedos — para não dizer as mãos, os pés e as armas em geral — estão apontados à Igreja. É um ai jesus que tudo vai fechar, mas as igrejas ficam de portas escancaradas à espera da mais que previsível invasão de sars-cov-2 que, como bem sabemos, tem um apetite desmesurado por gente que se junta lá dentro, ao domingo e, às vezes, noutros dias da semana. Também é do conhecimento comum — que só é acessível a quem põe os pés num templo uma ou menos vezes por ano, de preferência no dia do casório de um primo afastado —, dizia que é do conhecimento comum que os frequentadores dos espaços de culto é tudo gente que não respeita nem distâncias nem etiquetas respiratórias ou lá o que seja isso.
Passe alguma ironia no que fica dito, com o anúncio feito pelo primeiro ministro da nação das novas e restritivas medidas de confinamento que, para já, vão estar em vigor até ao final do mês, era expectável que houvesse um levantamento generalizado contra a aparentemente quase única excepção nesta espécie manifesto de termo de residência, que é a permissão de se poder continuar a fazer celebrações religiosas. Esquece-se a forma exemplar e lesta como, desde o início, a Igreja foi a primeira a dar o exemplo, aplicando para si própria aquilo que passou a ser exigido a qualquer cidadão, indo mesmo mais longe do que seria legalmente obrigada.
Insistindo neste ponto, nestas últimas horas também são visíveis diferenças de tratamento por parte de alguma comunicação social que, sob a forma de notícia, esconde a ideia de que há um benefício atribuído à Igreja com a constitucional desculpa da liberdade de culto. À laia de exemplo, num noticiário desta manhã elencava-se uma série de exceções. A lista era simples e o ‘pivot’ enumerou-as tal como apareciam em ‘slide’, com o pormenor de que, apenas à alínea das cerimónias religiosas, acrescentou “de acordo com as regras da DGS”. Perguntei para mim se as outras excepções estariam livres das “regras da DGS”. E se alguma vez essas regras foram ignoradas pela Igreja.
Na habitual visita diária pelas ‘trends’ das redes sociais, verifica-se o mesmo: gente indignada, porque viu fechado o ginásio que frequenta três vezes por semana para abrir os poros das glândulas sudoríparas, enquanto as igrejas podem abrir as portas aos cada vez mais raros frequentadores. No meio das invectivas, alguém deixa notas de humor: pode ser que agora comecem a encher.
Apesar desta travestida benesse do Governo português a, assinale-se o plural, todas as religiões existentes no seu território, a Igreja Católica continua a fazer o que sempre fez: acatar as instruções das autoridades, aplicando todas as medidas, e dar o exemplo, indo mais longe e mais à frente na aplicação dessas medidas. Daí que não fosse surpresa o imediato comunicado da Conferência Episcopal a indicar a suspensão e adiamento de alguns tipos de celebrações, tais como Batismos, Crismas e Matrimónios, para além de recomendar a realização de atividades à distância pelos — já podemos dizer, tradicionais — meios digitais.