Encontros com São Paulo em Guimarães

A avaliar pela multidão que respondeu positivamente à chamada para a primeira sessão dos Encontros com São Paulo – na casa dos dois milhares e setecentas de pessoas, quer em Braga, quer em Balazar, quer em Guimarães, -, esta iniciativa da Arquidiocese de Braga para a vivência do Ano Paulino promete casa cheia nos próximos encontros, à razão de um por mês, até Julho. Esta Sexta-feira, numa Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Guimarães) a abarrotar de gente, o bispo auxiliar de Braga, D. António Couto, aqueceu uma noite fria com as suas palavras sobre a graça de Cristo no corpus paulino. Tratando-se do primeiro encontro, nada melhor do que começar pelo princípio. E o princípio, neste caso, é a saudação que abre e fecha cada epístola do Apóstolo, constituindo a moldura de toda a carta. E aí o prazer de (re)descobrir a omnipresença da palavra e do sentido da “graça” (cháris) de Cristo cativou sem dúvida uma assembleia convidada pelo orador a ler, na tela onde iam sendo projectados os textos, a apresentação e conclusão de cada missiva de São Paulo. “Graças por vós” ou “graça a vós”, numa relação aprendida de Deus, relação maternal, que depois transparece para o modo como o Apóstolo dirige as comunidades que vai fundando. Mas a sessão até começou – depois de cantado em coro o hino para o Ano Paulino composto pelo maestro Azevedo Oliveira, e enquanto se iam ajeitando pelas escadas os mais atrasados – por uma espécie de preâmbulo, com D. António Couto a lembrar o impacto de São Paulo na conversão de Santo Agostinho e a sublinhar cada palavra-chave de Flp 3, 12-14. Nesta proposta de grelha de leitura se tornou manifesta a aventura que foi a vida de São Paulo: ele perseguia a Verdade para a agarrar, mas, na verdade, foi, sim, agarrado por Ela; a partir desse momento, concentra-se no essencial, deitando ao lixo tudo o que o possa desviar desse caminho, tudo o que está a mais, para se atirar para a frente. “Uma coisa faço”, escreveu. Só uma interessa, como diz Jesus nos evangelhos de Marcos (Mc 10,21) e Lucas (Lc 10,42), respectivamente ao jovem rico e a Marta. “Paulo é homem de uma coisa e orienta por ela a sua vida, sem hesitação; uma seta, um atleta, uma meta”, afirmou D. António Couto. Sintomática da sua condição é a forma como nas cartas se apresenta – apóstolo, servo, prisioneiro. De quem? De Cristo Jesus. Sempre. Nunca em nome próprio. “Paulo não é um homem moderno, não estima a autonomia. É cristónomo, depende de Cristo”, afirmou o bispo auxiliar de Braga, deixando à assembleia dois outros cartões de visita que São Paulo nos oferece nos seus escritos: “teodidacta” e theodóchos, ou recebedor de Deus, como um vaso que recebe água, terra, flores. Curioso foi o apontamento deixado acerca da assinatura das epístolas. É que, em 8 das 13 cartas, Paulo não está sozinho mas com os irmãos, nomeados ou anónimos, contrariando o que no seu tempo era hábito. Das 645 cartas desses anos que Ernest Randolph Richards investigou, apenas 6 assumem co-autoria no cabeçalho. A este propósito, e para deixar no ar a pertinência e actualidade desta opção, D. António Couto lembrou as cartas pastorais de D. Alois Kothgasser, actual bispo de Salzburgo, que, ainda quando bispo de Innsbruck, dirigiu duas cartas, às crianças e jovens da diocese a que presidia, fazendo questão de contar com a colaboração de algumas dessas crianças e jovens na redacção. Já quanto aos destinatários do corpus paulino, eles são a Igreja (62 vezes em Paulo, 52 no restante Novo Testamento), os “chamados” ou “os santos”, o que vem a ser uma e a mesma coisa, como realçou. “Precisamos na Igreja de mais afecto e mais acções personalizadas”, disse o bispo, propondo comunidades baseadas numa “relação quadrilateral”, envolvendo os cooperadores da pastoral na vontade de que “Deus nunca deixe de estar presente nos nossos encontros”. Miguel Miranda

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