Em Cristo a liberdade, a alegria e a misericórdia

Carta pastoral de início de ano pastoral de D. Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém 1. Unidade e novidade na acção da Igreja Amados fiéis da nossa diocese de Santarém: A Graça e a Paz do Senhor estejam convosco! Ao iniciar o novo ano pastoral de 2007/2008, saúdo-vos fraternalmente e dirijo-vos, como nos anos anteriores, uma Carta Pastoral para apresentar um plano de acção que dê unidade e novidade às actividades da Igreja nas várias paróquias e nos organismos diocesanos. Desejo que estas propostas contribuam para a vossa formação e ajudem a aprofundar a actualidade do evangelho face aos desafios sempre novos da nossa época. Agradeço toda a atenção e a generosa colaboração prestada e peço ao Senhor que aceite e faça frutificar o nosso humilde contributo para o crescimento do Seu Reino. Ofereço este documento aos cristãos empenhados na missão da Igreja: presbíteros, diáconos, religiosos (as), consagrados (as), leigos responsáveis por actividades apostólicas (colaboradores na catequese, na liturgia, na caridade, membros dos Conselhos pastorais ou económicos, ou de outros serviços da comunidade cristã). A minha intenção é propor aos estimados colaboradores na missão apostólica alguns critérios e linhas comuns de acção para realizarmos um trabalho articulado ao serviço do mesmo Senhor e na construção da única Igreja. No centro da nossa fé está a pessoa de Jesus Ressuscitado. Descobrir e seguir Jesus Cristo, caminho para a verdade e para a vida, e crescer na configuração com Ele é sempre finalidade principal de todos os programas e cartas pastorais. Numa cultura resistente aos valores cristãos, é necessário viver a fé no interior do coração, com convicções próprias e com uma experiência pessoal, ou seja, numa relação de amizade, confiança e obediência ao Senhor. Com esta preocupação propusemo-nos, a partir do ano 2000, seguir o itinerário dos discípulos de Emaús, como ícone inspirador do programa pastoral. Numa primeira etapa, de 2000 a 2003, aprendemos a escutar a Palavra das Escrituras que nos falam de Cristo e nas quais Cristo nos fala. A escuta da Sagrada Escritura aprofunda a atitude de oração e prepara para viver os sacramentos como lugares de encontro com o Senhor Ressuscitado. Foi a segunda etapa aprofundada nos últimos três anos, de 2003 a 2006. As Escrituras e os sacramentos recebem-se e vivem-se na comunidade cristã e conduzem à participação na missão. Será a terceira etapa a aprofundar proximamente. Estas etapas, depois de percorridas, não se tornam ultrapassadas mas caminho a retomar constantemente. Se descobrimos a presença de Jesus Ressuscitado na nossa vida, como os discípulos de Emaús, também Lhe pediremos que fique connosco na Palavra das Escrituras e na Eucaristia. Assim, continuaremos sempre a aprofundar a nossa relação com o Senhor que anima a nossa esperança, através da prática da lectio divina, da participação esclarecida e atenta na liturgia e da atenção e cuidado pelas pessoas feridas. “Fica connosco, Senhor, porque sem Ti o nosso caminho ficaria submerso na noite. Fica connosco, Senhor Jesus, para nos levar pelos caminhos da esperança que não morre, para nos alimentar com o pão dos fortes que é a Tua Palavra. Fica connosco até à última noite, quando, fechados os nossos olhos, voltemos a abri-los perante o teu rosto transfigurado pela glória e nos encontremos entre os braços do Pai no Reino do divino esplendor”(1) 2. Sacramentos, sinais do encontro com Cristo Ao concluir o segundo triénio dedicado à liturgia, aprofundámos, ao longo do ano pastoral 2006/2007, os sacramentos da cura (Reconciliação e Santa Unção), com o lema “Bendigamos ao Senhor que cura as nossas feridas”. Este tema mereceu grande acolhimento e interesse pela sua densidade humana e espiritual. Chegados ao fim e fazendo a avaliação, com o Conselho Pastoral Diocesano e outros conselhos, concluímos que não alcançámos todos os objectivos que nos tínhamos proposto. Esta conclusão leva-nos a não iniciar já o novo tema da comunidade, previsto para o próximo triénio, mas a aprofundar a relação da fé com os sacramentos e a consolidar algumas propostas que fizemos nos últimos anos. Na verdade, no último ano, programámos formar nas paróquias serviços pastorais que pusessem em prática a misericórdia e a força curativa da fé, como os “Visitadores dos doentes” e os “Animadores da pastoral das Exéquias”. Mas, na realidade, em muitas paróquias, estas actividades ainda não funcionam com suficiente solidez. Não foi só no ano anterior que deixámos algumas metas por atingir. A problemática de fundo destes seis anos, ou seja, a relação entre a fé, que se apoia na Palavra de Deus, e os sacramentos, enquanto celebrações do encontro com o Senhor Ressuscitado, encontra-se ainda pouco fortalecida na vida cristã. Na verdade, os candidatos que pedem à Igreja sacramentos ou sacramentais, sobretudo os que se situam nos momentos marcantes da vida, como o Baptismo de crianças, a Primeira Comunhão, o Crisma, o Matrimónio, as Exéquias Cristãs, são motivados, frequentemente, por razões de natureza sociológica, antropológica ou de hábitos tradicionais. Estes motivos podem conter riqueza humana e religiosidade natural, manifestar abertura e criar disposição para o caminho da fé. São fruto dos hábitos de uma sociedade de tradição cristã, actualmente em forte processo de secularismo. Porém, a forma de pensar e de agir das pessoas em geral não reflecte hoje uma cultura cristã. Pedem ritos sacramentais mas não estão iniciadas na fé cristã. Ora os sacramentos têm sentido quando celebrados na fé da Igreja que os considera como sinais visíveis do encontro com Deus. Precisamos, por isso, de preparar os candidatos de modo a que adquiram consciência de que os ritos sacramentais não são apenas cerimónias exteriores, mas gestos da Igreja através dos quais o Senhor Jesus, Ressuscitado e Vivo entre nós, toca a nossa vida com o Seu amor e nos acompanha na peregrinação da existência. Como os discípulos de Emaús, precisamos também de fazer um percurso de fé e de conversão que nos permita encontrar, na Sua Palavra, a luz que ilumina as nossas trevas, aquece o nosso coração e nos prepara para O encontrar quando celebramos os sacramentos. “Por este caminho que trilhamos, sempre peregrinos, – com o peso da solidão no coração – vens Tu, ó Vivente entre os mortos, ao nosso encontro e partilhas o pão do amor. Neste longo caminho, onde, ao pôr do sol, se estendem as nossas sombras, acende ó Viajante envolto em mistério, a luminosa fogueira do acampamento da tua Palavra e saberemos, pelo seu fogo ardente, que a nossa esperança ressuscitou mais viva e mais forte. Sim, abre a nossa mente para compreender a tua Palavra, porque só ela pode dissipar as dúvidas que ainda surgem no nosso coração” (2) 3. A conversão de São Francisco de Assis Para compreender melhor o que é um percurso de fé e de conversão é interessante evocar o itinerário de São Francisco de Assis, de cuja conversão celebramos, neste ano de 2007, o VIII centenário. Este Santo, tão admirado universalmente, será um exemplo oportuno e um ícone luminoso para o nosso programa pastoral deste ano. A nossa diocese está ligada, desde as origens, à espiritualidade franciscana e guarda uma memória muito rica desta Ordem Religiosa. O Primeiro Bispo, Dom António Francisco, era franciscano e foi ordenado na Igreja de Santa Clara, irmã espiritual do Santo de Assis. Os templos franciscanos (São Francisco e Santa Clara) são dos mais antigos de Santarém. A conversão de Francisco aconteceu pelos vinte e cinco anos. Não que antes fosse um grande pecador mas, como ele confessa no seu testamento, levava na juventude uma existência centrada nos sonhos de glórias do mundo, de vaidade, de gozo da vida terrena (era o “rei das festas” entre os jovens de Assis). Pelos vinte e quatro / vinte e cinco anos fez algumas descobertas que deram um novo rumo e uma nova amplitude à sua vida. Um dia que estava concentrado em oração na Igreja de São Damião pareceu-lhe ouvir um apelo vindo do Crucifixo: “Francisco repara a minha casa”. Pensando, no início, tratar-se do edifício de São Damião, a precisar de restauro, começou a reunir meios nesse sentido à custa dos bens paternos. Perante as ameaças do pai, despojou-se das suas vestes ricas, renunciou à herança e dedicou-se a servir os doentes, dando carinho aos leprosos, chegando mesmo a beijá-los: “A conversão levou-o a exercer misericórdia e obteve-lhe também misericórdia”, comentou o Papa Bento XVI. Na conversão de Francisco aprendemos que converter-se é descobrir que Deus está presente e intervém na nossa vida. A experiência do Crucifixo de São Damião é marcante na mudança de vida deste Santo. O encontro com Deus conduz a uma nova visão da vida, da realidade e das pessoas. Converter-se é ver com olhos novos, iluminados pelos critérios do evangelho, e não segundo a nossa perspectiva terrena, egoísta e mesquinha. “Na Vossa luz Senhor veremos a luz” (Salmo 35). A luz da fé leva-nos a uma visão positiva do mundo, criatura de Deus, e dos outros nos quais Deus se nos manifesta. Esta nova perspectiva da realidade nota-se profundamente em São Francisco que começou a sentir-se irmão universal de todas as criaturas. Ver de forma diferente leva a agir de forma diferente, orienta para o amor no serviço humilde, para a misericórdia e para a paz. Por isso, São Francisco dedica-se ao serviço dos pobres e dos feridos da vida em quem vê a presença de Cristo. A conversão leva-o ainda a descobrir a Igreja numa nova dimensão: “Repara a minha casa”. A casa de Deus é o Seu povo, a sua Igreja de pedras vivas, para cuja renovação todos somos chamados a contribuir. A luz e a beleza que devem resplandecer no rosto da Igreja, alcançam-se com a fidelidade, a santidade e a participação de todos os fiéis. Por isso, Francisco esforça-se por viver em comunhão com a Igreja e contribuir para a sua renovação. A presença de Deus na Igreja é sinal e promessa da presença de Deus na criação, obra do seu amor. O Santo de Assis viveu intensamente também a relação fraterna com todas as criaturas. Francisco declara que, com a conversão, a amargura transformou-se em doçura de alma e do corpo. Ou seja, a conversão levou-o a despojar-se de si mesmo e a experimentar a liberdade, a alegria, a misericórdia, a reconciliação e a paz. Tornou-se um admirador e cantor da beleza da criação, do louvor de Deus e da fraternidade universal. “Louvado seja Deus na natureza, Mãe gloriosa e bela da Beleza, E com todas as suas criaturas: Pelo irmão senhor sol, o mais bondoso E glorioso irmão pelas alturas, O verdadeiro, o belo que alumia Criando a pura glória – a luz do dia!” (Cântico das criaturas de São Francisco) 4. Situar a preparação dos sacramentos num percurso de conversão A conversão de São Francisco mostra-nos como o encontro com Deus leva a viver o evangelho fielmente e nos torna novas criaturas, capazes de descobrir a beleza de Deus, do mundo e dos outros, e nos leva a servir com humildade e misericórdia os nossos irmãos, sobretudo os feridos. Como se alcança a conversão? É fruto de um percurso demorado e progressivo que todos somos chamados a trilhar: “Convertei-vos e acreditai no evangelho” (Mc 1, 15) pede Jesus logo no início do Seu ministério. Ao longo da vida, Deus chama-nos em várias oportunidades e de várias formas a fazer ou a retomar o percurso de conversão. A preparação e a celebração dos sacramentos deve ser entendida dentro deste percurso, como uma proposta do caminho que leva ao encontro de Cristo, luz e vida dos homens. Assim os sacramentos podem tornar-se verdadeiramente lugares de encontro com o Senhor Ressuscitado. A preparação de cada um dos sacramentos precisa, portanto, de ser situada num percurso progressivo e global de conversão, ou seja, orientado ao encontro com Cristo e à integração mais empenhada na comunidade cristã, em ambiente de oração, com convite claro a uma nova vida segundo o evangelho. A conversão não se resolve com alguns encontros. Mas estes podem levar a dar alguns passos que, depois, tenham continuação orientada ao crescimento espiritual, moral e humano. Como se conduz alguém ao encontro com Cristo? Como se transmite a vida de fé? Não basta ensinar e explicar a fé. Em muitos casos é preciso começar pelo início, pelo despertar da fé, orientando para o sentido da presença do Deus vivo, para a relação com Ele na oração, para a fidelidade ao caminho da vida, para a experiência de comunidade cristã. A transmissão da fé passa pelo testemunho pessoal e comunitário dos crentes, fundamentada numa experiência vivida, como aconteceu com os primeiros discípulos de Jesus. André foi um dos primeiros a descobrir o mistério de Jesus. No dia seguinte encontrou o seu irmão Simão (Pedro) e comunicou-lhe a descoberta: “Nós encontrámos o Messias”. E levou-o a Jesus (Cf Jo 1, 40-42). Testemunhar a fé é levar alguém a Jesus comunicando-lhe a própria experiência pessoal. Assim, para guiar no percurso de fé e de conversão precisamos de testemunhas da fé, ou seja, de animadores que vivam uma relação de amizade e confiança com o Senhor Ressuscitado. Numa cultura de tradição cristã, bastava ensinar e explicar a doutrina católica. Hoje é necessário introduzir os homens e as mulheres do nosso tempo no mistério da vida cristã que é comunhão com Cristo, fonte de esperança e de amor. Com efeito, a tradição ou entrega da fé, (“Traditio”, tradição ou transmissão da vida de fé), encontra-se debilitada tanto na família como no meio social (comunidade no sentido amplo). Uma comunidade (família ou paróquia) transmite a fé, não só pelo ensino doutrinal mas ensinando a vivê-la na vida fraterna, na oração, na celebração e no conhecimento do evangelho. A Igreja, no início da sua história, quando se enfrentou com um mundo pagão, sem a preparação espiritual para o evangelho, como acontecia no mundo judaico, criou uma pedagogia própria para introduzir no mistério cristão e preparar os candidatos para o Baptismo, que designou como catecumenado. Era entendido como um caminho, à maneira do caminho dos discípulos de Emaús, que progredia na descoberta do mistério de Cristo, através de uma formação global, atenta a todas as dimensões da vida cristã: escuta da Palavra; oração e celebração; prática do evangelho da esperança e da caridade; vida em comunidade e testemunho da fé. Actualmente, tendo em conta as circunstâncias parecidas em que nos encontramos, a Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, recupera e actualiza a pedagogia catecumenal para transmitir a fé e preparar os catecúmenos para o Baptismo. Mais ainda: propõe o catecumenado de adultos como modelo para a educação da fé. Ou seja, na catequese de infância, na preparação de jovens e adultos para o Baptismo e para o Crisma, na preparação dos sacramentos em geral, devemos procurar seguir a pedagogia catecumenal. É neste contexto que devemos procurar a resposta à questão da relação da fé com os sacramentos. “Nós fizemos uma paragem junto de Ti Senhor E contemplámos o rosto transfigurado do Teu Filho Nossa luz e nossa vida. Nós Te pedimos também: Que os nossos rostos se tornem um reflexo da tua luz, E nós seremos no mundo testemunhas apaixonadas do Teu amor por todo o homem Tu, o Deus vivo por todos os séculos”.(3) 5. Marcos do percurso catecumenal Para pôr em prática a pedagogia catecumenal, precisamos, primeiramente, de definir o percurso do catecumenado, de conhecer as suas etapas, de aprofundar o seu estilo. Designadamente: 1. Sensibilização, motivação e convocatória para o percurso de preparação; 2. Como realizar o “Kerigma” ou “Primeiro Anúncio”; 3. Catequeses a propor; 4. Etapas celebrativas, ritos e exercícios de fé a realizar; 5. Celebração do(s) sacramento (s); 6 Integração na comunidade e continuação do percurso. Este projecto do catecumenado deve inspirar a preparação de cada um dos sacramentos, de modo que esta se situe num percurso de conversão que não se reduza à celebração mas tenha um tempo antes e continuidade depois. A pedagogia catecumenal tem um ponto de partida e de apoio: a comunidade cristã, onde a Igreja se torna presente. É da comunidade que recebemos a fé; é na comunidade que aprendemos a vivê-la; é na comunidade que a testemunhamos e irradiamos. A nossa fé é fiel a Jesus Cristo, se for a fé da Igreja. A comunidade cristã é a origem, o ambiente e a meta do percurso da fé. Assim como a Palavra de Deus se torna viva e actual na Igreja também os Sacramentos são acções de Cristo oferecidas pela Igreja. Pedimos os Sacramentos à Igreja e celebramo-los na Igreja. Precisam de ser preparados e vividos em Igreja e conduzir a uma integração na comunidade eclesial. Terão as nossas comunidades cristãs vitalidade pastoral para exercer esta função? Temos núcleos ou fermentos que podem crescer e desenvolver-se. A comunidade perfeita é sempre um projecto a construir que devemos ter presente na acção pastoral: é a casa de comunhão fraterna onde todos se sentem acolhidos como em família e onde cada um procura acolher o outro como irmão. É a assembleia reunida para escutar a Palavra Viva, celebrar a presença de Cristo nos sacramentos e aprender a viver o amor e a ajuda fraterna. A comunidade abrange, também, a multidão das testemunhas do evangelho espalhadas pelo mundo inteiro, a Igreja formada por santos e pecadores, sábios e humildes, profetas e servidores do amor, construtores da paz e da fraternidade, defensores dos pobres e dos humildes. Alarga-se, ainda, à Igreja celeste formada pelos que se encontram já no seio de Deus. É a Igreja una, santa, católica e apostólica que nos acolhe como filhos e irmãos e conta também com a nossa participação e testemunho de fé. Outra referência do catecumenado é a globalidade. A adesão à fé não vem só do conhecimento e da compreensão mas também do afecto e do coração. O catecumenado, como percurso de fé e de conversão, deve ser global, tocar o coração de modo a levar a viver a fé e não só a conhecê-la, através de exercícios que criam abertura à presença de Cristo: escuta da Sagrada Escritura e conhecimento da fé da Igreja; canto; oração; amizade, diálogo e partilha fraterna no grupo; celebrações litúrgicas; serviço fraterno aos necessitados e prática do evangelho no dia a dia. A oração desempenha uma importância fundamental na aprendizagem da fé, como vemos na vida e apostolado de tantos santos. São ainda necessários os roteiros para o percurso (ou guiões) bem como os animadores que orientem a preparação. Quanto a roteiros não partimos do zero. Ao longo do último triénio, nalgumas reuniões do clero e de outros colaboradores pastorais, fomos dialogando e definindo critérios sobre a preparação dos sacramentos em várias situações: preparação de adultos e jovens para o Baptismo, através do Catecumenado; preparação dos candidatos para o sacramento do Crisma; preparação de crianças, em idade escolar ou de catequese, para o Baptismo a coincidir com a Primeira Comunhão; preparação de noivos para o Matrimónio; de pais e padrinhos para o Baptismo de seus filhos ou afilhados, na infância. Temos elementos quase prontos para elaborar os roteiros ou guiões. Estão ainda em preparação guiões para Visitadores de doentes e Animadores da vigília de oração pelos defuntos. Mais importantes são os animadores que ajudem a preparar os candidatos para o encontro com o Senhor. Animadores que sejam peregrinos e façam caminho com os candidatos. Que escutem e gostem de aprender e partilhar com os outros e não professores para tudo explicar. Que sejam buscadores de Deus, orantes e contemplativos como o apóstolo André, que comuniquem o que eles próprios se esforçam por viver. Animadores que, pelo seu testemunho, sejam sinais da alegria e da esperança que brota da fé. Chamar e formar estes animadores de modo que aprofundem a sua própria fé e adquiram pedagogia para liderar adultos no caminho do Senhor, torna-se uma prioridade pastoral que fundamenta este trabalho de evangelização. “Cristo não tem mãos Não tem senão as nossas mãos Para hoje realizar a sua obra. Cristo não tem pés Não tem senão os nossos pés Para conduzir os homens no seu caminho. Cristo não tem lábios. Não tem senão os nossos lábios Para falar Dele aos homens. Cristo não tem ajudantes. Não tem senão a nossa ajuda Para pôr os homens do seu lado. Nós somos a única Bíblia que o público ainda lê. Nós somos a última mensagem de Deus escrita em actos e palavras”.(4) 6. “Se alguém está em Cristo é uma nova criatura” A quem dirigimos esta proposta? A afirmação da segunda Carta aos Coríntios (2 Cor 5,17), que serve de título a este número, ensina-nos que o convite à conversão a Cristo, fonte de vida nova, é para todos os fieis. Assim, nesta Carta Pastoral, não propomos apenas uma acção para determinados destinatários mas uma espiritualidade para todos os discípulos de Cristo chamados à novidade do evangelho. “Convertei-vos e acreditai na Boa Nova” pede Jesus a todos nós, seus discípulos. A novidade do evangelho e da vida cristã está associada à conversão. Na verdade, é a conversão que nos permite alcançar a verdadeira liberdade entendida como desapego, despojamento e independência face aos poderes do mundo; que nos dispõe para acolher o dom de Deus; que gera em nós a alegria como atitude interior de confiança e de aceitação do plano de Deus; que leva a revestirmo-nos de misericórdia, e nos abre ao acolhimento cordial e ao apreço por todos. A pedagogia catecumenal caracterizada pelo caminho da conversão pede certamente um estilo renovado de formação cristã que deve ser levado à prática em várias actividades e grupos. Mencionamos alguns: 1. Candidatos aos sacramentos. Bastantes católicos pedem os sacramentos ou sacramentais por hábito, por razões de tradição sem conhecimento suficiente nem consciência clara de que os sacramentos são sinais do encontro com Cristo. É necessário oferecer-lhes uma preparação que os desperte e os situe neste percurso de conversão. Temos em vista, primeiramente, os adultos que ainda não realizaram ou não completaram a iniciação cristã e podem ser motivados para o Baptismo ou para o Crisma e Eucaristia. Pensamos também nas crianças que, em idade escolar, pedem o Baptismo e nos jovens candidatos ao Crisma. A proposta dirige-se, igualmente, aos candidatos ao Matrimónio e aos pais que pedem o Baptismo para os filhos de tenra idade. 2. Animadores que colaboram na orientação de grupos de formação cristã ou na preparação dos candidatos aos sacramentos. Se a acção que se lhes pede não é apenas ensinar mas guiar no caminho que eles próprios percorrem, então é importante formar os animadores no conhecimento mais profundo do mistério cristão, na escuta da Sagrada Escritura, na oração, na capacidade de diálogo e de relação fraterna, bem como na capacidade pedagógica de liderar um grupo de adultos. 3. Grupos bíblicos ou de formação de adultos. Nas paróquias da diocese têm funcionado muitos grupos de formação de adultos com bastante proveito dos membros e enriquecimento das comunidades de se tornam fermento de renovação e crescimento. Alguns mostram indícios de cansaço, outros mantêm o interesse. Desejamos que esta Carta lhes sirva de estímulo e apoio para progredirem no seu percurso. 4. Grupos de jovens. Pedimos também aos jovens e aos animadores dos grupos juvenis que se esforcem por crescer na formação global, prestando atenção à espiritualidade, à relação de amizade no grupo, à participação na comunidade, de modo que cresçam na liberdade, na alegria e na misericórdia. 5. Catequese de infância e adolescência. É uma actividade fundamental nas paróquias, que precisa de ter em conta a pedagogia catecumenal, de modo que os catequizandos possam progredir no caminho do Senhor, crescendo no conhecimento da fé, na atitude de oração, na integração na comunidade. 6. Famílias cristãs. Chamadas a ser escolas de formação dos filhos, as famílias precisam de cultivar a espiritualidade de modo que os filhos aprendam o caminho do Senhor na vida de família, pela experiência de oração, de escuta da Bíblia e da prática do evangelho. Nesse sentido, através dos organismos diocesanos, continuaremos a oferecer às famílias o apoio possível para cultivar a formação humana e cristã. Para além destes grupos, convidamos todos os fiéis que participam activamente nos vários serviços da comunidade (colaboradores na caridade, na liturgia ou noutras actividades pastorais) a progredir no caminho do Senhor, caminho de liberdade, de alegria e de misericórdia. Pela escuta mais assídua da Palavra de Deus, pela oração mais frequente e renovada, pela relação mútua mais afectuosa, pela caridade mais generosa. Sobretudo pela participação mais frutuosa na Eucaristia, principal fonte do crescimento espiritual. “Vem Senhor pela Tua Eucaristia Leva-nos a ver com olhos novos Que ela nos conduza a Ti, E ao que nós somos para Ti, Que ela transforme o nosso olhar e a nossa vida E aqueça o nosso coração. Para que acolhendo o Teu amor Nos tornemos capazes de ser sinais de Ti. Que pelo amor A Tua Igreja se torne serva No seguimento de Teu Filho. Ámen”.(5) Santarém, 8 de Setembro de 2007, festa da Natividade de Nossa Senhora Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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