Eleições: Resultado da primeira volta das legislativas francesas é «desafio para a Europa» – Susana Madureira Martins

Editora de política da Rádio Renascença analisa cenário político da Europa e a eleição de António Costa, ex-primeiro-ministro português, para o cargo de presidente do Conselho Europeu

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 04 jul 2024 (Ecclesia) – Susana Madureira Martins, editora de política da Rádio Renascença, considera que o resultado da primeira volta das eleições legislativas em França, que deram a vitória ao partido da União Nacional, da extrema-direita, “é um desafio para a Europa”.

“As sondagens e as projeções dão a indicação de que a extrema-direita pode vir a ganhar esta segunda volta, apesar de a esquerda e também os liberais tentarem uma grande coligação para tentar evitar esta vitória de [Marine] Le Pen e de [Jordan] Bardella. É uma grande incógnita o que pode acontecer”, afirmou a jornalistas, em entrevista transmitida hoje no Programa Ecclesia (RTP2).

A Hungria assume a presidência rotativa do Conselho da União Europeia até ao final de dezembro e, segundo Susana Madureira Martins, está muito próxima das intenções de Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, e relacionada com os Estados Unidos da América, de Donald Trump, algo que pode “influenciar a política europeia”.

“Não sabemos bem em que direção, mas o presidente [Emmanuel] Macron não se demite, mas se tiver um governo de maioria de extrema-direita, será um grande desafio ao próprio Macron de manter-se num lugar, onde, já aconteceu, não é inédito, em que o governo não é da sua própria maioria”, destaca.

Segundo a editora de política da Renascença, esta relação vai ter de se refletir a “nível da União Europeia”, se bem que a representação do Estado francês seja sempre do presidente.

“Há sempre uma indicação do governo, e vai ter de haver ali uma espécie de fricção e um equilíbrio entre o que o governo francês, eventualmente de extrema-direita, entender que deve ser o futuro da França no palco europeu, nomeadamente em termos de relacionamento com a Rússia, a Rússia muito próxima de Marine Le Pen. É um desafio muito grande”, entende.

No próximo domingo, dia 7 de julho, realiza-se a segunda volta das eleições legislativas em França, que foram antecipadas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, depois da derrota do seu partido (Renascimento) e da vitória do União Nacional.

Susana Madureira Martins explica a reconfiguração do Parlamento Europeu, tendo conta os resultados das eleições europeias, com a existência de “lideranças fracas na Europa”.

“[Emmanuel Macron] era um presidente jupiteriano, com a sua sobranceria, e a França paga um pouco por isso também. E provavelmente por outro lado, a Europa pode começar a ficar diferente por dentro. Nem será preciso um poder externo para ficar um pouco diferente”, realça.

Sobre a eleição de António Costa para presidente do Conselho Europeu e a influência que pode ter à mesa com os 27 líderes europeus, a editora de política da Rádio Renascença defende que este é um papel “limitado”.

Segundo a Susana Madureira Martins, António Costa desempenha “o papel de jogos de salão, o papel de diplomacia, de tentar influenciar os chefes de Estado”, mas “o papel executivo, verdadeiramente legislativo, é da Comissão Europeia e em parte depois do Parlamento Europeu, que dá seguimento ou não ao que vem da Comissão”.

“Há diplomatas que dizem que António Costa é uma espécie de encantador de serpentes e provavelmente esse papel poderá ter um papel com peso, de facto. Agora, até que ponto é que pode impedir que algumas políticas mais chegadas a Órban, mais chegadas a Marine Le Pen, até que ponto é que pode impedir que essas políticas se comecem a vingar?”, questiona, acrescentando que este é um desafio para o responsável português.

A editora de política da Rádio Renascença “tem dúvidas” de que os cidadãos se sintam mais próximos da União Europeia com a eleição de António Costa.

“A verdade é que sim, um projeto europeu influencia, e de que maneira, a vida dos portugueses, em particular”, diz a Susana Madureira Martins, que considera que cidadãos europeus não têm essa perceção.

LS/LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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