Ecumenismo precisa de chegar às bases

Reconhecimento comum do Baptismo e promoção do diálogo entre as preocupações das Igrejas cristãs em Portugal Em Portugal, o Ecumenismo “não pode ser um assunto apenas das cúpulas mas também das bases” – afirmou à Agência ECCLESIA D. Manuel Felício, Bispo da Guarda e vogal da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo (CEDFE). E apela: “Devemos fazer uma recepção bem feita ao Directório para o Ecumenismo que tem orientações muito concretas, mas estão longe de ter incarnado nas nossas comunidades”. Com o aproximar da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de Janeiro), o prelado realçou que a CEDFE está a pensar publicar “uma brochura com os ecos da III Assembleia Ecuménica Europeia”, realizada em Sibiu (Roménia), no passado mês de Setembro. Este ano completam-se 100 anos após o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (1908-2008) e terá como tema «Orai sem cessar», da 1ª Carta aos Tessalonicenses. “Tanto o centenário como a Assembleia Ecuménica deverão ter mais impacto nas dioceses e nas Igrejas locais” – apelou. As preocupações ecuménicas deviam “entrar na catequese”. Os catecismos deveriam contemplar mais a dimensão ecuménica, mas “não basta o catecismo, era fundamental que a comunidade, o catequista e o responsável estejam atentos a estes aspectos” – disse D. Manuel Felício. Segundo o Directório para o Ecumenismo, as dioceses “deveriam ter um delegado para o ecumenismo” e que esteja a tento a outras expressões de vivência da fé. “É essencial promover o diálogo ecuménico” – sublinha o bispo da Guarda. Assinada em 2001, a Carta Ecuménica “está longe” de “ter sido recebida nos vários ambientes”. Um documento que aponta para várias questões contemporâneas: “Migrações, Diálogo Inter-religioso, Constituição da Europa e Minorias Étnicas” – salienta o prelado. Os cristãos têm que estar preocupados com a Europa porque ela “não se pode construir nas costas da Igreja nem nas costas da vivência cristã”. Ao longo do próximo ano, a CEDFE irá apostar “fortemente” nos conteúdos da Carta Ecuménica. D. Manuel Felício tem um percurso feito na área do ecumenismo. Ao avaliar os passos dados neste domínio, realça que “tivemos alguns momentos com mais impacto”. E avança: “temos de fazer um caminho lento e silencioso para sedimentar uma vivência ecuménica”. Em Portugal, o ecumenismo tem uma condicionante. “Tem uma Igreja maioritária, onde mais de 90% das pessoas se consideram católicas” – afirma o bispo da Guarda. O ecumenismo tem que passar a ser uma realidade de “vivência diária”. Na próxima Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos “vamos empenharmo-nos para que todas as comunidades tenham iniciativas ecuménicas”. Reconhecimento do Baptismo A Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Ecumenismo (CEDFE, católica) e o Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC) continuam a debater o reconhecimento mútuo dos baptismos nas Igrejas Católica, Presbiteriana, Metodista, Lusitana e Anglicana. As duas organizações discutem esta matéria há anos, mas como nem a CEDFE nem a COPIC assumem decisões em nome das suas Igrejas, nesta matéria, a questão está dependente da concordância das diversas comunidades religiosas. A Igreja Católica já deixou clara a orientação de que se avance no sentido do “reconhecimento mútuo”, seja no Directório para a aplicação dos princípios e das normas sobre o ecumenismo, seja nas intervenções do presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Walter Kasper. Esta decisão ultrapassa em muito o plano “burocrático” de se evitar um novo Baptismo, quando alguém decide mudar de Igreja. O decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II, “Unitatis Redintegratio”, lembra no seu n.º 3 que todos os cristãos “justificados no Baptismo pela fé, são incorporados a Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor.” João Paulo II, na sua encíclica sobre a Unidade dos Cristãos, “Ut Unum Sint”, assegura que o reconhecimento dessa fraternidade “não é a consequência de um filantropismo liberal ou de um vago espírito de família, mas está enraizado no reconhecimento do único Baptismo” (n.º 42). O “Directório para a aplicação dos princípios e das normas sobre o ecumenismo” pede explicitamente um reconhecimento recíproco e oficial dos Baptismos. Isto está muito para além de um simples acto de cortesia ecuménica e constitui uma afirmação básica na concepção do que é a Igreja. LFS/OC

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