Ecumenismo: Igrejas cristãs assumem projetos sociais em conjunto, fruto de «grande fraternidade» que constroem há 14 anos – Luís Parente Martins

Encontro Cristão, em Sintra, convida os participantes, na redição deste ano, a «Decidir Amar» num mundo polarizado

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 21 jan 2024 (Ecclesia) – Luís Parente Martins, da organização do Encontro Cristão, uma iniciativa que decorre há 14 edições e junta cristãos de diferentes Igrejas, diz que a relação “de grande fraternidade” que marca os participantes vai estender-se aos mais frágeis.

“Reunimos 11 instituições e vamos lançar o «Ponto de encontro», que passa por ajudar pessoas, que estão com dificuldades na vida, não só no conceito estritamente social, mas no conceito psicológico, pessoas que perderam o sentido de vida, pessoas que estão com dificuldade em pagar os empréstimos ao banco, pessoas que estão com dificuldades nos relacionamentos entre cônjuges, e vamos colocá-las em contcato com as instituições que melhor as podem ajudar. Esta será uma relação que acompanharemos e que queremos que faça a junção entre os cuidadores e quem precisa de ser cuidado”, valoriza o convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

O responsável recorda que este trabalho conjunto não é novo – “acolhemos conjuntamente refugiados durante dois anos” – e marca as consequencias práticas que a espiritualidade deve ter: “Este preocupar-se com o outro, viver com o outro, e quando nós fazemos esta proposta e a experimentamos, descobrimos que vale a pena este caminho, que este é um caminho válido”.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos decorre, desde o dia 18, até ao dia 25, com o tema «Amarás ao Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo».

O Encontro Cristão, marcado para o dia 27 de janeiro, no Centro Olga Cadaval, em Sinta, com o tema «Decidir Amar», marca a história de “cristãos” que se foram descobrindo a partir da aproximação de famílias.

“Nós somos o ecumenismo do povo, não somos o ecumenismo dos teólogos. Este ecumenismo e estas relações nasceram de um contexto familiar onde foram caindo muitos preconceitos que existiam entre Igrejas diferentes, onde as nossas famílias pertenciam. Descobrimos que, de facto, aquilo que nos unia, era Jesus Cristo. E, portanto, descobrir este Jesus Cristo, louvar este Jesus Cristo em comum e poder fazer um encontro onde mais cristãos pudessem fazê-lo, foi a iniciativa que lançámos há 14 anos”, recorda.

O encontro conta hoje com a participação do Conselho Português das Igrejas Cristãs, a Igreja Católica Romana, a Aliança Evangélica, que participa com as muitas comunidades que a integram.

Luís Parente Martins assinala a importância de, “no contexto atual, um contexto extremamente difícil”, cada pessoa “decidir amar e convidar outros a decidir amar”.

“Fico um bocadinho perplexo, porque quando Jesus Cristo, no Evangelho, diz que todos sejam um para que o mundo creia, e, portanto, faz depender a fé da unidade dos cristãos, esta frase não tem um impacto dentro das Igrejas, das comunidades. Mas tem em algumas minorias. E nós percebemos que, quando passamos da solidariedade a uma fraternidade, quando de facto nos conhecemos, quando de facto percebemos que temos diferenças, mas temos imenso cuidado em procurar aquela frase ou aquela iniciativa onde todos se sentem envolvidos. No fundo, é uma dinâmica sinodal”, valoriza.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

O médico cardiologista pede que, neste tempo pré-eleitoral, os cristãos “não desmoralizem”, percebam “os caminhos que cada um dos partidos propõe” e que estes se apresentem de forma “realista”.

“A participação cristã passa muito pela consciencialização e dinamização das comunidades cristãs de tal forma que cada um saiba dar razões da sua esperança. E ao dar razões da sua esperança, de facto, percebe que não pode haver incongruências. Eu acho que temos a graça de ter o Papa Francisco que orienta exatamente para a inclusão de todos, que orienta no sentido de fazermos este caminho”, valoriza, recordando ainda a forma como a voz do Papa é “escutada” noutras Igrejas cristãs.

Luís Parente Martins sublinha que importa cuidar de um compromisso que não separe “a alma da vida do quotidiano”, e afirma-se “preocupado” com um “misticismo que aflora em muitas circunstâncias” e não encontra consequências.

“Nós tivemos aqui um pico com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em que, de facto, houve um pico de entusiasmo, mas, há que dar continuidade à JMJ. A formação e valorização de pequenas comunidades, que fazem um caminho de discipulado em relação a Jesus Cristo, depois levam um empenho na sociedade”, indica.

O responsável valoriza ainda a “escuta do outro” que tem estado no centro do caminho sinodal da Igreja católica, recorda que as Igrejas cristãs, nomeadamente a Metodista e a Presbiteriana, têm marcas de sinodalidade – “mas é mais fácil fazer sínodo numa Igreja mais pequena do que numa Igreja maior” – e indica que este é um desafio a concretizar nas comunidades em geral.

LS

Médico cardiologista de profissão, Luís Parente Martins lamenta a “enorme falta de recursos” que o Serviço Nacional de Saúde tem atualmente.

“Eu trabalho no Centro Hospitalar de Lisboa Norte, e nós temos filas enormes tanto para as consultas como para as realizações dos exames complementares de diagnósticos. Antes da pandemia, éramos 20, agora somos quatro ou cinco. Portanto, há, de facto, no Hospital Pulido Valente, particularmente, um déficit, uma incapacidade da resposta”, lamenta.

Luís Parente Martins integra um projeto que procura levar, numa metodologia de cuidados paliativos, respostas a doentes cardiacos, e apela

“Apesar de sermos poucos, criámos há cinco anos, uma dinâmica, que se chama a Unidade Mais Sentido – e é uma coisa inovadora. Trata-se de prestação de cuidados, segundo a metodologia dos cuidados paliativos, profundamente relacional, com os doentes cardíacos, que beneficiam do cuidado e dos aspetos tecnicos. E nesta relação entre médico e doente, que envolve o cuidador, e em que nada é mérito nosso, é tudo mérito da metodologia dos cuidados paliativos, mas aplicado ao Serviço Nacional de Saúde é muito retribuinte”, valoriza.

“Apesar das dificuldades, nós vivemos a nossa missão e a nossa profissão com grande entusiasmo, porque percebemos que somos úteis e percebemos que as pessoas nos veem com grande utilidade”, acrescenta ainda.

 

 

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