Ecumenismo: Diálogo tem de levar em conta crescente pluralismo e novas pertenças religiosas

Teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira sublinha importância de compreender quem se apresenta como «não pertencente»

Lisboa, 23 jan 2016 (Ecclesia) – O teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), defende que o diálogo entre comunidades religiosas tem de levar em consideração as novas dinâmicas de pertença e de pluralismo numa sociedade em mudança.

“O lugar de mudança mais importante, sob o ponto de vista social, diz respeito à forma como as pessoas se estabelecem ou constroem a pertença religiosa”, refere o especialista, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Nesse sentido, recorda que muitas pessoas vão aos templos, mas outras não fazem, sem por isso deixar de “se reconhecerem, de alguma forma numa certa memória cristã”.

Alfredo Teixeira sublinha que grande parte das “metodologias de diálogo” estão “centradas entre o crente e o não crente”, “entre o crente de uma religião e o crente de outra”.

“O diálogo entre um crente que vive a sua fé numa forte experiência de vinculação comunitária e o diálogo com alguém que dispensa essa vinculação ainda não tem muitas pontes”, sustenta.

Nesse sentido, o investigador prefere falar em “não pertencente”, uma categoria que ultrapassa a noção de “não crente”.

“Muita gente encontra-se, subjetivamente, disposta para pensar uma determinada dimensão da existência humana que a ultrapassa e está para além da sua vida histórica”, precisa.

O coordenador-executivo do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP realça que o Cristianismo tem a pluralidade “inscrita no seu código genético”.

“A pluralidade sempre definiu o Cristianismo, mas, por vezes, essa pluralidade tornou-se conflitual. Nesse contexto, ela produziu famílias eclesiais diferentes que, historicamente, em muitos casos, permaneceram de costas voltadas”, assinala.

O especialista observa que as próprias culturas estão em transformação, o que exige uma aprendizagem por parte dos crentes, “porque o outro, do ponto de vista religioso, já não é alguém que está fora da fronteira, mas dentro dessa fronteira”.

“Se o Cristianismo é, culturalmente, esta marca da Europa, também é preciso dizer que a marca do nosso tempo é uma deslocação do centro da própria cristandade. A eleição do Papa Francisco é, a meu ver, no campo do catolicismo, um testemunho mais claro disso”, exemplifica.

O entrevistado analisa, por outro lado, o impacto do crescimento do islamismo, visto por muitos como “um lugar de destabilização de uma certa ordem internacional”.

“Não digo que o Islão mais conflitual é desestruturante. Ele é, no panorama geopolítico atual, usado por alguns grupos como emblema de conflito em relação ao Ocidente”, explica.

De forma genérica, analisa Alfredo Teixeira, o campo religioso está a “adaptar-se melhor” ao novo paradigma cultural do que as instituições do mundo político.

“As pessoas que trabalham numa paróquia percebem que têm de multiplicar os contextos de inscrição das pessoas. A velha paróquia de todos reunidos ao som do campanário, já não existe”, assevera.

Para o teólogo e antropólogo, há “comunidades biográficas”, que não se explicam apenas através da experiência coletiva, mas pelas “trajetórias individuais”.

A entrevista está em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, dedicado à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18-25 de janeiro).

LFS/OC

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