«Economia de Francisco»: Vaticano une-se às novas gerações para defender passagem da centralidade do lucro ao investimento nas pessoas

Conferência digital junta economistas, empresários, gestores e estudantes de 120 países, incluindo Portugal

Lisboa, 19nov 2020 (Ecclesia) – Jovens de 120 países, incluindo Portugal, uniram-se hoje à abertura da conferência global ‘A Economia de Francisco’, convocada pelo Papa, para um debate de três dias com economistas, empresários, gestores e estudantes.

O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), cardeal Peter Turkson, saudou esta “rede global de jovens líderes e promotores de mudança”, que desafiou a dar “uma alma à Economia do futuro”, para que esta seja “inclusiva, sustentável”, fraterna e ecológica.

O cardeal ganês citou o Papa para pedir trabalho mais digno, especialmente para as novas gerações, e modelos económicos mais equitativos.

O colaborador de Francisco destacou a necessidade de passar de um modelo centrado no lucro e especulação para uma “economia social que investe nas pessoas” e empresas capazes de “reconhecer a dignidade de cada indivíduo, independentemente do seu papel”.

A iniciativa, inicialmente marcada para março – e adiada por causa da pandemia – criou nos últimos meses uma plataforma mundial de reflexão e ação por uma economia “mais humana” e um futuro sustentável.

Stefano Zamagni, presidente da Academia Pontifícia das Ciências Sociais (Santa Sé), dirigiu-se aos participantes para pedir uma “aliança” capaz de mudar a economia e combater a “mentalidade do descarte e a globalização da indiferença” que o Papa tem denunciado.

O responsável realçou a importância de se trabalhar por um mundo mais “inclusivo”, mais humano, e um novo sistema financeiro, que inclua critérios sociais e ambientais, questionando uma visão reducionista do “valor”, entendido apenas como “preço de mercado”.

Na abertura dos trabalhos foi apresentada uma mensagem em vídeo preparada pelos jovens integrantes do movimento ‘ATD Quarto Mundo’ sobre “ouvir o grito dos mais pobres para transformar a terra”.

A intervenção apresentou projetos de valorização dos desempregados de longa duração e as pessoas excluídas do mundo laboral, para não deixar ninguém “à beira da estrada”.

Um dos testemunhos abordou a opção de viver com menos, falando numa “diminuição feliz”, que permite libertar recursos para as pessoas mais necessitadas.

A programação passou depois para o Santuário do Despojamento, em Assis, com momentos musicais e de espiritualidade, seguindo-se conferências dos jovens economistas e empresários, em diálogo com oradores internacionais.

Carlos Lemos, médico português, participou na conferência ‘Inteligência Artificial: como enfrentar a desigualdade socioeconómica?’, abordando o papel da tecnologia no campo da saúde, para sublinhar que “deve haver sempre um humano” presente na tomada de decisão.

O convidado admitiu que o recurso à inteligência artificial possa libertar os médicos para centrar a atenção em tarefas que “só os humanos podem fazer”, com maior atenção aos pacientes, apelando à criação de um “quadro ético” específico.

A Santa Sé destaca que, entre hoje e sábado, “jovens, economistas, empresários e ativistas de todo o mundo são convidados a refletir juntos para assinar um pacto intergeracional que visa mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã, para que esta seja mais justa, inclusiva e sustentável”.

O Papa assinalou o início dos trabalhos com uma mensagem publicada através da sua conta noTwitter: “A terra e os seus pobres têm urgente necessidade de uma economia saudável e de um desenvolvimento sustentável. Por isso, somos chamados a rever os nossos esquemas mentais e morais, para que estejam em conformidade com os mandamentos de Deus e com as exigências do bem comum”.

O programa prevê uma série de intervenções, “que vão da alegria de viver melhor às finanças e à Inteligência Artificial”, com transmissão através do site francescoeconomy.org.

Entre os palestrantes estão Muhammad Yunus (Bangladesh), economista e Banqueiro, considerado o pai do microcrédito, prémio Nobel da Paz em 2006; Jennifer Nedelsky (Canadá), filósofa e professora na Universidade de Toronto; Vandana Shiva (Índia), ativista ambiental, membro do conselho do Fórum Internacional sobre Globalização.

A preparação do encontro promovido pelo Papa e a participação de Portugal envolveu as escolas e associações de negócios portuguesas, nomeadamente a ACEGE-Associação Cristã de Empregados e Gestores; as faculdades de economia e gestão da Nova e da Universidade Católica Portuguesa e a AESE Business School; o projeto “Economia de Comunhão”, do Movimento dos Focolares; e a Comissão Nacional Justiça e Paz.

OC

 

«Economia de Francisco»: Crise socioambiental «complexa» tem de ser resolvida numa «perspetiva integral» – Rita Sacramento Monteiro (c/vídeo)

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