«Economia de Francisco»: Crises humanas criaram «pandemia da Covid-19»

Especialistas apelam ao regresso aos «limites da terra» e reconhecem sinais de esperança

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Lisboa, 21 nov 2020 (Ecclesia) – A sessão da Economia de Francisco dedicada ao tema ‘Somos todos países de desenvolvimento’ indicou hoje que a Covid-19 é resultado de crises humanas, pedindo medidas concertadas para um sistema económico ao serviço do bem.

Kate Raworth, economista da Universidade de Oxford, começou por relembrar que as “diversas crises económicas” pelas quais as sociedades têm passado, a de 2008, “que destruiu a segurança”, “a questão climática que causou inundações e ciclos em países pobres”, demonstram que “todos estão interligados com o mundo vivente”.

“Estas crises nascem das crises que criamos, das finanças, da exploração dos recursos e da expansão da humanidade, criamos um vírus que causou uma pandemia global”, indicou.

A economista relembrou que “11% do mundo não tem o que comer” e apontou a necessidade de “voltar aos confins planetários”.

“O planeta acolhe a vida, somos loucos se destruímos as condições que acolhem a vida. É importante garantir a prioridades das pessoas mas dentro dos limites planetários. O desafio é que estamos muito distantes do equilíbrio”, apontou.

A especialista partiu de três exemplos, Ruanda, Brasil e EUA para mostrar as diferenças na exploração dos recursos naturais e na qualidade de vida.

“Os países não vivem realidade separadas, mas interligadas entre si. A história mostra que os países exploradores poluíram e exploraram outros países e os excluiriam de atingir o bem-estar, com dívidas e regras comerciais que extrapolaram esses recursos, com o impacto das alterações climáticas. São os países de baixa renda que pagam isso”, evidenciou.

O ativista e consultor John Perkins evidenciou o consumo do sistema económico ao extremo, a caminho de um ponto sem retorno.

“Maximizamos lucros e o consumo das pessoas. O resto do mundo pode cair – é a filosofia do que acontece agora. A destruição do meio ambiente com a criação de produtos que destroem. O coronavirus surge nesse contexto”, assinalou.

O responsável evidenciou a importância de “investir nas coisas certas” e mostrou “que o entusiasmo acontece porque existem mudanças em curso de “maximização dos lucros e consumo a pensar numa nova abordagem de respeito pela natureza que conduza a um mundo melhor”.

John Perkins falou em sinais de esperança que encontrou “em viagens antes da pandemia”, “pessoas que querem mudar o mundo. O vírus leva-nos a um reconhecimento de uma responsabilidade global”.

Numa partilha das várias aldeias de trabalho foi sugerido um maior investimento na educação para todos, “a começar pelas escolas primárias” e também uma linha de educação cooperativa entre “o Afeganistão e os Estados Unidos da América”, por exemplo.

Foi sugerido que as agências internacionais pudessem ser “incubadoras de novas formas de negócios entre empresários com atividades locais”, para partilhar boas práticas.

Uma sugestão partilhada foi ao encontro da necessidade de uma maior transparência nos produtos produzidos, “com etiquetas de proveniência, não apenas no setor alimentar, mas também sobre o impacto socioambiental que cada produto pode ter”, combatendo, desta forma, “a crise climática, promovendo a transparência”.

Foi também pedido um “preço justo” para os produtos agrícolas e um “reforço no mercado para o consumo do que é local”, contribuindo para uma economia de pessoas; outra aldeia sugeriu, nesta linha, a criação de uma rede internacional que “proteja os agricultores e produtores para garantir o respeito pelos seus direitos”.

Uma das aldeias sugeriu que 30% dos espaços publicitários poderiam “promover a sustentabilidade” e desta forma “inspirar as pessoas no mundo a superar desafios globais e a optar por comportamentos sustentáveis”.

Os participantes de outra aldeia refletiram sobre a importância do local onde se trabalha e nesse sentido, a necessidade de se criar um ambiente de paz, por exemplo, através de fotografias e escritos.

A conferência global sobre “A Economia de Francisco” conta com a participação de mais de 2 mil jovens, de 120 países, incluindo Portugal, e decorre online.

LS

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