Francisco recordou percurso de mudança pessoal desde 2006 até escrever a encíclica «Laudato Si»
Cidade do Vaticano, 04 set 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco recebeu um grupo de leigos franceses empenhados na causa ecológica e afirmou a importância das iniciativas que procuram influenciar as “escolhas políticas e económicas”.
“A Igreja Católica pretende participar plenamente do compromisso pela proteção da Casa Comum. Ela não tem soluções prontas para propor e não ignora as dificuldades das questões técnicas, económicas e políticas em jogo, nem de todos os esforços que esse compromisso implica. Mas a Igreja quer agir concretamente onde isso é possível e, sobretudo, quer formar consciências a fim de promover uma profunda e duradoura conversão ecológica, que sozinha é capaz de responder aos importantes desafios que devemos enfrentar”, afirmou ao grupo de leigos, onde se inclui a atriz Juliete Binoche e o presidente da Conferência Episcopal francesa, recebidos em audiência no Vaticano,
No encontro, divulgado pela Sala de imprensa esta quinta-feira, o Papa Francisco falou de forma informal para recordar o processo de conversão ecológica pelo qual passou, uma vez que, recordou, “antes não entendia nada”.
“Em 2006, houve a Conferência do Episcopado Latino-Americano no Brasil, em Aparecida. Eu estava no grupo de redatores do documento final e chegavam propostas sobre a Amazónia. Eu dizia: «Mas estes brasileiros, como cansam com esta Amazónia! O que a Amazónia tem a ver com a evangelização?”. Esse era eu, em 2006. Então, em 2015, eu publiquei a «Laudato sí». Eu tive um caminho de conversão, para entender o problema ecológico”, recordou aos presentes.
Ao assumir o “caminho de conversão” pelo qual passou, Francisco indicou a importância de “todos fazerem esse percurso”.
O Papa pediu aos cristãos para “não perderem a esperança”, mesmo que as condições do planeta “possam parecer catastróficas e, em certas situações, até mesmo irreversíveis”.
“As convicções de fé oferecem aos cristãos uma grande motivação para proteger a natureza”, indicou, mantendo a certeza de que a “ciência e a fé podem desenvolver um diálogo intenso e frutífero” para mitigar as graves consequências, “não apenas nas questões ambientais, mas também sociais e humanas”.
Apesar da “lentidão”, Francisco acredita que “diferentes iniciativas” a decorrer em diversos pontos do mundo podem “influenciar” as políticas económicas e sociais.
Viver em “em harmonia na justiça, na paz e na fraternidade, ideal evangélico proposto por Jesus”, e considerar a natureza, não como um “objeto de lucro e de interesses”, com consequências nas desigualdades e no sofrimento humano, é o caminho proposto.
“É a mesma indiferença, o mesmo egoísmo, a mesma ganância, o mesmo orgulho, a mesma pretensão de ser o dono e o déspota do mundo que levam o ser humano, por um lado, a destruir espécies e a saquear os recursos naturais; por outro lado, a explorar a miséria, abusar do trabalho de mulheres e crianças, a derrubar as leis da célula familiar, a não respeitar mais o direito à vida humana desde a conceção até o fim natural”, indica.
Francisco afirmou ainda a necessidade de reflexão profunda sobre as “relações humanas e a modernidade”, que possa desencadear, depois, em ações de proteção da Casa Comum.
“Não haverá nova relação com a natureza sem um ser humano novo, e é curando o coração do homem que se pode esperar curar o mundo das suas desordens, tanto sociais como ambientais”, reconheceu.
O viver bem, indicou, “é viver em harmonia com a criação”, e importa resgatar esta “sabedoria” com os “povos originais”.
“Nós perdemos esta sabedoria de viver bem. Os povos originais abrem-nos esta porta aberta. E alguns idosos dos povos originais do Canadá Ocidental reclamam que os seus netos vão para a cidade e esquecem suas raízes, adaptando-se à modernidade. E este esquecimento das raízes é um drama não só dos aborígenes, mas da cultura contemporânea”, lamentou.
O Papa assinalou o facto de o quinto aniversário da publicação da encíclica «Laudato Si», tenha acontecido em contexto de pandemia, sendo ocasião para rever atitudes “dominantes, consumistas e exploradoras” perante o ambiente.
Na delegação francesa, composta por 15 pessoas, estava D. Éric de Moulins-Beaufort, presidente da conferência episcopal francesa.
LS