Ecologia: Humildade e diálogo ecuménico são caminho para conversão ambiental

«Os mais pobres e mais vulneráveis, que são os que mais guardam e menos contribuíram para estas alterações, têm muito a ensinar-nos», assinala Margarida Alvim

Lisboa, 31 ago 2019 (Ecclesia) – O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação, que se assinala este domingo, mostra o necessário trabalho “ecuménico” que a todos deve envolver, sustenta Margarida Alvim, da Rede Casa Comum.

“O cuidado está ligado à palavra relação, e a primeira relação que o Papa Francisco faz é com os irmãos ortodoxos, (que assinalam este dia desde 1989) e daí o reconhecimento humilde do trabalho que outros têm feito e que nós, católicos, talvez tenhamos vindo a perder esta consciência”, afirma à Agência ECCLESIA a também responsável da associação Casa Velha, Ecologia e Espiritualidade.

O Papa Francisco propôs que a Igreja Católica assinale anualmente o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação em 2015, meses depois de ter assinado a encíclica «Laudato Si», na qual pede aos cristãos que concretizem a Doutrina Social da Igreja e os seus valores no campo da ecologia.

Para Margarida Alvim, o grande desafio do Papa é a tomada de consciência da “relação com Deus, com os outros e consigo próprio a que todo o ser humano é chamado” e que, “em algum ponto da sua vida quebrou”.

“Os mais pobres e mais vulneráveis, que são os que mais guardam e menos contribuíram para estas alterações, têm muito a ensinar-nos, se assim acolhermos a esta relação justa, saudável, sustentável com a terra que nos sustenta”, assinala.

O mês da criação decorre de 1 de setembro a 4 de outubro – data em que se assinala a memória litúrgica de São Francisco de Assis; para além de uma necessária “reflexão”, quer propor mudanças práticas.

O nosso estilo de vida foi mudando: a nível mundial vemos o êxodo para as cidades, grande parte dos mais pobres estão nas periferias das cidades, fugiram de situações de desequilíbrio das áreas rurais, mas não estão mais equilibrados nas áreas urbanas. E neste «salve-se quem puder» não temos tempo para cuidarmos juntos”.

Margarida Alvim, presidente da direção da Associação Casa Velha afirma que a ecologia e o combate às alterações climáticas não podem ficar reféns da política.

“Para os cristãos trata-se de uma ecologia integral, que passa por todas as dimensões da vida, não só minhas, mas de todos”, sublinha.

Procurando valorizar os “pequenos gestos”, sinais de esperança na vida diária, a entrevistada explica que o caminho é construído “com pequenas coisas”.

“A atitude gratuita de ir a passar numa estrada e ver plástico, será que apanhamos? Trata-se de um olhar de esperança, positivo, e de como valorizamos o pequeno, as pequenas soluções”, indica.

Recentemente regressada das Filipinas, onde esteve a participar num workshop «Laudato Si», a convite dos jesuítas da conferência Ásia/Pacifico, sobre «espiritualidade para a ação», Margarida Alvim encontrou uma “profunda ligação à terra”.

“Fomos convidados a ouvir jovens e crianças a contarem como cuidam das árvores, como sabem as que cortar, num projeto educativo desenvolvido na própria comunidade”, recorda.

A comunidade, “onde vivem cerca de 200 crianças e jovens, são acompanhadas há mais de 30 anos” pelo jesuíta Pedro Wolpole, que depois de um período de desflorestação conseguiu “angariar terra” e desenvolver “um projeto educativo baseado na cultura”.

“Encontrei uma relação profunda com a terra, de um cuidado tão profundo que nos marca.

Fomos convidado a olhar a terra a partir dos mais vulneráveis, e estávamos no sítio certo, no meio das montanhas, e fomos convidados a ouvir os jovens. Foi um exercício de escutar, de olhar e perceber como isso nos desafia”, assinala.

Presentes no workshop estavam também organizações da sociedade civil que, explica Margarida Alvim, “sentiram necessidade de um horizonte espiritual para desenvolverem o trabalho que fazem”.

Com o aproximar do início do Sínodo especial para a Amazónia, que vai decorrer de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, cresce a expetativa de valorização e “reforço” do olhar para as periferias num “tempo e espaço de diálogo que não existia com os líderes indígenas e os católicos”, frisa.

“Somos muito rápidos a oferecer religião às pessoas, mas não fazemos um caminho espiritual; não fazemos nós, nem fazemos com as pessoas, e um caminho de relação, no caso dos cristãos, com Jesus”, indica Margarida Alvim.

O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação vai estar em destaque no programa Ecclesia, na Antena 1, este domingo, a partir das 06h00.

LS

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