Dume será centro de estudo das igrejas cristãs antigas

A freguesia de São Martinho de Dume deverá tornar- se a prazo num dos centros mundiais de visita e de investigação das igrejas cristãs antigas, tendo por base os vestígios arqueológicos da basílica sueva, datada do século VI, que foram ali encontrados desde que em 1987 o local começou a ser alvo de escavações dirigidas pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. Esta é a principal esperança do arqueólogo Luís Fontes, que ao longo deste tempo tem dirigido os trabalhos de prospecção no local, e que deu anteontem à noite uma conferência sobre os “Achados Arqueológicos de Dume”, no auditório da Junta de Freguesia. A palestra faz parte da Semana Cultural da Paróquia de Dume, que decorre até domingo e pretendia «desenvolver o gosto dos dumienses pelo seu património». Luís Fontes frisou que os habitantes da terra devem tornar-se nos «primeiros defensores dos seus achados arqueológicos únicos », que passarão a assumir uma relevância superior quando se concretizar a transferência do túmulo de S. Martinho para Dume – de onde foi retirado em 1919, estando actualmente no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa – e que deverá acontecer quando estiver concluído um edifício já em construção para o efeito, que se prevê que fique pronto no próximo ano. O sarcófago de Dume, datado dos finais do século XI ou inícios do século XII, é considerado «a mais importante peça escultórica funerária da Alta Idade Média em Portugal», tanto pela sua «riqueza iconográfica como pela reconhecida qualidade escultórica», apresentando, numa lateral, S. Martinho ladeado pela sua comunidade monástica e, na tampa, Cristo Redentor elevado ao céu com quatro figuras aladas, que se pensa representarem os quatro evangelistas. Igreja sueva Tão ou mais importante que o túmulo do fundador do Mosteiro de São Martinho de Dume é a própria basílica, mandada edificar, aproximadamente por volta do anos 550, pelo rei suevo Carrarico, em agradecimento a S. Martinho pela cura do seu filho Teodomiro. «É um templo fantástico, que foi depois ampliado entre os séculos X e XI, mas que era já maior do que a igreja actual», pois media cerca de 30 metros de comprimento por vinte de largura, notou o arqueólogo, chamando a atenção para o facto dos arcos-cruzeiro terem-se mantido sempre no mesmo lugar nas sucessivas reconstruções. No futuro, o objectivo é criar uma nova centralidade cultural com um circuito subterrâneo de visita, que inclua a vila e balneário romanos, do século I d.C. encontrados em terrenos contíguos, a necrópole e as ruínas dos mosteiros dos séc. VI e X/XI. O projecto passa pela construção de uma ligação entre o edifício que vai acolher o túmulo, que passe por baixo da igreja e da capela da Senhora do Rosário e desague entre a actual igreja e a rua. S. Martinho fez de Dume o centro cultural de toda esta região, sendo no seu mosteiro que se traduziram as primeiras obras clássicas de maior importância e se fez brilhar a cultura como instrumento de valorização dos povos, sendo que as suas obras «são hoje estudadas por todo o mundo», notou Luís Fontes, referindo que tem recebido vários contactos de especialistas internacionais interessados em saber mais sobre Dume e em visitar o local, mas tal ainda não é possível. O arqueólogo da Universidade do Minho manifestou- se confiante que a vinda do túmulo para Dume, que constitui «uma vitória irrepetível», mas mostrou algumas reservas sobre o retorno dos demais achados que estão no mesmo Museu de Arqueologia em Braga. Apesar da vontade e pressa manifestada pelo autarca Constantino Caldas, Luís Fontes também não se comprometeu com a abertura do circuito de visitas subterrâneo aquando da transferência do túmulo, pois isso «exige ainda um trabalho arqueológico algo demorado».

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