Douro: Sacerdotes alertam para drama «socioeconómico» dos pequenos e médios viticultores

Atuação desregulada das «grandes empresas» está a deixar muitos produtores na «miséria»

Vila Real, 17 set 2014 (Ecclesia) – Os párocos da região pastoral do Douro I, na Diocese de Vila Real, dizem que o Governo “não pode ficar de braços cruzados” diante da crise socioeconómica que está a afetar os pequenos e médios viticultores locais.

Numa carta enviada hoje à Agência ECCLESIA, os sacerdotes que servem as freguesias dos concelhos de Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião frisam que “existem casos” de produtores “em que o resultado da colheita não dá para as despesas da vindima”.

Em causa está sobretudo a falta de “medidas” que protejam os pequenos e médios viticultores face à atuação das “grandes empresas de comercialização”, que “dominam cada vez mais o mercado, tanto externo como interno”.

O relacionamento entre as duas partes, na região demarcada do Douro, é “cada vez mais desigual”, sublinham os párocos, e “o luxo protegido dos mais poderosos” contrasta “com a miséria e as lágrimas da maioria dos que ali residem e fazem vida”.

Entre outras práticas, as grandes empresas “aumentam áreas de plantio de vinha, com garantia das melhores letras de benefício, e impõem no mercado livre o preço que querem, quer no vinho de mesa, quer no vinho tratado”.

Só na última década, “o preço dos vinhos para os pequenos e médios viticultores diminuiu mais de cinquenta por cento”, enquanto “as despesas no cultivo foram sempre aumentando”, acrescentam os responsáveis católicos.

Por outro lado, as instituições “ligadas” aos pequenos produtores, como as adegas cooperativas, “entraram, por multiplicas razões, em crise financeira” e outros organismos foram pura e simplesmente extintos.

Os párocos da região pastoral do Douro I dão como exemplo a extinção da Casa do Douro, que era desde há mais de 80 anos “o sustentáculo dos produtores de vinho da região” e a passagem das suas “atribuições” para “um organismo do Estado”, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).

“Acabar com a Casa do Douro não terá sido uma violação do princípio fundamental de uma sociedade democrática que deve respeitar as instituições de base e associações intermédias, como é o princípio da subsidiariedade?”, questionam.

Os responsáveis católicos dizem que é essencial esclarecer melhor também a forma como a Casa do Douro irá passar de uma associação de direito público, de inscrição obrigatória, para uma associação de direito privado, de inscrição voluntária.

Que “interesses” irá defender e “quais são os seus objetivos”, de modo a que esse organismo possa “motivar os interesses de todos, sobretudo dos mais frágeis”.

Em termos das políticas comunitárias, consideram incompreensível “aquando da entrada de Portugal no Mercado Comum Europeu”, que não se tenha procurado “ salvaguardar as prerrogativas da Região Demarcada do Douro, que tem mais de duzentos anos”.

“Outras nações o fizeram, na defesa das suas instituições e regiões”, recordam os sacerdotes.

JCP

notícia corrigida no dia 18.09.2014

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