Discurso de abertura de D. Manuel Clemente na 196.ª Assembleia Plenária da CEP

  1. Saúdo cordialmente a todos os presentes nesta Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, com sentimentos próprios da alegria pascal que mais uma vez recebemos e compartilhamos. É com esses sentimentos que levamos por diante o serviço eclesial que nos incumbe, em prol duma Igreja que reflita sempre mais a Luz que recebe do seu Senhor e Mestre.

Desde a nossa última Assembleia deu-se a mudança na Diocese do Funchal, com a jubilação de D. António Carrilho e a nomeação de D. Nuno Brás. Ao primeiro agradecemos o muito trabalho feito, estando certos da sua colaboração nesta Conferência em que se mantém. Ao segundo desejamos as maiores felicidades pastorais no novo serviço que o Santo Padre lhe confiou.

Também na Madeira faleceu, entretanto, D. Maurílio Quintal de Gouveia, arcebispo emérito de Évora, que por tantos anos serviu a Igreja em Portugal e esta Conferência, em vários cargos. Deus o recompensa agora por tão fecundo ministério.

No passado mês de março foi nomeado D. Américo Aguiar para Bispo Auxiliar de Lisboa: também a ele desejamos um feliz serviço episcopal, com especial aplicação à preparação da Jornada Mundial da Juventude 2022, na responsabilidade central que compartilha com D. Joaquim Mendes e comigo.

Refiro ainda a próxima jubilação de D. Rino Passigato, Núncio Apostólico em Portugal, sendo esta a última Assembleia Plenária da CEP em que nos dá o gosto da sua presença. Agradeço o acompanhamento constante que nos tem prestado, trazendo-nos, também deste modo, a presença do Santo Padre e a estreita ligação à Sé de Pedro. Muitas felicidades, Senhor D. Rino, para a sua futura vida pessoal e eclesial.

 

 

  1. Como habitualmente, boa parte da Assembleia será dedicada à apresentação sucinta e à escuta atenta dos trabalhos levados por diante pelas Comissões Episcopais e o Secretariado Geral, órgãos executivos da CEP no apoio às nossas Dioceses. É seguindo esses trabalhos que melhor se pode compreender a ação pastoral da Igreja em Portugal, no que se faz a nível interdiocesano. Por aqui passa também a sinodalidade em que o Papa Francisco tanto insiste.

Seguindo a vida da Igreja universal, refiro necessariamente três acontecimentos: Em janeiro passado, a Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Santo Padre no Panamá, onde foi anunciada a realização da próxima em Lisboa, no Verão de 2022.

 

Em fevereiro, o encontro em Roma sobre “A proteção dos menores na Igreja”, em que participei como Presidente da CEP. Acolhemos inteiramente tudo quanto o Santo Padre decidiu e decida neste campo. Como aliás o vimos fazendo, também no seguimento do que estabelecemos em 2012.

Em 25 de março saiu a exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit, dirigida “aos jovens e a todo o Povo de Deus”, na sequência da última assembleia sinodal, que refletiu sobre a realidade juvenil na Igreja e no mundo – e da Igreja para o mundo, com a projeção missionária que o Papa Francisco sempre refere.

 

 

  1. Pela particular relevância que tem para nós em Portugal, já no horizonte da próxima Jornada Mundial da Juventude, chamo a atenção para o capítulo VII da exortação apostólica, intitulado A pastoral dos jovens.

Diz-nos o Papa que «a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas de ação. Uma é a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência» (CV, 209).

Em qualquer destas linhas destaca o protagonismo dos próprios jovens: «Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. […] Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio [de Cristo vivo] pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem» (CV, 210).

Sobre a segunda linha, escreve o Papa: «Quanto ao crescimento, quero fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou o seu coração, propõe-se-lhes encontros de “formação” onde se abordam apenas questões doutrinais e morais. […] Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos» (CV, 212).

A observação retoma para a pastoral juvenil o que o Papa Francisco nos tem dito sobre a evangelização em geral. Baseia-se esta na experiência existencial do encontro com Cristo, que levará, essa sim, a conhecê-Lo melhor e a viver segundo os seus ensinamentos. Explicita: «Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço» (CV, 213). Retomando, mais à frente, depois de mencionar vários meios e oportunidades pastorais: «Mas nunca se deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie de “doutrinação”» (CV, 214).

Duas razões me levaram a destacar este ponto. Primeiro, pela relevância das indicações pontifícias, concretamente na pastoral juvenil. Depois, por elas esclarecerem e reforçarem o como e o porquê da realização da próxima Jornada Mundial da Juventude entre nós.

Há vários anos que na CEP e fora dela se falava de tal possibilidade e aspiração. O mais determinante foi, porém, o crescente desejo de tantos jovens católicos, militantes em comunidades e movimentos, para que tal acontecesse mesmo e a partir do seu próprio dinamismo e compromisso.

Na verdade, quem estiver atento ao que acontece entre as realidades juvenis católicas, dentro e fora do meio estudantil, com ligações internacionais (JMJ, Taizé, etc.) e em ações missionárias (Missão País e outras) e de voluntariado, dentro e fora de Portugal, compreenderá que aí mesmo reside a base e o impulso para o que acontecerá com os jovens e para os jovens, de Portugal e do vasto mundo católico que aqui se fará presente.

Posso também acrescentar que as indicações do Papa Francisco, que acima citei, me foram resumidas por ele próprio na audiência concedida a propósito da JMJ 2022: que sejam de evangelização ativa e missionária por parte dos jovens, que assim mesmo reconhecerão e testemunharão a presença de Cristo vivo.

 

 

  1. Além doutros pontos agendados, trabalharemos especialmente dois. Primeiramente, a preparação para o matrimónio, na sequência da exortação apostólica Amoris Laetitia, e o acompanhamento dos casais jovens. Como diz a proposta de Carta Pastoral, trata-se de «aprofundar a alegria que o sacramento do matrimónio e a constituição de uma família podem proporcionar na vida de cada pessoa e da sociedade em geral», bem como, «apresentar as razões e os motivos para se optar pelo matrimónio e pela família, de modo que as pessoas estejam melhor preparadas para responder à graça que Deus lhes oferece (AL, 35)».

Compartilhando a convicção do Papa Francisco, de que «tanto a pastoral pré-matrimonial como a matrimonial devem ser, antes de mais nada, uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam elementos que ajudem quer a amadurecer o amor quer a superar os momentos duros» (AL, 211), inclui-se uma série de indicações necessárias e práticas para a preparação do matrimónio, atinentes à maturidade e ao relacionamento mútuo; ao projeto familiar, ao respetivo amadurecimento e à superação de conflitos; à comunidade cristã como lugar de entreajuda e celebração familiar; à doutrina sobre o sacramento, suas propriedades e fins.

Na sociocultura envolvente há muita contradição com a proposta matrimonial e familiar cristã. Por isso – como quando há dois milénios começámos – importa que esta seja claramente apresentada aos que desejam segui-la.

Apreciaremos também outra proposta de Carta Pastoral, de indesmentível oportunidade. Trata-se de «um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da Doutrina Social da Igreja». Importante sempre como discernimento evangélico da realidade, apresenta-se como súmula aplicável a vários aspetos da atualidade portuguesa e europeia.

Tal discernimento é feito a partir de alguns critérios essenciais, inspirados no modo como Jesus Cristo olhou a realidade do seu tempo e se pronunciou sobre ela. Constituem os princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja (cf. o número 160 do respetivo Compêndio).

É à sua luz que a proposta olha a realidade que mais diretamente nos toca, da defesa da vida, dos nascituros aos idosos; das condições materiais e laborais que a garantam e à liberdade religiosa; das obrigações de cada cidadão para o bem comum de todos, sem alheamento nem corrução; dos migrantes, seus direitos e contributos; do direito à propriedade privada ao destino universal dos bens; da ecologia à solidariedade intergeracional; do indispensável papel do Estado à sua subsidiariedade em relação às iniciativas dos cidadãos e dos grupos, no campo educativo e social.

Estes e outros pontos são vistos à luz da Doutrina Social da Igreja, e apresentados como contribuição para os momentos eleitorais que se seguem na União Europeia e no nosso País. Cristãos e outras pessoas que se revejam no Evangelho de Cristo não deixarão de os ter em conta.

Mais assuntos agendados preencherão a Assembleia que começamos. Deus nos acompanhe e inspire no serviço que queremos prestar à Igreja e à sociedade que integramos.

 

Fátima, 29 de abril de 2019

D. Manuel Clemente, presidente da CEP

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