Diálogo inter-religioso: Vaticano afasta hipótese de rutura com judeus por causa da aproximação à Fraternidade São Pio X

Igreja mantém declaração que «deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo»

Cidade do Vaticano, 08 nov 2012 (Ecclesia) – O Vaticano afastou hoje a possibilidade de a eventual readmissão da Fraternidade Sacerdotal São Pio X na Igreja Católica implicar uma rutura face ao judaísmo.

“Os judeus temiam que, através de um eventual ato de reintegração de uma série de sacerdotes e crentes com tendências antijudaicas”, a Igreja desse “uma nova orientação ao diálogo com o judaísmo”, refere o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal suíço D. Kurt Koch, em artigo publicado hoje no site do jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano.

O regresso da Fraternidade à Igreja levanta a questão da “importância” e “legitimidade” do número 4 da declaração “Nostra Aetate”, aprovada durante o Concílio Vaticano II (1962-1965), onde se lê que a Igreja “deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo”.

“Perante os judeus, o Santo Padre encarregou-me de apresentar a questão de forma correta:‘A «Nostra Aetate» não é minimamente posta em questão pelo magistério da Igreja, como o próprio Papa várias vezes demonstrou com os seus discursos, escritos e gestos pessoais em relação ao judaísmo”, frisa o texto.

O pronunciamento do prelado, feito na qualidade de responsável da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, organismo integrado no Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, sublinha ainda que a aproximação à Fraternidade São Pio X não significa que as suas posições “sejam aceites ou apoiadas”.

Referindo-se aos receios de uma eventual relativização da ‘Nostra Aetate’, D. Kurt Koch lembra que “o Papa Bento XVI deixou bem claro desde o início do seu pontificado que subscreve plenamente o Concílio Vaticano II e os seus documentos”.

O Vaticano revelou a 27 de outubro que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada por D. Marcel Lefèbvre (1905-1991), pediu “mais tempo” para responder à proposta de reintegração feita pelo Vaticano.

A Congregação para a Doutrina da Fé, da Igreja Católica, propôs à Fraternidade a criação de uma prelatura pessoal, estrutura que já existe no caso do Opus Dei.

“O atual estado das discussões entre a Santa Sé e a Fraternidade Sacerdotal é fruto de três anos de diálogo doutrinal e teológico, durante os quais uma comissão conjunta se reuniu por oito vezes para estudar e debater, entre outras questões, alguns pontos controversos na interpretação de certos documentos do Concílio Vaticano II”, revela o comunicado divulgado em outubro pela Igreja Católica.

RJM/OC

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