«Não me via em casa, completamente fechada, sem ter com quem falar» – Maria Joaquina
Santarém, 22 jul 2022 (Ecclesia) – O projeto ‘Semear Afetos’, do Centro Social Paroquial de Santa Margarida de Abrã (Santarém), promove o “envelhecimento ativo e feliz” das ‘Avós de Afetos’, através de ateliês variados, passeio e contacto intergeracional.
“Como estou sozinha em casa, tenho um filho mas trabalha e só vem à noite, é um convívio com elas todas para passar melhor o tempo, porque em casa fechada, quem esteve sempre habituada a sair e a ter uma atividade, é difícil, é muito difícil”, disse Maria Joaquina, professora reformada, em declarações à Agência ECCLESIA.
O projeto de empreendedorismo social ‘Semear Afetos’ promove o envelhecimento ativo e feliz, capacitando os idosos a partir das suas “artes, histórias de vida e sabedoria”, precisa o centro.
“Eu gosto, ando aqui há mais de sete anos”, relata Maria Armanda, uma das utentes “mais velhas” deste projeto, destacando a importância do “convívio”, porque conversam “todas umas com as outras”.
“Fazemos de conta que somos todas irmãs, não há o mínimo de nada que se chateie, nada. E, às vezes, quando uma está uns dias sem vir depois é uma festa. São logo aquelas saudades”, indica a antiga comerciante de sapatos que estava a “fazer um saco para as compras”, em tecido, porque não fazem “nada de plástico”.
Telma Martins, animadora sociocultural, contextualiza que o projeto nasceu para “combater” o problema do isolamento social na região, e criaram este grupo que tem “diversas atividades ao longo da semana, todos os dias”.
“Partilham os seus saberes uns com os outros, mas também as vivências, as memórias, as atividades e brincadeiras que tinham, as marotices. É muito engraçado. Nós rimos e aprendemos muito com o nosso grupo de ‘Avós de Afetos’”, acrescenta.
A educadora social Inês Lopes apresenta o ateliê de estimulação cognitiva, com “alguns exercícios e jogos”; o ateliê de ginástica e o de informática; o ateliê de costura e bordados, onde as utentes “aplicam muitos conhecimentos” que possuem no croché e na costura.
“Eles dizem que antigamente aprendiam muito novas, e muito do que fazem somos nós que aprendemos”, realça, indicando que também dinamizam passeios e atividades intergeracionais com as crianças da creche e do ATL.
Há ainda uma parceria para o “cabeleireiro, pedicure e estética”, para além da ida com os idosos “ao Posto Médico, à farmácia, e à vacinação em Santarém”.
No dia da reportagem da Agência ECCLESIA, as ‘Avós de Afetos’ estavam no ateliê de costura e bordados.
“Ao mesmo tempo é uma distração. Fazemos e temos orgulho em ver todas estas coisas que foram feitas por nós. Isto desaparece, é vendido, procuramos fazer os que são mais vendidos, e temos encomendas. É gratificante”, salientou Maria Joaquina.
Segundo a professora reformada, a “gente nova, que gosta de ter mas não sabe fazer, dá muito valor a estas coisas”, por isso, precisam ter “continuadoras para que não pare”.
A entrevistada explica que no centro social paroquial não tem antigos alunos, “mas em Abrã a maior parte foram todos” seus alunos, e teve “netos, os filhos dos alunos”.
A reportagem no Centro Social Paroquial de Santa Margarida de Abrã integra o programa ‘70X7’ deste domingo, que vai ser transmitido pelas 07h30, na RTP2.
A Igreja Católica assinala a 24 de julho o II Dia Mundial dos Avós e Idosos, celebração promovida pela Santa Sé, por iniciativa do Papa Francisco, no quarto domingo de julho, junto à festa litúrgica de São Joaquim e Santa Ana (26 de julho), os avós de Jesus.
O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida lançou um “kit pastoral” para a celebração do II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, em todas as comunidades católicas, com propostas para a Missa dominical e o convite a visitar quem se encontra sozinho.
HM/CB/OC