Dia Mundial das Comunicações Sociais

Celebração deste Domingo tem quatro décadas e centra-se, em 2007, na relação entre os media e as crianças A Igreja Católica centra a sua atenção nos media através do Dia Mundial das Comunicações Sociais. Uma jornada, assinalada há mais de 40 anos, numa forma de criar sintonias nas diversas formas de comunicar e no dever de a Igreja utilizar os meios de comunicação no desenvolvimento da sua missão. O Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, Cónego António Rego relembra, numa entrevista ao Programa ECCLESIA, a oportunidade que foi a participação no programa «A Fé dos Homens», que na altura surgiu como um “acontecimento novo na vida quer dos meios de comunicação, mas também na vida da Igreja”, enquanto reconhecimento das confissões religiosas em Portugal, “não apenas como uma existência dispersas nas suas comunidades, mas como uma presença visível e autorizada na televisão do Estado”. Multiculturalidade confessional A legislação que compreende esta presença, demorou alguns anos mas esse consenso é positivo, “não apenas pelo direito que concedia às confissões religiosas, – no caso são 13, incluindo a Igreja Católica, – mas para Portugal que “passa a olhar o religiosa não apenas como a marca única da Igreja católica, que é fundamental e numericamente importante, mas de outras culturas e religiões que estão presentes no meio de nós e ganharam esse direito de cidadania estando presente num canal público”, considera o Cón. António Rego, pois este “não é um favor ou um privilégio da Igreja Católica mas um serviço prestado a todas as comunidades religiosas”. Este passo significa também o reconhecimento do religioso como “elemento importante e integrante a nível cultural e motivador da sociedade portuguesa”. Quando surgiram as televisões privadas em Portugal, a Igreja Católica pediu, à RTP2, seis horas para trabalhar, “sem qualquer intuito comercial”, esclarece o Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, pedido este negado assumindo que “seria um privilégio à Igreja Católica”. Este processo resulta num concurso, a par das outras televisões privadas resultando na criação da TVI, que “nunca foi nem é oficial da Igreja, mas resultou de um grupo de cristãos que trabalharam para a ter”. “O rumor dessas «seis horas» ficou a trabalhar na consciência dos governantes da altura, e após muitas negociações, decidiram conceder às confissões religiosas apenas duas horas, não apenas à Igreja Católica mas também às outras confissões. A lei surge a partir daqui e as confissões religiosas que não podiam responder às duas horas, acabam por aceitar meia hora por dia”, relembra o Cón. António Rego. “Quando surge a lei da liberdade religiosa, fica expresso o direito da confissões a esta presença que acaba por ser de 30 minutos, a que se soma também o programa «Horizontes» e o «70 vezes 7»”. O espírito da Igreja reconhece que mesmo que sejam minorias pequenas e pouco significativas, são também confissões religiosas, conferindo a todas elas igual direito de transmissão. “Isto faz distinguir o trigo do joio, nomeadamente as confissões que o são de facto, das que são pequenos grupos de interesses que não religiosos”. Os direitos são dados a quem os tem, “é uma situação clara e passível de uma evolução, por isso está nomeada uma equipa pelo Ministério da Justiça de cinco elementos que vão estudando e aproximando estas realidades”, esclarece o Cón. António Rego. Estão a estabelecer-se contactos na Rádio Difusão Portuguesa – RDP -, no sentido de haver uma presença equiparada à que existe na RTP. “Acredito que esse consenso não será muito difícil de se fazer, até pela história positiva que existe com «A Fé dos Homens»”. Igreja e Comunicação Social Esta relação Igreja – Media conhece o seu princípio nos anos 40, com Pio XII, que se apercebe que os meios de comunicação são um instrumento duplo que faculta à comunidade uma série de desafios, mas também à Igreja porque a coloca na sua obrigação de trabalhar e evangelizar nestes meios. “A partir daqui, num pré concílio, estabelecem-se grupos de trabalho para a comunicação social que vê depois nascer o Conselho Pontifício das Comunicações Sociais e também, no pós concílio, a proposta de celebração do Dia Mundial das Comunicações Sociais”. Esta jornada Mundial serve para “os profissionais, poderem reflectirem no seu trabalho, para a Igreja proporciona-se uma reflexão sobre a sua missão e para os consumidores uma oportunidade de discernimento”, esclarece. O ouvinte é quem manda “porque uma estação de televisão ou de rádio só existe se tiver ouvintes. Ele precisa de ter consciência desse poder, que muitas vezes é esquecido” mas que é determinante para os órgãos de comunicação se organizarem. “Um povo bem esclarecido é um povo que controla a sua informação e os seus media e não é controlado, como às vezes se diz”, aponta. Remetendo para o tema que é proposto na mensagem do Papa para este dia, acerca do desafio da comunicação para a educação, o Cónego António Rego recorda o caso das crianças no Algarve que foram deixadas sozinhas. “No caso dos media, deixá-los com as crianças pode tirar-lhes o melhor que elas têm se não tiverem o acompanhamento dos pais, se não contarem com a sua presença e o seu diálogo”. Mas, acrescenta também que “é preciso perceber que os pais e educadores têm uma responsabilidade enorme em perceber o que está a acontecer, saibam ler as entrelinhas dos programas, que parecendo inocente estão a criar estruturas mentais”, porque afirma ainda que “os filhos não devem ser sonegados aos problemas, à violência que existe, mas introduzidos no conhecimento desse universo sob orientação dos educadores”. O bom e o mau O Dia Mundial das Comunicações Sociais está voltado para esta perspectiva dos meios de comunicação como indústria – “talvez a mais cruel das suas facetas”. O Cón. António Rego recorda as grandes empresas de informação “onde uma fatia dessa empresa é vender comunicação”, que adianta “encaixar a lógica do lucro dentro do complexo da empresa não é prestar um bom serviço”, pois os media têm “uma dignidade muito própria, um valor muito próprio, com poder e fragilidades mas devem funcionar de facto ao serviço da comunidade”, afirma. Na perspectiva do Cón. António Rego surge, a partir da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, desafios a três níveis: os media são um instrumento de comunicação, “tudo o que eles fazem tem um conteúdo, não há nada inocente e neutro”, voltado para uma ideologia e visão da vida. A necessidade de “as crianças serem protegidas” e como terceiro desafio “a comunidade deve sentir-se co responsável pelos produtos que os media veiculam”. Esta concepção vê a televisão “não apenas como entretenimento, mas enquanto difusor de diversos elementos que constituem a vida humana e que joga com os sentimentos mais ricos e íntimos do homem”. “Não podemos converter um acontecimento num folhetim”. Palavras de D. Manuel Clemente, relembradas pelo Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais. “É muito bom termos a informação toda, mas os media fazerem disso uma forma de exploração para dizer mais, estar à frente no espectáculo, torna-o muito caro”, refere reportando-se à cobertura jornalística sobre o caso de Madeleine McCann. “A partir de certa altura mistura-se a ficção com a realidade”, suscita. “Falou-se tanto na ausência de liberdade de imprensa, mas actualmente os jornalistas são tão submissos aos seus chefes, porque o mercado é tão complexo que me interrogo se não há grandes atropelos à liberdade”, questiona o Cón. António Rego. Por isto “a comunicação é uma forma de mutação cultural também”. Não estando fechada a teoria “do que é causa ou efeito na nossa sociedade”, antecipa, “não creio que tudo o que acontece na sociedade seja criado pelos media, mas afirmar que os media são apenas reflexo da sociedade”, pode ser inocente. Os media são geradores de cultura, “quando antes encontrávamos a escola, a Igreja, a sociedade”. Na tentativa de tornar «apetitoso» o conteúdo informativo, algumas notícias “não são fruto de maldade ou de inocência”. Encontros entre a Igreja Católica com os jornalistas são formas de “desfazer ambiguidades”. “A Igreja está a ter cada vez maior presença nos media, não é ignorada, mas também não é bem tratada”, afirma pois “há questões menores de onde se faz um espectáculo que não é religioso, quando há questões religiosas que não são abordadas”. Mas o lado positivo subsiste. “Acredito que a Igreja é um acontecimento que vale a pena trabalhar, relatar, analisar, criticar e potenciar”, finaliza. Dossier AE Dia Mundial das Comunicações Sociais

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