Projeto Semear dá formação a pessoas com dificuldades de desenvolvimento cognitivo e valoriza a sua integração em negócios sociais
Lisboa, 03 dez 2021 (Ecclesia) – O projeto ‘Semear – terra de oportunidades’ é uma empresa social inclusiva que dá formação a pessoas com dificuldades de desenvolvimento cognitivo, valoriza as suas competências em negócios sociais apostados na exploração agrícola e no combate ao desperdício alimentar.
“Começando a ver que é possível integrar – e eu acho que as regalias do Estado servem como um meio, não podem ser um fim – as empresas vão perceber que podem empregar pessoas autónomas que, por vezes com mais rigor, preocupação e responsabilidade, executam as tarefas de igual forma”, explica à Agência ECCLESIA Joana Fialho, coordenadora técnico-pedagógica da Academia Semear.
Ao Semear Academia chegam jovens adultos, entre os 18 e os 45 anos, que depois de um percurso escolar obrigatório, ficam sem caminhos claros de inserção.
O Semear Academia forma cerca de 50 jovens adultos, entre os 18 e os 45 anos, com características de autismo, trissomia 21 ou dificuldades de desenvolvimento cognitivo, numa aposta na formação na área agro-alimentar, as saídas profissionais são armazenagem, industria agroalimentar e agricultura.
“No início o enfoque são as competências mais psico-sociais, que sabemos são críticas na integração profissional das pessoas e vamos diminuindo este enfoque e aumentando a área tecnológica dentro da sua escolha profissional. Vão fazendo uma escolha vocacional progressiva. Numa primeira etapa contactam com as três áreas profissionais e vai caindo cada etapa quando passam para a próxima”, indica.
O projeto Semear desenvolve-se na Academia, no Semear Terra e no Semear Mercearia, estando a dar os primeiros passos de um atelier de cerâmica.
As formações certificadas vão acontecendo num plano de dois anos, “mas respeitando o tempo de cada um dos formandos”, bem como o desenvolvimento de competências sociais e pessoais.
No final da formação, o acompanhamento continua procurando na procura de que a integração “tenha sucesso”, mas pode acontecer alguns formandos ficarem a trabalhar nos projetos do Semear, tal como aconteceu com Liliana Simões.
“Gostei da maneira como me receberam quando entrei para o Semear, todos trabalhamos em equipa, esse é o objetivo, e eu gostei. Preocupam-se com toda a gente”, refere a funcionária à Agência ECCLESIA.
Com 34 anos, Liliana Simões é muito elogiada pela equipa Semear; entrou ali há quatro anos, e depois de fazer formação, aceitou um contrato de trabalho onde a sua função é parte fundamental no processo de transformar os produtos cultivados para a Semear Mercearia, onde estão disponíveis os produtos para os clientes.
Bruna Soares é formanda na Academia Semear e o seu objetivo é começar a trabalhar, se possível, na indústria.
“O que eu quero fazer é indústria, por frascos na linha, com produto, doce, azeite. Quero começar a trabalhar para ajudar os meus pais também”, confessa à Agência ECCLESIA.
Joana Fialho dá conta do contributo de pessoas válidas para uma “sociedade mais ativa”.
“Estamos, a longo prazo, a contribuir para ter uma sociedade mais ativa, em que eles possam contribuir e não ser dependentes do que possa vir do Estado, de forma assistencialista, que é coisa que aqui não acreditamos”, aponta.
A coordenadora técnico-pedagógica da Academia Semear reconhece que as empresas se estão a abrir para a empregabilidade das pessoas com dificuldades de desenvolvimento cognitivo mas afirma ser necessária mais formação para que as resistências caiam por terra.
“A formação das empresas é um passo que, diria, devia ser a aposta e talvez o Estado (pudesse) começar a pensar em disponibilizar este serviço e as empresas ficariam mais confiantes, apostando mais na integração destas pessoas, não só preocupados por causa das quotas, mas porque entendem que as pessoas merecem e as empresas têm vantagem em integrar uma pessoa tão capaz como as outras e em bastantes casos é mais eficaz no desempenho da sua tarefa”, reconhece.
A reportagem sobre o Semear vai ser emitida no programa ’70×7′ deste domingo (RTP2, 07h30), dedicado à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
LS