«Deserto» espiritual ameaça humanidade

Ano da Fé e 50.º aniversário da abertura do Vaticano II apelam à redescoberta do legado conciliar face ao «vazio» da sociedade

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 11 out 2012 (Ecclesia) – Bento XVI desafiou hoje os católicos a enfrentarem o avanço da “desertificação” espiritual que se espalhou pelo mundo, nas últimas décadas, e reafirmou a atualidade do trabalho realizado no Concílio Vaticano II (1962-1965), inaugurado há 50 anos.

“Qual seria o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, já se podia perceber no tempo do Concílio a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, vemo-lo todos os dias à nossa volta: é o vazio que se espalhou”, alertou o Papa, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, para a inauguração do Ano da Fé, por ele proclamado no 50.º aniversário do Vaticano II.

A intervenção papal aludiu à necessidade de integrar, na ação da Igreja, essa experiência de deserto e vazio para “redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida”.

“No deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança”, acrescentou, destacando que a fé “liberta do pessimismo”.

O Papa falava perante alguns milhares de fiéis e 400 cardeais, arcebispos e bispos, os quais repetiram a procissão na Praça de São Pedro que foi umas das imagens históricas do dia 11 de outubro de 1962, primeiro do último Concílio.

Bento XVI convidou os presentes a entrarem no “movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II” e disse que há 50 anos se vivia uma “tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé”.

Bento XVI, que participou na maior reunião de bispos da história da Igreja como perito teológico, enquanto jovem padre, convidou a Igreja a regressar à “«letra» do Concílio – ou seja, aos seus textos – para também encontrar o seu verdadeiro espírito”.

“A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrónicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade”, advertiu.

Em relação ao Ano da Fé, o Papa disse que os católicos devem transmitir a sua mensagem “sem sacrificá-la frente às exigências do presente nem mantê-la presa ao passado”.

“Na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não volta a repetir-se”, frisou.

Depois do Ano da Fé convocado por Paulo VI em 1967 e do Grande Jubileu proclamado por João Paulo II em 2000, o atual Papa convida a uma nova iniciativa mundial, para reafirmar que “Jesus é o centro da fé cristã”.

Bento XVI aludiu à redescoberta de “caminhos de peregrinação”, como é o caso de Santiago de Compostela (Espanha), “em voga nestes últimos anos”.

O Papa defendeu, por isso, que a Igreja deve empreender também “uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial”, ou seja, “o evangelho e a fé”.

A celebração evoca o Vaticano II com alguns “sinais específicos”: a procissão inicial, a “entronização” do evangeliário, cópia do que foi utilizado durante o Concílio, e a entrega das sete mensagens finais do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica, nos 20 anos da sua publicação.

Bento XVI convidou os 70 participantes no Concílio que ainda se encontram vivos (incluindo D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo emérito de Braga), 15 dos quais marcam presença na Praça de São Pedro.

OC

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