Daniel Comboni – Salvar África com a África

Marcos fundamentais duma vida (1831-1881) Em casa do Padre Mazza, de infante passa a príncipe vassalo de África aos 17 anos. «Fiz um voto nas mãos do meu superior de me consagrar às missões de África e nunca mais me voltei a olhar para trás» escreverá mais tarde. Em !857 é o Baptismo de África, onde penetra até ao centro, a missão de Santa Cruz. A prenda de Deus: a morte da mãe, de que tem conhecimento meses depois e a morte do padre Oliboni, um do grupo desta primeira expedição, de breve duração. Em 1864, por ocasião da beatificação da difusora do culto ao Coração de Jesus, Margarida Alacoque, durante sessenta horas consecutivas redige um «projecto de regeneração da África» em que avulta o ponto chave «salvar a África por meio dos próprios africanos”. Se antes o labor apostólico era sob as orientações do Instituto Mazza de Verona, passa a geri-lo in proprio, na parte que lhe cabe e a difundir pelas cortes da Europa e pelo povo simples a sua inconcebível paixão pela África. 9 vezes atravessa o deserto, do Cairo à capital do Sudão, demorando em média em cada travessia 99 dias de abrasa-dura e sede. As viagens pela Europa são um nunca parar. Faz amigos em cada lugar onde passa. O Gigante, o Xavier de África. Consegue a colaboração de quatro religiosos camilianos, com o P.e Estanis-lau Carcereri a dar-lhe um forte apoio de início e ser um quebra cabeças, até cada um seguir o seu caminho e Daniel Comboni ser nomeado bispo, o primeiro Vigário Apostólico da África Central em 1877. Com o encargo de um território que ia desde o Sudão a quase todo o Norte do Uganda. A Missão A missão de Comboni foi teologal, onde o primado da fé teve vantagem. Dela disse a missionária que ele mais estimava, Teresa Grigolini: «exteriormente não parecia homem de recolhimento, mas ao olhar para ele ficava-me a sensação de que estava sempre na presença de Deus». Homem do deserto, contemplativo do Coração do Bom Pastor, não falhava na oração e dela sentia o impulso para «abraçar os cem milhões de africanos ainda considerados sob a maldição de Cam» . Fazendo como que um auto-retrato, Comboni escrevia em 1881: «Uma missão tão agreste e trabalhosa como a nossa não admite que se viva de raspão, não aceita indivíduos de pescoço à banda, indivíduos inchados de egoismo e sem preocupação para com a salvação própria e a dos outros». Foi um missionário preocupado com o aspecto social. A missão, antes que administrar sacramentos visa o desenvolvimento integral do ser humano. O missionário deve ser «santo e competente». Pela caridade, o será. Só o missionário santo é suficientemente competente. O missionário não se refugia na intimidade, naquilo que conhece, não se apega a seguranças, mas vive de zelo, dum «grande amor a Deus, que leva a um grande amor ao próximo”. O nome do missionário tem o sabor a recomeçar sempre de novo, combinado com o cheiro a exposição à morte, areia escaldante, água choca, esqueletos humanos de carestia e de escravos, febres de improviso, desânimos, viagens sem regresso… Missão é colaboração, e amor à Igreja. Convencido de que a missão acontece precisamente em comunidade. Irmãs, padres seculares de origem vária, irmãos, religiosos camilianos… Ao Padre Jansen, que vai ser canonizado com ele, Comboni sugeria que fundasse ele uma congregação missionária feminina de língua alemã. Dessa sugestão nasceram as Servas do Espírito Santo. Comboni confiava nos mais jovens. Chamou à cabeceira do leito de morte o jovem padre João Dichtl e, segurando-lhe levemente a mão, pediu que prometesse ser fiel à missão até à morte. Essa confiança garantiu-lhe a profecia: «eu morro mas a obra não morrerá». Significado de Comboni para hoje A miraculada da beatificação, a brasileira Maria José Oliveira Paixão afirmou: “Comboni formulou grandes projectos para o mundo inteiro. E conseguiu, porque missionários seus por todo o mundo seguem ainda hoje o fundador». «Mil vidas pela missão» é o lema deste ’ano comboniano’. «Se mil vidas tivesse, mil vida daria pela África». O espírito de Daniel está forte e aguenta-se nos seus missionários e em toda a Família Com-boniana e simpatizantes. O milagre para a canonização interpela para um novo conceito de missão. A miraculada é uma muçulmana, que ao dar à luz mais uma vez por cesariana o quinto filho, teve hemorragias que só estancaram improvisamente depois de invocada a intercessão do santo, sem deixar sequelas. O facto de ter sido agraciada uma muçulmana em contexto de oração católica questiona a missão como plantatio ecclesiae, fazendo proselitismos e avança para o diálogo interreligioso, para o respeito pela crença alheia, para colaboração in sacris, etc. O instituto comboniano está nesta altura reunido em Capítulo Geral onde esta problemática é rezada e estudada. Também o facto das protagonistas da intercessão pelos milagres serem mulheres e miraculadas mulheres também, vem acentuar a necessidade duma missão voltada para elas. As sequelas da canonização de Daniel Comboni vão ser muitas. Entre elas, a contribuição para uma renovação da Igreja e da sociedade. Nova escravatura, neo-colonialismo e exploração, guerras sopradas, dívida dos países pobres, globali-zação dos mercados, invasão cultural, em relação ao continente africano. Secularis-mo, tecnicismo, individualismo, invasão do islão num mundo cada vez mais pluralista, com muita carência de convivialidade, necessidade de cooperação entre os povos não podem deixar adormecer os missionários. A canonização de Daniel Comboni vem dizer que os missionários são cada vez mais necessários. Os vivos sobre a terra e os que Vivem em Deus. Os missionários combonianos Nasceram em Verona (Itália) em 1867 por uma espécie de imposição do Cardeal Prefeito da Propagação da Fé. Um grupo reduzido guardou a chama durante a perseguição que se seguiu à morte do Fundador, no Sudão. Passou uma fase cambaleante até se transformar em congregação religiosa; viveu dividido em dois ramos a partir dos anos trinta até à reunificação em 1979. Abriu horizontes às Américas por volta de 1950. À Ásia, há uma dúzia de anos. Em Portugal tudo começou em 1947 com o P.e Cotta em Viseu. Hoje são seis as comunidades onde trabalham cerca de trinta missionários. Os portugueses são uma centena, espalhados por 25 países do mundo desde as Filipinas ao Brasil, do Congo a Hong Kong, ao Togo, a Moçambique. Juntam padres, irmãos, leigos para a salvação das pessoas por elas próprias, como era plano de Comboni: «Salvar a África por meio da África». As missionárias combonianas nasceram em 1872, do coração vivo de Comboni. Deram-lhe algumas quebras de cabeça, mas foram indispensáveis na evangelização dos povos. Nem sempre estão nos mesmos lugares onde actuam os combonianos. Mas são também cerca de 2.000 ao todo, das quais 50 são portuguesas. Os combonianos são cerca de 1800 e o seu número tem-se mantido estável. As Missionárias Seculares combo-nianas nasceram a seguir ao Concílio e vivem em suas famílias, mas consagradas à missão pela animação missionária e pela vivência universalista. São umas quarenta em Portugal. Mais recente, o movimento de Leigos Missionários Combonianos (LMC) que na qualidade de simples fiéis se consagram toda a vida ou ad tempus a trabalhar pela missão. Pe. Isaías Rocha Pereira, MCCJ

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