Da complexidade à dificuldade do nosso futuro

Joaquim Cadete, Economista

O problema que atualmente a Europa vive decorre, essencialmente, de um processo de perda de competitividade em relação ao resto do mundo. A ascensão de novas potências mundiais, das quais se destacam naturalmente a China e o Brasil, conduziu a um novo paradigma nas relações entre os principais blocos comerciais. Os países referenciados como emergentes, em especial de África e da América do Sul, começaram a desempenhar o papel de fornecedores de produtos energéticos e de matérias-primas; a Ásia tornou-se o líder mundial na produção de bens de baixo e médio valor acrescentado; e o Ocidente a principal fábrica de investimentos financeiros para o mundo, nomeadamente de dívida soberana. Em suma, o excedente comercial obtido pelos países exportadores para o Ocidente, de forma direta ou indireta, era devolvido ao mesmo através de empréstimos. Esta dinâmica possibilitou, ao longo de várias décadas, o adiamento de reformas, frequentemente referenciadas como estruturais, no intuito de reequilibrar os fluxos comerciais entre os vários blocos. Face a este contexto, assistiu-se à desindustrialização de vários países ocidentais e à estratégia de especialização em setores de atividade que não concorressem com o exterior (as atividades da construção e do turismo constituem um bom exemplo). A atual crise económica e financeira veio relevar todas as debilidades inerentes ao sistema ocidental – um modelo económico desajustado em relação à procura internacional por bens e um problema financeiro decorrente do excessivo endividamento. Na Europa, a incapacidade sistemática dos decisores políticos de implementarem medidas, no momento certo, de forma a minimizar os problemas futuros trouxe-nos até aqui. A necessidade de manter o poder político a qualquer custo, no sentido maquiavélico da expressão, justificou esta caminhada para o declínio.

Face ao contexto descrito, penso que fica claro que qualquer solução para o problema nacional passará necessariamente pela Europa e que esta terá de atuar de forma consertada, sob pena de politicamente desaparecer face aos restantes blocos regionais em presença. Portugal hoje não controla o acesso ao recurso energéticos tal como no passado, por via do império colonial, e a sua posição externa apresenta-se devedora em larga escala. O caso português padece ainda de outras vicissitudes. A população nacional é uma das mais envelhecidas em termos mundiais, o que potencia o problema da sustentabilidade do estado social. Por último, e não de menor importância, todas as diferentes classes de agentes económicos apresentam um excessivo nível de endividamento – Estado, famílias e empresas. Por todos estes factos, importa dizer a verdade aos cidadãos de forma a não criar expectativas enganadoras em relação ao futuro imediato. Os desequilíbrios criados ao longo de várias décadas nunca poderão ser resolvidos sozinhos e num período de uma só legislatura política. Não existindo recursos ilimitados, a austeridade significa o ajustamento da nossa realidade económica e financeira apenas ao que produzimos e poupamos. Alternativas populistas a este caminho conduzir-nos-ão a um desfecho final mais penoso sob todos os pontos de vista. Doravante, o nosso pensamento deverá estar orientado na forma como poderemos criar riqueza a partir do que somos e não assente na reivindicação do que alguém nos poderá dar, dado que será sempre muito limitado. Neste sentido, a melhoria do nível de formação académica das últimas décadas deverá ser um fator importante de atenuação dos possíveis desafios.

Por fim, importa referir os princípios centrais que deverão orientar a atuação política durante este caminho difícil – seriedade, responsabilidade e solidariedade. A ausência de coesão social apenas nos conduzirá a uma situação que não é do interesse da maioria da população, nomeadamente dos mais desfavorecidos. Este facto exige a coragem de anunciar decisões difíceis bem como de romper com interesses instalados e vícios passados, de forma a garantir os valores da liberdade e da justiça social para todos. Fugir a este desafio não pode ser uma opção!

Joaquim Cadete, Economista

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