D. Maurílo de Gouveia diz adeus a Évora

Mais de 26 anos depois, Arcebispo madeirense deixa governo pastoral da Arquidiocese e vai dedicar-se ao «silêncio, oração e estudo» O Papa Bento XVI acaba de nomear Arcebispo de Évora o Senhor D. José Francisco Sanches Alves, que vinha exercendo as funções de Bispo de Portalegre e Castelo Branco. É com imensa alegria que me faço eco, junto da comunidade diocesana, da feliz notícia. A este sentimento de alegria associa-se um outro: o de acção de graças a Deus, que, uma vez mais, revela o seu amor fiel à nossa querida Igreja Eborense, dando-lhe um Pastor dotado de grandes qualidades, capaz de conduzi-la pelos caminhos seguros da fé, da comunhão e da evangelização A decisão do Santo Padre foi tomada na sequência da disponibilidade por mim expressa a Sua Santidade, no sentido de me retirar do ministério episcopal, em obediência às determinações do Código do Direito Canónico, que estabelece os setenta e cinco anos como idade limite para o exercício daquelas funções. O Senhor D. José Francisco Sanches Alves está profundamente ligado à Igreja de Évora. Natural da Diocese da Guarda, estudou nos nossos seminários; foi ordenado presbítero para o serviço desta Arquidiocese, onde, de facto, viria a assumir diversas funções, algumas de grande responsabilidade, como a de Vigário Geral, até ao dia em que o Santo Padre o nomeou Bispo Auxiliar de Lisboa. A Arquidiocese de Évora terá assim um Pastor, já com longa experiência pastoral, para além de uma sólida e vasta cultura e um valioso testemunho de fé. A comunidade diocesana acolhê-lo-á pois com justificado júbilo. Mas, sobretudo recebê-lo-á numa clara atitude de fé. O Bispo não vem em seu nome, para realizar um projecto pessoal; vem sim, enviado por Cristo para realizar o seu plano salvador. Por isso, com toda a propriedade, padres, diáconos, religiosos e leigos vão cantar, à sua chegada: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. Com a nomeação do novo Arcebispo de Évora, encerra-se o ciclo do meu ministério na Arquidiocese, que Deus, na sua infinita bondade, me confiou e que teve início a 8 de Setembro de 1981. Nestas últimas palavras que tenho a graça de vos dirigir, caríssimos irmãos diocesanos, desejo, antes de mais, exprimir a Deus Pai a minha profunda gratidão por ter podido estar ao vosso serviço durante este longo tempo e pela protecção divina e presença carinhosa e materna de Maria que sempre experimentei, assim como pela experiência de comunhão que me foi dado viver com todos vós, que vos encontrais nas mais diversas situações eclesiais e sociais. Uma particular referência é devida – e faço-a com especial amizade e justificadas razões – ao Senhor Bispo Auxiliar D. Amândio José Tomás, que o Papa João Paulo II me concedeu nos últimos seis anos, após o enfarte ao miocárdio, ocorrido no ano jubilar de 2000, e que veio diminuir significativamente as minhas capacidades de trabalho. Devido à sua amizade, total lealdade, profundo sentido eclesial e elevados dotes de inteligência e coração, foi possível prosseguir o serviço pastoral, numa gratificante experiência de colegialidade afectiva e efectiva. Ao meu querido Irmão Bispo, agora chamado a servir a Igreja de Vila real, sua Diocese de origem, formulo os mais ardentes votos de um pontificado longo e cheio de frutos apostólicos. Levo no coração todos aqueles com quem durante vinte e seis anos, vivi, celebrei e testemunhei a fé em Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor, nosso Salvador e Mestre: sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, leigos, famílias, jovens, idosos, crianças, doentes, presos, pobres e abandonados da sociedade. A partir de agora, todos viverão a sua fé em profunda comunhão com o novo Arcebispo, seu Pastor e Pai espiritual, alimentando essa mesma fé na Palavra de Deus, na Eucaristia e nos restantes sacramentos, no amor à Virgem Maria, nossa Mãe e Padroeira, e, bem assim, no testemunho da caridade, e numa intervenção corajosa na sociedade. Pela minha parte, a partir de agora, afastado embora juridicamente das responsabilidades pastorais, mas continuando unido afectivamente à comunidade diocesana e a cada um dos seus membros, procurarei consagrar-me inteiramente ao serviço da Igreja, com particular atenção à Arquidiocese de Évora. Será uma entrega feita sobretudo de silêncio, oração e estudo, a que juntarão, conforme a Vontade de Deus se manifestar, outras formas de colaboração, em favor do crescimento da Igreja e do bem da sociedade. A última etapa que ora se inicia, terá a particularidade de preparar o encontro final com Cristo, a grande meta para onde se orienta a nossa vida. Um encontro que marcará o início da bem-aventurada eternidade, meta do nosso peregrinar terreno e objecto da nossa firme esperança. Às autoridades, aos responsáveis das mais diversas instituições e a outras entidades, com quem, por motivo do meu ministério episcopal, tive o privilégio de estabelecer múltiplos contactos, cumpre-me o dever de exprimir nesta hora a minha gratidão e elevado apreço com os melhores votos de felicidades no exercício do s seus cargos. Se na hora da despedida, o sentimento de saudade e a memória do passado se tornam naturalmente mais fortes, é, no entanto, no futuro que os nossos olhos se colocam. O olhar do cristão está, por definição, fixo no Senhor da História, n’Aquele que já veio e que há-de vir É por isso um olhar de esperança. Nesta atitude de esperança, saúdo e abraço fraternalmente o meu ilustre Sucessor, o Senhor D. José Francisco Sanches Alves Évora, 8 de Janeiro de 2008 + Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora

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