D. José Tolentino Mendonça: «Representa a capacidade de dialogar com o outro que é o melhor que o cristianismo tem» – Daniel Oliveira

Jornalista assinala que nunca sentiu no futuro cardeal «arrogância da fé perante os que não a sentem»

Lisboa, 04 out 2019 (Ecclesia) – O jornalista Daniel Oliveira afirma que “nunca” sentiu no padre Tolentino Mendonça “a arrogância da fé perante os que não a sentem”, o que torna “a empatia mais simples” e o diálogo possível.

“O padre Tolentino representa muito bem a capacidade de dialogar com o outro que eu identifico com o melhor que o cristianismo tem. É a coisa mais rica que o cristianismo tem e nem todas as religiões têm”, disse o colunista em declarações à Agência ECCLESIA.

Segundo Daniel Oliveira, quem “não tem fé” sente a arrogância “e dificilmente dialoga” porque “se sente diminuído na ausência de fé” e no padre Tolentino “nunca” sentiu “a arrogância da fé, perante os que não a sentem”.

O jornalista afirma que o “primeiro passo” para o diálogo entre crentes e não crentes é quando o objetivo “não é a conversão” mas “o diálogo e a ideia de que aprendem uns com os outros”, por isso, considera que tentar compreender quem não tem fé “pode ser enriquecedor, também para o que tem fé” e “é raro essa postura”.

O Papa Francisco nomeou cardeal D. José Tolentino Mendonça, no dia 1 de setembro, e o bibliotecário e arquivista da Santa Sé vai receber as insígnias cardinalícias este sábado, dia 5 de outubro.

“Estas nomeações que o Papa fez, não só a do padre Tolentino, mas de missionários, de pessoas ligadas às migrações, ao diálogo inter-religioso, dão um sinal, para além das questões da política do Vaticano, no bom sentido, das sementes para uma renovação da Igreja; A Igreja trata de si e da relação do divino com o mundo e com o mundo em que vivemos. Com os pobres e com os outros”, desenvolveu.

Neste contexto, para Daniel Oliveira, a “ideia da Igreja que fala dos outros e não de si” é uma “mensagem poderosa e profundamente cristã”, mesmo para um ateu.

“Como poeta, o padre Tolentino, sabia que estamos todos a falar da mesma coisa: católicos, não católicos, budistas, hindus, muçulmanos, ateus. Estamos todos a falar das mesmas angústias sobre a existência. A religião trata do que sempre tratamos, mesmo não tendo religião. Desse ponto de visto, nem faz sentido se esse diálogo não existir. Se não existir a religião é um conjunto de regras e dogmas que se obedece sem questionar. Assim, dificilmente posso chamar isso de fé”, desenvolveu.

O jornalista lembra que a primeira vez que conversou com D. José Tolentino Mendonça “terá sido na Capela do Rato”, em Lisboa, nos encontros que o então sacerdote português “realizava” e depois estiveram juntos “várias vezes”.

A ilha da Madeira é “outra coisa que liga” os dois escritores, o arcebispo português é natural do arquipélago enquanto Daniel Oliveira tem lá as raízes pelo seu pai, o poeta Herberto Hélder: “Essa ligação tornou logo o diálogo mais simples, voltei a estar com ele mais do que uma vez nesses encontros”.

D. José Tolentino Mendonça nasceu em 1965 na localidade de Machico, no Arquipélago da Madeira, foi ordenado padre em 1990 e bispo no dia 28 de julho de 2018, no Mosteiro dos Jerónimos.

O programa 70×7 deste domingo, emitido às 07h30, na RTP2, recolhe testemunhos de diferentes personalidades sobre as marcas do cardeal Tolentino Mendonça.

LS/CB/PR

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Agência ECCLESIA

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