Presidente da CEP negou ainda qualquer intenção de se proibirem os concertos nas igrejas D. José Policarpo, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), desmentiu quaisquer desentendimentos entre o Vaticano e a Conferência Episcopal por causa do Santuário de Fátima. Comentando a notícia do Correio da Manhã sobre as iniciativas de cariz inter-religioso, onde se referia que a Santa Sé teria defendido junto da CEP que o Bispo de Leiria-Fátima e o reitor do Santuário fossem afastados, o Cardeal-Patriarca disse que “as pretensas reacções do Vaticano não existiram nem poderiam existir naqueles termos”. O presidente da CEP, que falava numa entrevista ao semanário diocesano Voz Portucalense criticou o excesso de atenção dado ao caso, lamentando que o consenso gerado em torno da nova Concordata não tenha merecido igual destaque. “Por essa altura foi ratificado pela Assembleia da República, por uma vasta maioria, o novo texto concordatário, e isso não foi notícia”, referiu. O Cardeal considerou ainda descabida a informação vinda a público de que a CEP iria proibir os concertos nas Igrejas “Não há nenhum novo regulamento em vista, essa é mais uma ‘falsa questão’ inventada não sei por quem”, atirou. Para D. José Policarpo, “a linha que temos seguido é correcta, baseada nas normas feitas pela própria Santa Sé, e que procura conciliar desejos legítimos: o da Igreja de salvaguardar o carácter sagrado dos templos, não deixando deslizar a opinião pública para uma consideração apenas cultural do seu sentido e da sua utilização; mas também reconhecer o valor espiritual e pastoral da expressão artística, também ela linguagem do sagrado; o respeito pela comunidade que celebra a fé naquele templo”. Nova Europa O novo Tratado Constitucional da UE foi outro dos temas abordados pelo presidente da CEP, para quem este texto “tem a lógica irreversível de uma União Económico-Política que para se manter, tem de afirmar progressivamente o peso da União sobre os Estados”. O Cardeal português lamenta a frágil dimensão cultural dessa União, vincando que ela está “muito marcada pelo culto do indivíduo e da liberdade individual, com a preocupação de se destacar daqueles elementos que marcaram decididamente a cultura europeia”. A ausência de qualquer referência às raízes cristãs da Europa é considerada pelo Patriarca de Lisboa como a consequência de “um naturalismo horizontal, uma espécie de laicismo não afirmado, que se apresenta como a única matriz legítima da cultura europeia”. “As expressões mais graves desta orientação cultural, que aparecem eivadas de um ‘anti’ influência da religião e das Igrejas na vida da sociedade, são: a destruição do conceito de família, o desrespeito do carácter sagrado da vida humana e o modelo de felicidade a proporcionar pelo desenvolvimento, materialista e marcado pelo consumismo”, assegura. Consciente do processo de “mutação cultural” em que a Europa está envolvida, o Cardeal-Patiraca lança um alerta: “na medida em que outras religiões, tais como o Islamismo, tiverem expressão significativa na União, a contestação desse horizontalismo cultural será, certamente, mais veemente, podendo tornar-se violento”. “A União Europeia só subsistirá se aprofundar uma nova cultura da unidade, que terá de enraizar na tradição cultural dos países que a integram”, aponta. «O Código da Vinci» Na entrevista, o Cardeal-Patriarca abordou ainda a última obra de Dan Brown, “O Código da Vinci”, criticando-o por “lançar a confusão entre o que seria legítima fantasia artística e o que pretensamente se apresenta como fruto de investigação científica”. Para D. José Policarpo, Brown alinha numa perspectiva bem conhecida: “tirar ao cristianismo toda a densidade da fé e do mistério e transformar Cristo e o Evangelho num fenómeno natural, enquadrável nos parâmetros da natureza humana”. “Neste livro há de tudo: o bem urdido de um romance policial; a utilização do secretismo de certas sociedades secretas; banalidades, como referir o Opus Dei como o ‘mau da fita’ ou referir a relação amorosa de Cristo com Madalena, várias vezes ousada pela arte; inexactidões pretensamente científicas, como situar os 4 Evangelhos como invenção de Constantino ou na maneira de referir os manuscritos de Qum-ran, ou a adulteração da lenda do Santo Graal”, assinala. Apesar das críticas, D. José Policarpo refere sobre o livro que “o debate que ele já suscitou, sobretudo na sua pátria de origem, poderá ser positivo”. A entrevista • A coerência do testemunho e a ousadia de proclamar a verdade