Cursos de Cristandade da Arquidiocese de Évora

Nota Pastoral assinala Centésimo Curso de Senhoras Ao Secretariado dos Cursos de Cristandade da Arquidiocese de Évora Caríssimas Irmãs e Irmãos Cursistas: Por ocasião do Centésimo Curso de Senhoras da Arquidiocese, também em nome do Senhor D. Maurílio, quero saudar, reconhecido, os Cursistas, homens e mulheres que generosamente continuam a responder ao apelo de Deus Pai, por Cristo e não se cansam de dar a cara como testemunhas do Senhor, vivendo sem d’Ele se envergonharem (2 Tim. 1, 8). 1- Viver e testemunhar a Fé Exorto-Vos a viver e a testemunhar a fé, a rezar, a aprofundar as razões de crer e a agir, fiéis às resoluções e compromissos assumidos, num mundo onde reina a ditadura do relativismo, a apostasia da indiferença, o materialismo hedonista e o individualismo e onde a procura da verdade parece deixar de ter sentido pois muitos se arrogam o direito de escolher e confeccionar a verdade à medida dos próprios gostos. Neste supermercado de propostas, cada um confecciona e escolhe o que lhe agrada, como ídolo, objecto de culto e razão de viver, segundo os próprios gostos e veleidades. Meditai as sábias palavras de S. Pedro que exortam à vigilância, a permanecer fiéis aos compromissos assumidos e a temer o estado pior do que o primeiro donde saímos, isto é, a evitar o horror da apostasia e a infidelidade ao amor de Cristo que nos chamou das trevas da ignorância e do pecado para a admirável luz da amizade e da filiação divina. Assim, observa o Apóstolo: se aqueles que fugiram da corrupção do mundo, pelo conhecimento de Jesus Cristo, nosso Senhor e salvador, se deixam de novo enredar e vencer por ela, o seu último estado torna-se pior do que o primeiro. Melhor lhes fora não ter conhecido o caminho da justiça de que, depois de o conhecer, volta atrás, abandonando a lei santa que lhes foi transmitida. Acontece-lhes o que diz aquele provérbio tão acertado: ‘o cão volta ao seu vómito e a porca, acabada de lavar, volta a revolver-se na lama” (2 Pedro 2, 20-22). A conversão a Cristo, por um lado e a aversão e horror ao pecado, pelo outro, devem construir o nosso pão de cada dia, atentos a não voltarmos a um estado pior do que o primeiro. Há que temer o pecado e ter medo de cair na apostasia. Ninguém presuma de ser impecável e de estar seguro, sem necessidade de vigilância, de esforço de conversão e adesão a Deus. ‘Quem está de pé acautele-se para não cair‘. Em tudo, devemos evitar duas coisas, que aliás são dois pecados contra o Espírito Santo. Devemos evitar a Presunção e o Desespero. Nem presunção orgulhosa, pensando que tudo podemos e que nada de mau nos pode acontecer. Nem desespero derrotista, desesperando da salvação e da vitória do bem sobre o mal. Esta é uma forma de desconfiar de Deus, de banalizar e descrer da Sua misericórdia que é sempre maior que o nosso pecado e seu limite inultrapassável. Sem Deus nada podemos, mas com Ele tudo é possível. “Teresinha sozinha não pode nada mas com Cristo maioria absoluta”. 2- Na Identificação com Cristo O vosso Padroeiro, o Apóstolo Paulo fala da veste cristã, da identificação com Cristo, do vestir Cristo e do despir o pecado e o homem velho. O cristão deve primar pela diferença. Não é como os outros, nem deve agir com eles. “Não vivais como os outros que não têm esperança”, dizia Paulo. O Baptismo deixa em nós marcas. Por ele, somos de Cristo e Cristo vive e age em nós. “Todos os que fostes baptizados em Cristo, vos revestiste de Cristo” (Gal 3,27), numa comunhão existencial com Cristo, como Paulo diz que aconteceu consigo, ao deixar-se conquistar pelo amor do Senhor: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,2). Na Carta aos Efésios, propõe como tarefa permanente o despir o homem velho e o vestir Cristo, o homem novo: “despojai-vos do homem velho, no que diz respeito ao vosso passado… Revesti-vos do homem novo criado em conformidade com Deus na justiça e na santidade verdadeiras. Por isso, posta de parte a mentira, cada qual diga a verdade ao seu próximo pois nós somos membros uns dos outros. Se vos irardes não pequeis…” (Ef. 4, 22-26). Mas o despojarmo-nos do homem velho e o revestirmo-nos de Cristo e de tudo o que o Senhor nos oferece para nos mantermos no bem e na verdade, não nos deve levar a esquecermos o facto fundamental da Encarnação do Filho de Deus, que vestiu as nossas vestes, que se fez um de nós, em tudo igual a nós, excepto no pecado. Não podemos ignorar que foi Deus que nos amou primeiro. O Filho de Deus despojou-se da Sua glória para vestir a nossa humanidade, vestindo as nossas vestes e a nossa fraqueza, como diz ainda Paulo: “despojou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens; aparecendo com a forma humana, humilhou-se a si mesmo… até à morte de cruz” (Fil. 2, 6ss). Veja-se também a Carta aos Hebreus, que apresenta Jesus como sumo sacerdote que se compadece e se solidariza connosco, assumindo as nossas enfermidades (Heb 2, 17ss; 4,15). Conta Tolstoi que um rei pediu aos sábios que lhe mostrassem Deus, para ele O poder ver. Mas os sábios não puderam fazê-lo. Então um pobre pastor apresentou-se ao rei e o rei pediu-lhe o mesmo, mas o pastor respondeu que os olhos do rei eram capazes de ver Deus. O rei perguntou: “Mas então o que é que faz Deus?”. O Pastor disse: “posso mostrar-te o que é que Deus faz, mas, para to mostrar, temos de trocar as vestes”. O rei vestiu as vestes sujas e esfarrapadas do pastor e o pastor as vestes reais. Então, o pastor, disse ao rei: ora, é isto o que Deus faz”! Ele troca as vestes, veste a nossa humanidade para nos tornar semelhantes a Ele! Vestimos a veste de Cristo, que age em nós e por nós. Todos, não só os sacerdotes ordenados, agimos em nome de Cristo, em razão do sacerdócio comum baptismal. Cristo vai visivelmente até ao nosso próximo, através dos nossos passos, da nossa voz, do nosso testemunho. Por isso é que vos foi dito: “Cristo conta contigo”! E cada um de vós respondeu: “e eu com a Sua graça”! 3- Como os Mártires e os Santos O Apocalipse fala da multidão dos 144.000 que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro. Suas vestes tornaram-se brancas como a luz (Apoc. 7,14). Paradoxalmente as vestes tornam-se brancas no sangue de Cristo e não tintas! A veste que o convidado para o banquete de núpcias não possuía, segundo a parábola do evangelho de S. Mateus, é apanágio das verdadeiras testemunhas, dos mártires, que conformam a sua vida a Cristo e sempre falam não deles mas de Alguém maior do que eles, que é Jesus Ressuscitado. Essa veste é a veste do amor que se espalha na morte de Cristo entregue por amor e nos deu a maior prova de amor. Esta veste de amor espalha-se no nosso amor a Deus e demonstra-se no amor que dedicamos uns aos outros. Peço-Vos: Revesti-vos de Cristo! Amai o Senhor e amai-vos uns aos outros. “Tende em vós os mesmos sentimentos que existiam em Cristo Jesus” (Fil. 2,5). Segui o Senhor, pelo caminho da cruz. Anunciai Cristo, com ardor. Confia n’Ele. “Não tenhais medo”. Acreditai que Ele vive em Vós e caminha convosco. “A paz de Deus nosso Pai e de Jesus Cristo Nosso Senhor esteja sempre convosco”! Ámen! D. Amândio Tomás, Bispo Auxiliar de Évora

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