«Através dos seus versos aprendi uma música que até aí não sabia que o mundo possuía», salienta o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa
Lisboa, 24 mar 2015 (Ecclesia) – O poeta madeirense Herberto Helder, um dos maiores nomes da literatura portuguesa contemporânea, morreu esta segunda-feira aos 84 anos na sua casa em Cascais.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, o padre e também poeta José Tolentino Mendonça, conterrâneo do autor, destaca a “imortalidade da sua obra e da sua experiência” de vida.
Um legado que “permanecerá para lá do desaparecimento do poeta e que constitui um dos patrimónios mais intensamente originais que a cultura portuguesa de todos os tempos produziu”, salientou o atual vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.
Natural do Funchal, Herberto Hélder de Oliveira é considerado o maior poeta português da segunda metade do século XX e estreou-se na literatura com a obra “O Amor em Visita”, em 1958.
Durante quase 60 anos, a par de outras ocupações profissionais, inclusivamente como redator e repórter, publicou dezenas de títulos como a “Apresentação do Rosto”, uma autobiografia apreendida pela Censura em 1968; a “Vocação Animal” em 1971; “A cabeça entre as mãos” em 1982; “A faca não corta o fogo”, em 2008 e “Servidões” em 2013.
Em 1994 o autor viu ser-lhe atribuído o Prémio Pessoa como reconhecimento por uma obra literária impar no contexto do país, no entanto recusou o galardão por querer permanecer fora dos holofotes.
O padre José Tolentino Mendonça, antigo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, recorda um homem que “mergulhou profundamente nas dimensões do silêncio e do mistério”.
“A sua palavra nada tem da ruidosa sonoridade do tempo mas Herberto Helder é como o poeta mineiro que com uma luz na testa escava as profundidades mais recônditas do silêncio, do coração”, apontou.
O último trabalho de Herberto Helder, intitulado “A morte sem Mestre”, foi escrito em 2013 e publicado em meados do ano passado pela Porto Editora.
À Agência ECCLESIA, José Tolentino Mendonça descreve a forma como aquele autor o influenciou na juventude.
De tal modo que o primeiro poema que escreveu, em 1990 com 24 anos, teve como título “A infância de Herberto Helder”.
“Os seus poemas foram o meu primeiro mapa para a abordagem à própria poesia e através dos seus versos aprendi uma música que até aí não sabia que o mundo possuía”, frisou o vice-reitor da UCP.
O funeral de Herberto Helder está marcado para esta quarta-feira e segundo a Porto Editora será “reservado à família”.
JCP