Cultura: Duas gerações de escritoras que leem e escrevem na pandemia (c/vídeo)

Alice Vieira e Marta Arrais estiveram à «Conversa na Ecclesia» sobre a inspiração que o período de confinamento pode oferecer


Lisboa, 19 jun 2020 (Ecclesia) – A escritora Alice Vieira encontrou neste tempo de pandemia de Covid-19, e de encontros à janela, o cenário para começar a escrever um romance, “a quatro mãos”, que descreve o que tem vivido e acompanhado.

“Para uma pessoa que, além de escritora é jornalista, tudo o que está a acontecer serve para contar. Servi-me disso para, com uma amiga, escrevermos um romance a quatro mãos. Estamos a publicar nas redes sociais e depois será publicado em livro”, explica, na edição das ‘Conversas na ECCLESIA’ desta sexta-feira.

O livro, que terá por título geral ‘Pó de arroz e janelinha’, recordando uma frase da sua mãe, relata a vida de um grupo de pessoas, com diferentes profissões que se encontra confinado em casa.

Já a escritora Marta Arrais confessa que precisou de algum tempo para poder começar a escrever sobre as consequências da pandemia, até porque, confessa, inicialmente achou que talvez “não fosse tão sério” como depois se mostrou.

“Em termos de escrita, temos matérias para escrever sobre muita coisa e é também uma oportunidade para refletir como está a nossa vida. Para mim, este tempo serviu para pensar no que estava a fazer, a gerir o meu tempo, estava a viver depressa demais. Essa reflexão dá origem a novos textos que vão de encontro aos que outros pensam”, assinala.

Alice Vieira, que escreve de manhã, com barulho e no computador portátil que nunca saiu do mesmo local, assume este como um tempo “criativo”, em que dificilmente “deixaria de escrever”: “Pensamos muito mas sobre as pequenas coisas que agora são tão importantes; as pessoas que se lembram de nós e nos telefonam, a vizinha da frente que eu não conhecia e agora nos falamos”.

Marta Arrais, que ordena a sua escrita à noite, quando consegue fazer silêncio e perceber o que sentiu durante o dia para o traduzir nas crónicas, prefere desafiar as pessoas a pensar sobre “práticas pessoais e de cuidado com os outros”.

“Só podemos escrever sobre o que conhecemos. Escrevo sobre o que me perturba, ou me diz algo. Não me demito, quando escrevo para os outros, diz-me sempre a mim também. Há uma ligação imensa entre o que somos e o que escrevemos e damos ao outro o que vai cá dentro”, explica.

A escritora e jornalista fala da importância de ajudar as pessoas a sentirem-se mais animadas: “Eu raramente falo da Covid, mas falo das consequências e acho que temos de ajudar a encarar as coisas de formas mais simples. Temos de ajudar as pessoas a perceber o que se passa mas a reagir também”.

“O mundo nunca mais será o mesmo. Seremos outras pessoas quando isto acabar. Já adquirimos outras maneiras de pensar e viver, já prescindimos de algumas coisas, percebemos que não precisamos de tudo”, acrescenta.

Marta Arrais acredita que com o que o mundo atravessa, o ser humano “vai ter de mudar”.

“Ainda me assusto a pensar nas consequências em termos humanos, porque inicialmente pensei que iríamos todos ser melhores pessoas e tenho verificado que algumas mostram o pior que têm, e isso é difícil de perceber. As pessoas vão ter de aprender a tratar melhor os outros, de uma forma ou de outra, porque o mundo mudou”, finaliza.

O projeto ‘Conversas na Ecclesia’ visa partilhar, de segunda a sexta-feira, um tempo de diálogo sobre cinco temas, publicados nas redes sociais, a partir das 17h00.

A semana começa com temas direcionados para jovens, depois a solidariedade e o cuidado da casa comum, as novas formas de liturgia e de pertença, os acontecimentos vividos a partir do Vaticano e, a terminar a semana, uma conversa com propostas e perspetiva culturais.

LS

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