Cultura da vida: maternidade em exposição

Ir ao restaurante do Palácio da Independência, em Lisboa, não significa procurar uma simples refeição. Neste espaço, e até ao dia 30, o palato associa-se à visão e a partir daqui o cliente é convidado a deixar-se levar pelo mundo da “Maternidade”. Várias peças de escultura e pintura de vários artistas portugueses, que se associaram a esta exposição e a esta causa, porque os fundos revertem a favor das instituições “Ponto de Apoio à Vida”, “Ajuda de Mãe” e ADAV (Associação de Defesa e Apoio da Vida). “Não tenhas medo”, “O berço”, “Mãe e filhos” “A protegida”, “A grávida” são títulos de algumas obras e representam uma realidade para muitas mulheres nem sempre protegidas ou convenientemente acompanhadas. “A origem deste projecto está na cultura da vida e na arte do bem fazer” esclarece à Agência ECCLESIA Sofia Guedes, que através do grupo Sinais de Vida, promove esta exposição. “A arte é também uma cultura à vida através da estética e do belo e esta é uma maneira de contemplar, falar e apoiar a maternidade” refere. Todas as peças são de artistas portugueses que desenvolveram trabalho nesta área e que “ofereceram para esta causa”. Numa altura em que o tema do aborto está em cima da mesa consideram que “cada vez mais é importante falar no trabalho que várias instituições fazem no apoio às mulheres”. José Abecassis, como responsável pelo restaurante explica que “o tema atraiu-me logo assim como o facto de podermos ajudar algumas associações”. As pessoas vêem com agrado a exposição e “circulam pelo restaurante” facto pouco habitual nos estabelecimentos. Os clientes “compram de facto as peças o que é muito positivo” sublinha José Abecassis e manifestam curiosidade “especialmente em relação ao tema que não esperavam e que consideram estar muito bem conseguido”. Nas duas salas que ocupam a exposição podem encontrar-se peças para todos os gostos, sempre alusivos à maternidade: o corpo da mulher grávida, crianças fotografadas, pinturas infantis ou mãos pequenas que procuram junto de mãos maiores a protecção da maternidade. Joana Tinoco de Faria é psicóloga no Ponto de Apoio à Vítima, uma das instituições beneficiárias da exposição. “É principalmente uma promoção à cultura da vida” explica à Agência ECCLESIA, sendo a arte uma delas. Mais do que ajudar em termos financeiros é importante “falar da vida de uma forma menos convencional” normalmente através de debates, mas onde as obras falam por si. Desengravidar Da sua experiência de um ano e meio ao serviço do Ponto de Apoio à Vida o crucial é “acolher as mulheres e ao seu sofrimento” fazendo caminho com elas “e não por elas” sublinha. Porque as mulheres que procuram a associação são pessoas que “lidam com gravidezes indesejadas e não planeadas” e que interferem no projecto que tinham estabelecido para as suas vidas “e isso causa sofrimento interior”. É um processo que demora tempo e não se mede, “porque lidamos com factores humanos” explica a psicóloga, sublinhando que não se consegue ajudar se “elas próprias não quiserem”. A procura da associação dá-se muitas vezes porque as mulheres “como elas mesmo afirmam querem desengravidar”. Ao invés, a associação propõe um caminho que quem não tem condições sociais, financeiros e emocionais “e por isso tentamos ajudar, propondo objectivos diferentes”, porque como afirma “a mulher sente-se pressionada pelas próprias circunstâncias e o aborto acaba por não ser uma escola”. Dos casos que acompanha constata que ao aborto trás muito sofrimento a longo prazo “porque uma mulher que aborta não tem noção imediata do que está a fazer e a palavra desengravidar é bastante elucidativa da forma como inicialmente se lida com a gravidez indesejada” esclarece. Mas uma gravidez indesejada e negada psicologicamente torna-se numa gravidez muito desejada e num bebé muito desejado e a partir daí “tudo se torna mais fácil”.

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