Igreja quer que as comemorações em torno do monumento, em Lisboa e Almada, sejam «uma provocação para a actualidade» As celebrações do cinquentenário do monumento ao Cristo-Rei devem ser iniciativas de memória, mas, sobretudo, “de profecia” porque “devem ser uma provocação para a actualidade” – disse D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, na conferência de imprensa destinada a apresentar as iniciativas das celebrações desta efeméride. Estas actividades pretendem “proclamar o milagre da paz da biografia da pátria,” mas também momentos que “pudessem incidir no concreto do que estamos a viver”. Seria “uma lacuna” se as celebrações não tivessem um simpósio sobre esta temática: «Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise»). Ainda com os acontecimentos do Bairro da Bela Vista bem presentes, D. Carlos Azevedo sublinha que a Igreja “não está com os olhos fechados para estas realidades” como foram os “incidentes na diocese de Setúbal”. Depois de apresentado todo o percurso da Imagem de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa e em Almada, Francisco Noronha de Andrade realçou que foram convocadas todas as embarcações para participar na procissão fluvial. A emblemática «Escola de Sagres» estará presente nesta passagem de Lisboa até Cacilhas. Os dois representantes das Câmaras Municipais envolvidas – Lisboa e Almada – disseram aos presentes que as edilidades estão empenhadas. “Por detrás das fachadas há questões de fé” – disse José Ferreira da Câmara de Lisboa. Por sua vez, António Matos, da Câmara que acolhe o monumento a Cristo Rei realça que o monumento é um “ícone da cidade” e desafia “Portugal inteiro a estar presente naquela celebração”. Depois das comemorações Neste cinquentenário, o monumento receberá também obras de melhoramentos. “Iremos participar no projecto da nova iluminação que será moderno e atingirá muitos quilómetros de distância” – frisou José Ferreira. O reitor do Santuário, Pe. Sezinando Alberto anunciou também aos jornalistas que a «nova iluminação» estará orçamentada em cerca de 150 mil Euros e as despesas serão divididas em partes iguais pela Câmara de Almada, Lisboa e Santuário. A requalificação dos espaços envolventes ao santuário é outra obra a realizar nos próximos tempos. Em relação às despesas para as comemorações, o Pe. Sezinando afirma que – “devido à crise vigente” – o orçamento “será austero e não deverá ultrapassar os 200 mil Euros”. O reitor deste santuário anunciou também aos jornalistas que será feita – durante as comemorações – uma geminação deste Santuário com o Corcovado, no Brasil. Nas celebrações estará, em Almada, o arcebispo do Rio de Janeiro e o reitor do Corcovado. Em Outubro será a vez da delegação portuguesa se deslocar ao Brasil para completar a segunda parte da geminação. O reinado social de Cristo motivou muitos leigos militantes na época da segunda grande guerra a construírem o monumento ao Cristo Rei. “Mobilizar para a paz é uma tarefa urgente” – pediu D. Carlos Azevedo. E acrescenta: “não é só com segurança e vigilância que se resolverão os problemas sociais”. Só um “coração verdadeiramente humano” é que as pessoas poderão “transformar a política e a economia”. “Transformar as realidades do nosso tempo”. A crise actual foi fruto “da cobiça e da falta de ética”. Ao observar a realidade actual, D. Carlos Azevedo apelou à ética na política e na economia. Mais do que uma questão religiosa, o “cristianismo é chamado a contribuir para um estilo de vida novo”. O comissário do Simpósio «Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise»), João Menezes afirma que esta iniciativa, a realizar no Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL), dia 15 de deste mês, divide-se em duas partes: a primeira é o diagnóstico e a segunda passa pela apresentação de propostas e “novos olhares para a resolução destas questões”. Ao explicar o conceito de solidariedade, João Menezes aponta que esta não está somente relacionada com a dimensão social. “Há uma interdependência económica, social, ambiental e cultural”. E adianta: “nunca haverá um modelo de desenvolvimento macro ou cidadania global sem que haja uma cidadania local”. Cantata ao Cristo Rei Em ante-estreia, D. Carlos Azevedo, autor da letra da Cantata sobre o Cristo Rei, anunciou aos jornalistas um pequeno extracto da cantata: «Rei de verdade e de vida, não deixes estes filhos do mar terem coração de ilha. Rei de santidade e de graça, retira de amarras amargas as naus adiadas. Rei de Justiça, de amor e de paz salva-nos da turva manhã sem visão».