Padre Amaro Gonçalo tem recorrido à transmissão online de celebrações e espera que o recurso ao digital se torne permanente
Matosinhos, 31 mar 2020 (Ecclesia) – O pároco de Nossa Senhora da Hora, na Diocese do Porto, afirma que “falta o cheiro das ovelhas”, mesmo mantendo o contacto pela internet, e valoriza a adesão da comunidade e potencialidades do online.
“Falta o cheiro das ovelhas, a internet não tem cheiro, a gente vê-se, ouve-se, mas de facto a pior coisa é não poder sentir o cheiro das ovelhas”, disse o padre Amaro Gonçalo, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O pároco da igreja de Nossa Senhora da Hora, em Matosinhos – Diocese do Porto, explica que para si “a maior penitencia”, deste tempo de isolamento social por causa da pandemia do coronavírus Covid-19, é “não puder tocar e abraçar”.
“É verdade que comunicamos, conversamos, o telefone está constantemente em linha, tenho ligado aos doentes, aos colaboradores, aos amigos, mas faz falta este cheiro”, sublinha o padre Amaro Gonçalo que destaca a descoberta de “potencialidades” nas transmissões pela internet que, “numa dose talvez diferente”, possam depois “aprender a ativar”.
Segundo o sacerdote, os católicos estão “muito enclausurados no templo” e a situação atual está a “obrigar a perceber” que podem ter propostas para as pessoas a partir de sua casa e, deu como exemplo, quando se queixam “da assiduidade” das crianças na catequese “com os pais separados” e não têm encontrado “muitas respostas” mas “uma partilha online, uma catequese com quem está ausente, com quem não pode estar de maneira nenhuma” é uma possibilidade.
Este sobressalto mediático pode, num tempo futuro, ser um novo normal naquilo que agora tem carater de excecionalidade, obviamente com todos os equilíbrios, mas creio que estamos a descobrir um potencial que estava adormecido”.
O padre Amaro Gonçalo destaca o “desafio muito grande”, sobretudo com “as pessoas que estão sós”, e explica que tem preparado as celebrações que são transmitidas pelo Facebook, para além da Missa, a lectio divina, “a preparação para o domingo no sábado anterior”, na sexta-feira fizeram uma “celebração penitencial”, às vezes, pedem a pessoas e leitores da comunidade que “gravem textos” para não ser sempre a voz do pároco.
Este domingo foi a Festa do Pai-Nosso e as crianças do 2.º ano da Catequese foram desafiadas a partilhar um vídeo de uma celebração, que fizeram em grupo numa plataforma online, e “comoveu profundamente” o pároco também pelas relações familiares.
“As pessoas têm descoberto esse lado familiar da Igreja doméstica, mas também precisam que as espicacemos, que estejamos do lado de cá a disponibilizar propostas. Estamos constantemente a tentar que as pessoas não percam a relação”, acrescentou.
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Sobre a transmissão da Eucaristia pelo Facebook, afirmou que está “completamente surpreendido” com a adesão; este domingo, por exemplo, tinham mais de “800 pessoas em permanência”, as pessoas ligavam às outras, e, em Angola, “um irmão tinha 700 e tal pessoas a acompanhar”, inclusive o bispo de Sumbe.
Para esta adesão, o pároco da Nossa da Hora realça a importância da “proximidade”, afinal as pessoas têm celebrações com “maior qualidade de transmissão”, pela televisão, e celebrações “até com maior qualidade litúrgica,” mas “querem ver o seu pastor, é diferente para elas”.
“Não aceito que me digam que é uma comunicação virtual e queriam desprezar o tipo de comunicação. Muitos de nós mesmo na Igreja ainda não percebemos que o virtual é tão real como o real. As pessoas mostram que estão em comunhão, esta comunhão não é fictícia, não é virtual. As pessoas sentem-nos próximos e nos sentimos a proximidade das pessoas”, desenvolve.
O padre Amaro Gonçalo destacou ainda o exemplo da ‘Lectio divina’, há semana, quando teve 150 pessoas a rezar consigo e, na igreja costumava ter “10 a 20 pessoas na melhor das hipóteses”, e revelou que tem “pensado” que andam “a abusar da presença física das pessoas”, por exemplo, nas reuniões pastorais.
“Esta experiência não pode ser um intervalo na nossa vida pastoral, tem de ser uma ferramenta de uso frequente, normal”, afirmou o responsável pela comunidade da Nossa da Hora, na Diocese do Porto.
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