«A solidariedade é precisamente o caminho para sair melhores da crise» – Francisco
Cidade do Vaticano, 02 set 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco manifestou hoje a alegria de ter a presença de fiéis e turistas nas suas audiências gerais de quarta-feira e apelou a “uma solidariedade guiada pela fé” que permite traduzir o amor de Deus na cultura globalizada”.
“Depois de tantos meses retomamos o nosso encontro face a face, e não ‘tela a tela’, mas face a face”, disse, esta manhã, no Pátio de São Dâmaso no Vaticano, no início da sua catequese com aplausos de cerca 500 fiéis e turistas que marcaram presença na primeira audiência geral com pessoas desde 27 de fevereiro.
Na sua reflexão, o Papa falou sobre ‘Solidariedade e a virtude da fé’ dando continuidade ao ciclo de catequese sobre o tema ‘Curar o mundo’, no contexto da pandemia originada pelo coronavírus Covid-19.
“Uma solidariedade guiada pela fé permite-nos traduzir o amor de Deus na nossa cultura globalizada, não construindo torres ou muros que dividem e depois desabam, mas tecendo comunidades e apoiando processos de crescimento verdadeiramente humanos e sólidos”, explicou.
Francisco assinalou que a atual pandemia “pôs em evidência a interdependência” das pessoas, estão “todos ligados uns aos outros, tanto no mal como no bem” e para saírem “melhores desta crise” deve ser em conjunto, porque “sozinhos não se consegue”.
“A solidariedade hoje é o caminho a percorrer em direção a um mundo pós-pandemia, para a cura das nossas doenças interpessoais e sociais. Não há outro. Ou seguimos em frente pelo caminho da solidariedade ou as coisas irão piorar. Quero repetir: De uma crise não sai como antes. A pandemia é uma crise. De uma crise, sai-se melhor ou pior, temos que escolher. E a solidariedade é precisamente o caminho para sair melhores da crise, não com mudanças superficiais, com uma pintura assim e tudo está bem. Não. Melhores!”
O Papa salientou que “como família humana” a origem comum é em Deus e vive-se numa casa comum: “O planeta-jardim no qual Deus nos colocou e temos um destino comum em Cristo mas quando esquecemos isso a nossa interdependência torna-se a dependência de uns em relação aos outros.”
Lembrando São João Paulo II na Encíclica ‘Sollicitudo Rei Socialis’, o Papa explicou que o princípio da solidariedade “torna-se mais do que nunca necessário”, porque mesmo numa “aldeia global”, onde tudo está interligado, nem sempre essa interdependência é transformada em solidariedade.
“Há um longo caminho entre a interdependência e a solidariedade: Os egoísmos – sejam individuais, nacionais e dos grupos de poder – e as rigidezes ideológicas, alimentam «estruturas de pecado»”, acrescentou.
Francisco explicou que a palavra solidariedade significa “muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade”, supõe a criação de uma nova mentalidade que “pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns”, “não é só questão de ajudar os outros, trata-se de justiça”.
“Construímos torres e arranha-céus, mas destruímos a comunidade. Unificamos edifícios e línguas, mas mortificamos a riqueza cultural. Queremos ser senhores da Terra, mas arruinamos a biodiversidade e o equilíbrio ecológico”, alertou o Papa, que deu como exemplo a Torre de Babel, narrada no Livro do Gênesis.
Para ilustrar o “síndrome de Babel”, Francisco lembrou um conto medieval onde na construção de “um tijolo valia mais que uma vida humana” e relacionou com a atualidade: “Infelizmente, algo semelhante pode acontecer também hoje. Alguma queda no mercado financeiro é notícia em todas as agências. Milhares de pessoas caem por causa da fome, da miséria, e ninguém fala nisso”, exemplificou.
Na audiência geral desta quarta-feira, Francisco convidou também a um dia universal de jejum e oração pelo Líbano, esta próxima sexta-feira, 4 de setembro, um mês depois da explosão no porto de Beirute, a capital do país, que provocou vários mortos, milhares de feridos e elevados danos materiais.
No final, o Papa Francisco saudou alguns dos participantes na audiência geral, nomeadamente o bispo auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar, presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
CB
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