Covid-19: Pandemia veio acentuar «crise de alma», com sentimentos de solidão e abandono que exigem resposta de esperança – bispo de Lamego

D. António Couto diz que Igreja tem de «trazer Deus de volta a este mundo»

Foto: Agência ECCLESIA

Lisboa, 04 abr 2021 (Ecclesia) – O bispo de Lamego disse à Ecclesia e Renascença que a pandemia veio acentuar o isolamento do Interior português e a “crise de alma” que atinge a sociedade, para as quais se exigem respostas de esperança.

“É evidente que a pandemia veio isolar ainda mais este Interior, que já está bastante despovoado – muito despovoado, muito envelhecido – e em que as pessoas estão muito sozinhas”, adverte D. António Couto, na entrevista semanal conjunta que é publicada e emitida ao domingo.

O responsável católico fala das dificuldades sentidas numa diocese envelhecida e desertificada, afirmando que a Igreja tem de levar esperança às pessoas, porque uma crise como a atual não se resolve só com “psicólogos”.

“É preciso quem fale de Deus” e “com Deus”, sustenta D. António Couto, numa entrevista a propósito do seu mais recente livro ‘O lado de cá da meia-noite – atravessar a crise”.

“É notório que as pessoas se sentem abandonadas. E aí é que nós temos de aparecer, não apenas para estarmos próximos das pessoas e para lhes dizer duas palavras de circunstância, que são as habituais, mas para lhes dizermos que há solução para essas lágrimas e para essa dor”, aponta.

O bispo de Lamego duvida que, no pós-pandemia, o mundo fique “um paraíso”, e considera urgente “trazer Deus de volta” ao quotidiano.

“O grande ausente deste mundo, no meio desta pandemia, é Deus”, adverte.

Sem Jesus vivemos sem esperança, porque sem Deus no mundo. Não é só sem Deus, é sem Deus no mundo. É importante trazer Deus de volta a este mundo, ao nosso mundo, ao nosso quotidiano, ao nosso viver, de tal modo que eu, com a minha maneira de dizer, de fazer e de ser, seja uma testemunha que aponte para Deus”.

Para o especialista no estudo da Bíblia, a Igreja não se pode limitar a “palavras de circunstância” quando alguém sofre.

“Temos de saber ir mais longe e mostrar a este mundo não apenas que são necessários psicólogos e fotógrafos para verem as situações”, precisa.

O bispo de Lamego lembra que as figuras bíblicas e o povo bíblico, que “atravessa dramas imensos”, nunca se sentiram “abandonados” e viam sempre “a mão de Deus por perto”.

O entrevistado destaca, por isso, a importância de celebrar a Páscoa, a Ressurreição de Jesus, a “notícia” da vitória da vida sobre a morte.

“É a vida de Deus, o modo de viver de Deus, que chega ao meu mundo e que transforma a minha vida. Isso tem de ser dito e nós apenas nos limitamos a bater nas costas das pessoas e a darmos as nossas condolências. É preciso dizer que vivemos já na vida de Deus que não termina: a Palavra de Deus é Espírito e Vida, nós comungamos o Pão da Vida, Jesus Cristo, que é essa vida nova, a vida eterna, a vida de Deus, a vida que há em Deus e que já explodiu no nosso mundo”, conclui.

Octávio Carmo (Ecclesia) e Ângela Roque (Renascença)

 

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