Provedor da irmandade fala em momento «bastante triste» e «único» na histórica tradição de Quaresma
Lisboa, 23 fev 2021 (Ecclesia) – A Real Irmandade da Santa Cruz e Passos da Graça vai deixar de realizar pela primeira vez na sua história, por causa da pandemia, a procissão com a imagem do Senhor dos Passos em Lisboa, que sai desde 1587 no segundo domingo da Quaresma.
“É um ano bastante triste para nós, é um ano que pela primeira vez a imagem do Senhor dos Passos não sai em procissão nas ruas de Lisboa”, disse à Agência ECCLESIA o provedor da instituição.
Francisco Mendia afirma que “é um ano único”, mas recorda que já tiveram situações semelhantes nas quais imagem “acabou sempre por sair”, como, por exemplo, nas Invasões Francesas ou na implementação da República, e mesmo na Gripe Espanhola, no século XX.
“É uma situação para nós verdadeiramente excecional e é com grande tristeza que isto acontece. Faz parte da nossa caminhada dos irmãos, cerca de 500, na Quaresma”, acrescenta o provedor, em entrevista emitida hoje na RTP2.
A Real Irmandade da Santa Cruz e Passos da Graça tem 435 anos e foi constituída para realizar esta procissão que se realiza desde o século XVI, assumindo-se como “possivelmente a maior devoção de Lisboa”, salienta Francisco Mendia.
O entrevistado recorda que esta foi “a primeira procissão de Passos em Portugal”, por isso, é “tão acarinhada” pela cidade de Lisboa e inspirou outras em vários países, como o Brasil ou a Índia.
Francisco Mendia assinala que a imagem do Senhor dos Passos “encerra em si todo o objeto desta irmandade”, mas destaca o Santo Lenho, “a peça mais especial”, e o resplendor do Senhor dos Passos oferecido pelo Rei D. José.
A irmandade conserva um arquivo desde 1586, que permite encontrar “coisas fantásticas como irmãos que vão na 14.ª geração sucessiva”, acrescenta.
No próximo domingo, o segundo da Quaresma, sem a tradicional procissão, entre a igreja de São Roque até à igreja da Graça, a irmandade vai transmitir a Missa, presidida por D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, às 11h00, na sua página no Facebook, nos meios digitais do Patriarcado de Lisboa e da Agência ECCLESIA e pela Rádio Renascença.
O cónego Jorge Dias, pároco da Graça e capelão da irmandade, salienta que a procissão tem um “peso histórico muito grande” e acompanha qualquer pessoa desta zona histórica de Lisboa.
“Para a cidade, desperta aquilo que são os sentimentos religiosos às vezes apagados; e nos cristãos acaba por convidar a uma vivência mais profunda e mais séria do mistério pascal”, acrescentou o sacerdote.
PR/CB/OC