Sílvia Monteiro, médica cardiologista, em Coimbra, está atenta ao «pulsar» das comunidades crentes e garante que a espiritualidade fomenta o «equilíbrio emocional»
Coimbra, 10 abr 2021 (Ecclesia) – Sílvia Monteiro é médica cardiologista, em Coimbra e disse em entrevista à Agência ECCLESIA que a pandemia é uma oportunidade para a Igreja Católica cuidar a empatia, encontrar líderes inspiradores, “definir estratégias de comunicação” e “dar voz à diversidade”.
Após ter trabalho nas unidades de cuidados intensivos Covid nos últimos meses, Sílvia Monteiro considera que a pandemia “pode ser um bom desafio” para a Igreja Católica, porque “há uma nova abertura para questionar o sentido da vida”, e deve encontrar formas de comunicar uma “mensagem fantástica” e “iluminar a humanidade nesta fase tão negra”.
“Precisamos mais do que nunca de lideranças na Igreja. Não queremos chefes da Igreja. Precisamos de líderes inspiradores, que promovam uma Igreja verdadeiramente sinodal. Precisamos de lideranças humildes, sinodais, que cativem leigos de valor a unir-se à Igreja, para trazer valor para dentro da Igreja”, afirmou.
Sílvia Monteiro considera que “é absolutamente fundamental dar voz à diversidade, dentro da unidade que é a Igreja” e, em conjunto, perspetivar uma “Igreja inserida na sociedade”.
“Temos a graça de ter um grande líder que nos diz quase tudo. O problema é fazer a translocação daquilo que o Papa diz para as nossas realidades locais. O caminho está a ser lento”.
Para a médica cardiologista, é importante trabalhar em equipa, promover uma “partilha multidisciplinar”, “muito típica da medicina” e mas que se pode aplicar em Igreja, pode ter “um valor muito grande”.
“Nos nossos ritmos, em Igreja, as pessoas que são convidadas habitualmente para dar voz são todas muito iguais, com opiniões muito semelhanças. E isto hoje em dia nas empresas não acontece! Há a preocupação de convidar pessoas com idades, género e ideologia política e interesses muito diversificados, para levar à discussão, porque é na discussão que conseguimos avançar para novas propostas”, referiu.
Sílvia Monteiro considera que é necessário trabalhar a empatia, em Igreja, “ser capaz de se colocar no lugar do outro, sentir as dores do outro”.
Nós leigos, nas mais variadas profissões, fazemos isto melhor do que a maior parte do clero”, alerta, acrescentando que “a sociedade evoluiu tanto ao longo do tempo” e “é impossível que uma pessoa consiga abarcar todas as áreas da sociedade”.
A comunicação deve também ser uma prioridade, para a Igreja Católica, considera Sílvia Monteiro, referindo que “uma boa estratégia de comunicação tem um poder absolutamente transformador em qualquer organização e é crítico para a Igreja”.
“Temos de ser muito pragmáticos: a nossa mensagem é fortíssima. Portanto, se estamos a perder terreno, seguramente que somos nós que estamos a falhar. E é fundamental investir em comunicação”.
A médica cardiologista lembra o “grande investimento” em projetos de comunicação que pandemia provocou, considerando que agora “é preciso dar um outro passo” e. “definir estratégias de comunicação, como qualquer empresa” e “cuidar a linguagem”.
“Eu acredito que uma boa estratégia de comunicação tem um poder absolutamente transformador em qualquer organização e é crítico para a Igreja”.
A médica em Coimbra disse ainda na entrevista à Agência Ecclesia, onde partilhou também a experiência de trabalho em cuidados intensivos cardíacos e, nos últimos meses, em cuidados intensivos Covid, que sonha com “uma Igreja que dê lugar a todos, em que todos tenham voz, que se abra a todas as realidades, à periferias”.
A entrevista a Sílvia Monteiro é emitida este domingo, o programa 70×7, na RTP2, às 15h30.
PR