Técnica do «Espaço Igual» da Cáritas de Braga, aponta que, em tempo de confinamento, as vítimas tentaram «aguentar ao máximo» e prevê aumento de pedidos de ajuda no desconfinamento
Braga, 07 mai 2020 (Ecclesia) – A Cáritas de Braga, através do serviço de acompanhamento a vítimas de violência doméstica, registou “pedidos de apoio” na fase de confinamento, associados a “necessidades básicas como água, luz, gás ou renda”.
“Muitas das situações novas que chegaram são essencialmente pedidos de apoio psicossocial, precisam de apoio psicológico e orientação mas também de apoio social, ou seja, chegaram-nos situações de violência doméstica associada a outros factores, seja de apoio alimentar ou necessidades básicas como água, luz, gás e renda”, conta Raquel Gomes em declarações à Agência ECCLESIA.
A Técnica do “Espaço Igual” – Centro de Informação e Acompanhamento a Vítimas de Violência Doméstica, da Cáritas de Braga, aponta ainda que continuam a acompanhar as situações já conhecidas, através de um “contacto telefónico, com horário alargado e divulgado nas redes” e surgiram situações diferenciadas e difíceis com o tempo de confinamento.
Existiam pessoas em percurso de autonomização, que já nem estavam na relação abusiva mas em acompanhamento pós-vitimação, totalmente independentes, e com o facto do confinamento, surgiram outras carências, como a perda de emprego ou o facto de estarem isoladas ou em casa sozinhas com os filhos, toda esta situação colocou as pessoas num patamar de enorme fragilidade”.
Perante as medidas de reabertura gradual da vida social, Raquel Gomes acredita que vão chegar mais pedidos de ajuda.
“Com o desconfinamento e a facilidade de recorrer às instituições, terem consciência do perigo a que tiveram expostas durante o confinamento e que outros confinamentos poderão existir no futuro porque é uma realidade que desconhecemos, acredito que vamos assistir a um número muito significativo de pedidos de ajuda”, afirma.
Raquel Gomes refere ainda que continuam a acompanhar de “forma particular os casos em que a vítima ainda está a coabitar com o agressor” tentando reforçar os “planos de segurança pessoal e dando sempre indicações do que poderia ser feito numa situação de emergência.
Não houve mais pedidos antes porque as pessoas tentaram aguentar o máximo que conseguiram, porque sabiam que iam lidar com uma realidade muito difícil quando pedissem ajuda”.
O “Espaço Igual” tem tido pedidos de casos “essencialmente de relações conjugais” e a técnica sente que “houve uma consciência muito grande” do “cenário devastador ao nível da violência doméstica” perante o confinamento e refere a antecipação da situação.
“Em termos nacionais e funcionando em rede, as instituições e o próprio Estado se preparou para a situação de emergência que implica necessidade e acolhimento, proporcionando a abertura de duas casas abrigo e mais centros de acolhimento de emergência para as vítimas, um esforço de antecipação”, considera.
O número de casos de violência doméstica durante o confinamento imposto pela pandemia da Covid-19 aumentou até 60%, alertou hoje o departamento europeu da Organização Mundial de Saúde, manifestando “profunda preocupação”.
SN/OC