Padre Francisco Mota assinala que «não há razão para a programação deixe de chegar» às pessoas
Lisboa, 20 mar 2020 (Ecclesia) – O diretor-geral da ‘Brotéria’, o centro cultural dos Jesuítas, afirmou que o atual isolamento social pede que a cultura “continue a poder oferecer” uma possibilidade de “encontrar sossego, repouso, no meio da confusão e da inquietação.
“Há coisas que podemos oferecer a quem está em casa e a quem procura algum tipo de alimento para aquilo que pensa e para a relação que continua a ter com o mundo nestes dias”, explicou o padre Francisco Mota, em entrevista à Agência ECCLESIA, sobre a programação adaptada às medidas originadas pelo coronavírus Covid-19.
Com duas propostas online, ‘Aos vossos lugares’ é o nome de um “programa mais ambicioso”, que “nasceu depressa e com alguma inconsciência”, com o intuito da programação da ‘Brotéria’ continuar a chegar “aos sítios onde as pessoas estão”.
“Apesar de fechados em casa continua a haver uma dimensão grande de ação e de dinâmica na qual participamos e à qual somos chamados e isto é importante”, destaca o padre Francisco Mota.
a Brotéria uniu personalidades como o poeta e cardeal José Tolentino Mendonça, artistas, escritores, músicos e outros agentes culturais para “criar um momento de beleza e de silêncio”, que será publicado todos os dias às 21h30.
Desde esta quarta-feira, a comunidade cultural procurar “levar a literatura, a música, a arte para dentro da casa de cada um, confiando que a cultura pode trazer paz e esperança”, através do site aosvossoslugares.com.
Foram convidados, entre outros, o escultor Rui Chafes, a banda Capitão Fausto, o músico de jazz Ricardo Toscano, a pianista Joana Gama, os escritores Jacinto Lucas Pires e Afonso Reis Cabral, a pintora Luísa Jacinto, a ilustradora Madalena Matoso, o bailarino Lourenço Ferreira ou o historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida.
“O que se vê é que há uma comunidade artística que continua inquieta no bom sentido, que continua a querer garantir que aquilo que vê do mundo, que ouve, pode ser significativo para quem vive o seu dia a dia nestas circunstâncias excecionais”, desenvolve o diretor-geral da ‘Brotéria’.
O centro cultural foi inaugurado a 22 de janeiro, e o padre Francisco Mota destaca que ao longo destes últimos meses de trabalho “se tem criado uma comunidade de gente verdadeiramente boa” à volta deste projeto.
A diversidade de convidados no programa ‘aos vossos lugares’ nasce da vontade de participar, “de olhar para o mundo, que continua a confiar no poder que a cultura tem”, de “construir paz, desafiar intelectualmente”, e fazer encontrar e procurar “a beleza”.
A segunda proposta online que o centro cultural da Companhia de Jesus no Bairro Alto oferece são conversas com os Jesuítas que vivem na ‘Brotéria’, através do Youtube, uma iniciativa que “nasceu naturalmente” percebendo que continuam “a ler, a escrever, a pensar”.
Segundo o padre Francisco Mota, a “comunidade tem crescido” com os programas que estão a dinamizar porque a programação “não é de entretenimento”, ou seja, não são ofertas que “servem só para passar o tempo e combater o tédio”.
“O que estamos a fazer é aquilo que enquanto projeto cultural sempre nos propusemos fazer: Ser uma voz que desperta a inquietação daqueles que buscam alguma coisa substancial do ponto de vista espiritual, intelectual, cultural”, desenvolveu, assinalando que continua uma tentativa de responder “às preocupações profundas das pessoas, agora pela internet”.
A Igreja está a viver o tempo da Quaresma, de preparação para a Páscoa, que este ano é “particularmente desafiadora” e, segundo o diretor-geral da ‘Brotéria’, para um centro cultural significa “atividade, programação”, e no coração de Lisboa destaca o “silêncio” que “deixou se ser angustiante” e agora é de uma cidade que “percebe que está a cuidar de si, dos outros, a construir o futuro”.
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