Corpo de Deus: Festa com raízes medievais leva milhares às ruas de Portugal

Celebração acontece no 60° dia após a Páscoa, unindo-se à Quinta-feira Santa

Lisboa, 31 mai 2018 (Ecclesia) – Os portugueses voltam hoje a celebrar a solenidade litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como Corpo de Deus, uma celebração com raízes medievais que é feriado nacional.

Desde o século XII, muitas localidades portuguesas unem-se á celebração da festa do Corpo de Deus, invocadora do “triunfo do amor de Cristo pelo Santíssimo Sacramento da Eucaristia”.

A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como “Corpo de Deus”, começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula “Transiturus”, em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

Na origem, a solenidade constituía uma resposta a heresias que colocavam em causa a presença real de Cristo na Eucaristia, tendo-se afirmado também como o coroamento de um movimento de devoção ao Santíssimo Sacramento.

Teria chegado a Portugal provavelmente nos finais do século XIII e tomou a denominação de Festa de Corpo de Deus, embora o mistério e a festa da Eucaristia seja o Corpo de Cristo.

Esta exultação popular à Eucaristia é manifestada no 60° dia após a Páscoa e forçosamente a uma quinta-feira, fazendo assim a união íntima com a Última Ceia de Quinta-feira Santa.

Em 1311 e em 1317 foi novamente recomendada pelo Concílio de Vienne (França) e pelo Papa João XXII, respetivamente.

Só durante a Idade Média se regista, no Ocidente, um culto dirigido mais deliberadamente à presença eucarística, dando maior relevo à adoração; no século XII é introduzido um novo rito na celebração da Missa: a elevação da hóstia consagrada, no momento da consagração.

No século XIII, a adoração da hóstia desenvolve-se fora da missa e aumenta a afluência popular à procissão do Santíssimo Sacramento.

A procissão do Corpo e Sangue de Cristo é, neste contexto, a última da série, mas com o passar dos anos tornou-se a mais importante.

Do desejo primitivo de “ver a hóstia” passou-se para uma festa da realeza de Cristo, na “Christianitas” medieval, em que a presença do Senhor bendiz a cidade e os homens.

A “comemoração mais célebre e solene do Sacramento memorial da Missa” (Urbano IV) recebeu várias denominações ao longo dos séculos: festa do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; festa da Eucaristia; festa do Corpo de Cristo. Hoje denomina-se solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, tendo praticamente desaparecido a festa litúrgica do “Preciosíssimo Sangue”, a 1 de julho.

A procissão com o Santíssimo Sacramento é recomendada pelo Código de Direito Canónico, no qual se refere que “onde, a juízo do bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo” (cân 944, §1).

A Agência ECCLESIA apresenta um especial dedicado à celebração do Corpo de Deus nas várias dioceses do país.

OC

Corpo de Deus: Celebrações e procissões nas 20 dioceses de Portugal

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