Corpo da «Lumen» e alma do Escutismo

Monsenhor Avelino Gonçalves faleceu há 25 anos mas deixou marcas na Igreja Portuguesa. Dele se poderá dizer o que diziam os veteranos de Napoleão: «far-nos-ia ir com ele até ao cabo do mundo». Referimo-nos a Mons. Avelino Gonçalves falecido há 25 anos (23 de Outubro de 1981) com 86 anos de idade. Nascido no concelho de Monção, Avelino Gonçalves conclui, em 1915, o Curso de Teologia com distinção. Por indicação expressa do Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos seguiu, em Outubro do mesmo ano, para Roma, onde até 1921, frequentou a Universidade Gregoriana que o formaria em Filosofia e em Teologia. Foi ordenado naquela cidade a 30 de Março de 1918 pelo cardeal Pompili, Vigário do Papa Bento XV. Regressado da «cidade eterna», Mons. Avelino Gonçalves foi presidente e depois assistente da antiga Juventude Católica de Braga de que fora sócio fundador, em 1912. Foi membro da direcção diocesana do Centro Católico e delegado da diocese de Braga ao Concílio Plenário Português realizado em Lisboa, em 1925. De 1931 até 1933 foi director do «Diário do Minho» onde “se afastou sistematicamente de todas as questiúnculas políticas e de ataques pessoais, dando ao jornal a feição católica no total significado do termo” – relatou Mons. Moreira das Neves. Corpo do Escutismo Em 1923, D. Manuel Vieira de Matos conheceu, em Roma, o Escutismo católico e logo resolveu adoptar no nosso país este método educativo de Baden Powell. Para lhe dar corpo e alma foi escolhido Mons. Avelino Gonçalves que imediatamente se lançou à difícil tarefa de coordenar esforços, aproveitar boas vontades e colocar em marcha a juventude. Para melhor executar o programa do Corpo Nacional de Escutas foi várias vezes ao estrangeiro e no Jamboree de Birkenhead, em 1929, travou relações pessoais com Baden Powell. O seu amor ao escutismo levou-o a fundar e dirigir a «Flor do Lis» e realizar quatro acampamentos nacionais: Aljubarrota, Cacia, Granja e Braga. Alma da Acção Católica Portuguesa Quando o Episcopado Português pensou na fundação da Acção Católica foi Monsenhor Avelino Gonçalves, designado pelo seu bispo, para juntamente com D. António Bento Martins Júnior (futuro arcebispo de Braga), participar nas reuniões preparatórias. Em 1933 foi nomeado Secretário Geral da Acção Católica a que daria as suas melhores energias. Fundou o Boletim da Acção Católica; organizou e dirigiu durante 12 anos a Casa dos Assistentes Gerais e promoveu Semanas Sociais. Por detrás de todas as iniciativas culturais e religiosas da Acção Católica estava sempre o dinamismo de Monsenhor Avelino que “conheceu horas de triunfo e também de incompreensão e de injustas críticas” – escreveu Mons. Moreira das Neves. Fundador da «Lumen» Em Fevereiro de 1948 sucedeu a Mons. Fernando Pais de Figueiredo na direcção da «União Gráfica» e do Jornal «Novidades». Na tomada de posse ficaram célebres as suas palavras: “O apostolado cristão junto da opinião pública é uma das tarefas que a sociedade moderna impõe com urgência inadiável à nossa consciência de católicos. Ao serviço da Pátria, nada parece mais importar ao jornal do que defender e procurar o bem comum contra o interesse particular legítimo, contra tudo o que divide e enfraquece as energias vitais da sociedade”. Estas palavras correspondiam a um programa que Mons. Avelino seria sempre fiel até ao último número do diário católico. Quando Pio XII instituiu a Festa de S. José Operário, Monsenhor Avelino Gonçalves pô-la logo em prática, promovendo em cada dia Primeiro de Maio, uma reunião-convívio de todo o pessoal da casa onde se apresentava como simples trabalhador. Assistente eclesiástico do Instituto de Serviço Social foi ainda o fundador e director da revista «Lumen» onde deixou “preciosos artigos de orientação para o clero”. Monsenhor Avelino Gonçalves foi ainda um escritor de estilo moderado e transparente, mais preocupado com a força das ideias do que com efeitos literários. São da sua pena os livros: «Mestre de Apóstolos»; «Dez anos de Acção Católica»; «Homens de Deus» «Ao serviço da verdade» e «Mundo novo – Almas Novas». Júlio Dantas chamava-lhe «Mestre da língua vernácula». Enquanto pôde costumava dar um passeio de automóvel aos sábados e passava as férias de Verão na sua casa de Moreira, no concelho de Monção. Com o agravamento progressivo da doença ficou inutilizado. Faleceu faz hoje 25 anos mas deixou marcas que o deixam vivo.

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