Coração de voluntário

Maria Teresa Maia Gonzalez, Escritora

“O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá” (Madre Teresa de Calcutá)

 

Tenho para mim que, neste mundo, não há nenhum coração mais poderoso do que o coração de um voluntário. É que, nesse coração, o dom do amor e o da alegria que dele deriva são constantemente multiplicados pelo Autor da Vida, cujo Filho Unigénito fez, um dia, perante milhares de homens e mulheres famintos, o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.

O coração do voluntário fez uma opção clara: decidiu renunciar ao comodismo, ao conformismo, ao egoísmo. Decidiu abrir-se para ouvir (e sentir!) a voz dos que não costumam ser ouvidos. E, depois de tomada essa decisão essencial, esse coração não mais volta a ser o mesmo, porque se humanizou. Não mais consegue ficar indiferente às carências e aflições dos outros. Porque esses “outros” passam a fazer parte de si mesmo. E, então, dá-se um fenómeno extraordinário: ao expandir-se para abrigar os outros, o coração do voluntário começa a assemelhar-se ao de Cristo, que como sabemos, é “manso, humilde” e misericordioso.

Para o voluntário – qualquer que seja o país em que se encontre – há sempre situações “de crise” em que procura colaborar para melhorar a qualidade de vida de quem mais precisa. Hoje em dia, sabendo que o nosso País e grande parte do mundo estão mergulhados numa crise de que tantos falam e poucos entendem, verificamos que tem havido uma resposta muito positiva da parte de muitos para minorar as carências dos mais pobres, veja-se, por exemplo, o caso do Banco Alimentar Contra a Fome. É muito bom que todos os cidadãos partilhem um pouco do que têm, para que muitas instituições possam levar o pão de cada dia a quem não o tem nem pode ganhá-lo com o seu trabalho. No entanto, para o voluntário, todo o tempo é tempo de ajudar quem conta consigo, por isso, não fica à espera das campanhas de solidariedade (sem dúvida, importantes), para cumprir a missão que abraçou. Tornou-se um combatente de alma e coração. E o seu combate é contra a exclusão, a indiferença, a dor, o desespero…

E o que espera aquele que conta com o coração de um voluntário? Muitas vezes, espera apenas ser ouvido; outras vezes, espera cuidados básicos de higiene; outras ainda espera a mão amiga que lhe estende a colher da sopa, porque já não consegue alimentar-se sozinho. Mas há também quem espera ouvir uma palavra de conforto – arma eficaz no combate à solidão e à angústia de quem viu a esperança desmoronar-se como um baralho de cartas.

Quanto ao voluntário, esse também espera algo: espera o milagre de fazer nascer um sorriso no rosto do idoso, do órfão, do recluso, do doente, da pessoa portadora de deficiência, do sem-abrigo que conta consigo. Espera e, geralmente, alcança este objectivo, o que o deixa imediatamente feliz. É que, como lemos na famosa Oração de S. Francisco de Assis, “é dando que se recebe”. Assim, na vida de um voluntário, o acto de receber e o de dar são um e um só. Porque se fundem. Porque um não existe sem o outro.

Tenho o privilégio de fazer serviço de voluntariado numa casa de saúde que acolhe e cuida de pessoas portadoras de doença mental e deficiência profunda. Como qualquer outro voluntário, cedo descobri que recebo incomparavelmente mais do que aquilo que dou, porque os tais “sorrisos” que vou ajudando a nascer alimentam a minha alma de uma alegria muito especial que, de outro modo, não conheceria. Uma alegria que eu acredito vir directamente de Cristo, que nos ensinou que tudo o que fizermos por amor, a Ele o faremos. Por isso, o tal sorriso encantador (seja de alívio, conforto, de esperança ou de ternura) que ajudou a nascer está exactamente à altura do seu coração de voluntário. Qualquer outro prémio lhe seria inferior.

O mais importante não é, de facto, o que se dá, mas o amor que acompanha o gesto e que lhe deu origem. Ora todo o gesto de um voluntário nasce… no Coração de Deus! E para Ele regressa, tendo dado frutos.

Neste Ano Europeu do Voluntariado, que muitos sintam a coragem de saírem de si mesmos e avancem prontos a dar – e a receber! Será preciso um esforço, sem dúvida. Há horários a ajustar, aprendizagens (às vezes um pouco difíceis) a fazer. Compromissos a assumir… O que posso, desde já, dizer é que esse esforço vai, certamente, valer a pena!

Mª Teresa Maia Gonzalez, Escritora

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