«Economia de Francisco» organizou conferência que juntou Francisco Ferreira da «Associação Zero» e Joana Balsemão, vereadora do ambiente da autarquia de Cascais
Lisboa, 19 nov 2021 (Ecclesia) – Francisco Ferreira, presidente da ‘Associação Zero’, disse que a Cimeira do Clima em Glasgow deixou “compromissos frágeis” e “pontos de partida”, sublinhando, no entanto, ser necessário encarar a resolução para as alterações climáticas “como algo mais profundo”.
“Continuo a achar que as Nações Unidas são o fórum certo para esta discussão. É um problema global, necessita de uma solução global com todos dentro. Precisamos de cada um de nós, ao nível das cidades, das autarquias e da concertação feita entre todas as nações”, assumiu num encontro organizado pela iniciativa ‘Economia de Francisco’, que juntou numa conferência digital a visão do ambientalista e a vereadora do ambiente da Camara Municipal de Cascais, Joana Balsemão, ambos participantes em Glasgow.
A responsável autárquica reconhece que as Cimeiras do Clima são momentos “não consensuais” mas regista, por exemplo, uma mudança na revisão dos compromissos – em 2015, em Paris, foi determinado que seriam aferidos a cada cinco anos, e em Glasgow essa meta passou para um ano, “procurando mais ambição”.
“As COP têm sempre aspetos criticáveis e outros aplaudíveis, nunca saímos sempre felizes – até a de Paris que foi a mais consensual, apenas criava uma arquitetura e mostrava que teríamos depois de preencher outros detalhes. Esses detalhes, em grande medida foram preenchidos agora na COP26. São aspetos menos atrativos que não chegam às páginas dos jornais, mas são importantes para assegurar que as promessas que foram feitas são mensuráveis e escrutináveis. São detalhes mais técnicos mas que conferem credibilidade e rigor”, explica.
Joana Balsemão regista a importância do ano de 2019: “As marchas pelo clima com os jovens a irem para a rua a exigir mudanças aos políticos; o relatório do IPCC (Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que indicou até que ponto o planeta continua a ser habitável; a tomada de posse da Comissão Europeia e o início do ‘green deal’”.
“Este quadro mostra tudo o que é necessário: regulamentações, líderes formais e informais que acreditam, pressão da rua e ciência como sustento de tudo isto”, resume.
Francisco Ferreira lamenta que o encontro em Glasgow não tenha permitido atingir as metas de emissão de gases com efeitos de estufa assim como “um apoio muito claro” aos países mais vulneráveis, em forma de seguro, que permitissem aceder a verbas que mitiguem as catástrofes provocadas pelas alterações climáticas e também o investimento em energias renováveis, a chamada rede de Santiago (do Chile), decorrente do encontro que aconteceria na capital do país sul-americano.
“Uma seca em Madagáscar tem um impacto diferente de um tufão nos EUA, por causa dos recursos financeiros disponíveis para uma recuperação imediata. Dos 100 mil milhões de dólares a atingir em 2020, chegámos a 78 mil milhões. Não atingimos o total, mas sem o acordo de Paris não o teríamos atingido”, reconhece.
Joana Balsemão indica que a diferença entre atingir 1,5 graus ou 2,1 graus, temperatura atual, significa “submeter 420 milhões de pessoas a ondas de calor, significa o dobro dos fracassos das colheitas, de não pesca no mar”.
“Isto é impactante. São números e é um efeito dominó que cria mais desigualdades, de doenças, mais águas estagnadas, cria migrações de grande escala, tumultos sociais”, vaticina.
Na conferência, moderada por Teresa Rebelo de Andrade, da Fundação Fé e Cooperação, que esteve também na COP26, os responsáveis reconhecem que o impacto das alterações climáticas distanciam os países e que serão as novas gerações o sofrer as consequências e em “maior escala”.
Em encontros de “alta pressão” com os negociadores a procurarem consensos “generalizados mas não vinculativos”, Joana Balsemão indica que a COP “não é o principio e o fim” e o “truque é encontrar formas de continuar a manter «a bola a rolar»”.
A vereadora de Cascais nas áreas da descarbonização, ambiente, cidadania e participação, indica que as cidades são parte do problema mas indica-as como parte da solução.
“São responsáveis por grande parte das emissões, concentram tudo em operações e edifícios, mas a concentração pode também ser positiva, porque junta ideias, massa crítica, e quando se encontra uma solução, pode ter um impacto positivo. Há sinais positivos do setor privado com muitas empresas a aceitarem que as suas ações sejam medidas e acompanhadas”, explica.
Francisco Ferreira valoriza todas as “linhas de intervenção” como “válidas e necessárias”.
“São precisos países, pessoas, manifestações, alertas, pressão. As opiniões podem ser diferentes, mas é crucial o diálogo, a pressão e a mudança”, finaliza.
LS