LOC/MTC – Movimento de Trabalhadores Cristãos
O Papa Francisco tem vindo a concretizar um conjunto de iniciativas, no Vaticano que são uma verdadeira profecia: Encontros Mundiais de Movimentos Populares, Encontros com Sindicatos, Sínodo para a Amazónia, entre outros. Tem convidado os pobres para entrarem em casa, para, no Vaticano, se sentirem em casa. A casa, entenda-se, Igreja!
A convite do Papa Francisco celebramos, no dia 17 de Novembro, o III Dia mundial dos pobres. Não se trata de filosofar sobre a pobreza, mas de acolher e integrar cada pobre, de lhe permitir manifestar a sua visão do mundo, da economia, da vida, e de lhe criar as condições sociais para poder ser protagonista da sua vida e da sua dignificação.
É certo que os pobres também se aproximam de nós porque lhes distribuímos alimento, mas aquilo de que verdadeiramente precisam ultrapassa a sopa quente ou a sanduíche que oferecemos. Os pobres precisam das nossas mãos para se reerguer, dos nossos corações para sentir de novo o calor do afecto, da nossa presença para superar a solidão. Precisam simplesmente de amor.
Os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão-de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; são homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga. São famílias sem meios de subsistência, são órfãos, que perderam os pais ou foram violentamente separados deles para uma exploração brutal; são jovens sob pressão, em busca duma realização profissional, cujo acesso lhes é impedido por míopes políticas económicas; são vítimas de tantas formas de violência: desde a prostituição, à droga, à violência doméstica e crianças abusadas por aqueles em quem confiavam, pessoas humilhadas no seu corpo e no seu íntimo; são trabalhadores, com horários incomportáveis para darem atenção aos filhos; são milhões de migrantes, vítimas de tantos interesses ocultos, muitas vezes instrumentalizados para uso político, a quem se nega a solidariedade e a igualdade, e tantas pessoas sem-abrigo e marginalizadas que vagueiam pelas ruas das nossas cidades.
Nem sempre a maior necessidade é de ordem material, mesmo que esta seja a primeira a manifestar-se. Por isso a promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica. O amor que dá vida à fé em Jesus não permite que os seus discípulos se fechem num individualismo asfixiador, oculto nas pregas duma intimidade espiritual, sem qualquer influxo na vida social (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 183)
O compromisso dos cristãos, por ocasião deste Dia Mundial e sobretudo na vida ordinária de cada dia, não consiste apenas em iniciativas de assistência que, embora louváveis e necessárias, devem tender a aumentar em cada um aquela atenção plena, que é devida a toda a pessoa que se encontra em dificuldade. Nas comunidades cristãs, é necessário que os pobres se sintam em casa! E na sociedade a primeira função da política é chamar os pobres a participar, a integrar-se e proporcionar-lhes a oportunidade de poderem trazer para casa o pão com o seu trabalho. Que dizer de 220 mil jovens que não trabalham nem estudam, em Portugal? (SIC Notícias 07.11.2019). Como se vão integrar na sociedade?
A Mensagem do Papa para o Dia Mundial do Pobre, neste ano, acentua que não se trata de distribuir o que sobra a quem muito tem. Enquanto se distribuírem sobras, os pobres continuarão nas lixeiras à procura do descarte e do supérfluo: drama dentro do drama, não lhes é consentido ver o fim do túnel da miséria. Trata-se de os “fazer” participar, integrar, acolher, porque todos somos responsáveis uns pelos outros e todos vivemos nesta Casa Comum.
A esperança dos pobres torna-se forte com a certeza de que são acolhidos pelos discípulos do Senhor e pela sociedade comprometida com a justiça.