Cónego António Rego convida a mergulhar e a descobrir a beleza nas profundezas
Ponta Delgada, Açores, 29 jul 2021 – O cónego António Rego diz que nos Açores “quem manda é o mar “e quem não o experimenta “perde muito”, pois não contempla a totalidade de um lugar “muito belo do planeta”.
“Nas nove ilhas quem manda é o mar. A terra é um acessório neste vasto oceano que perdemos de vista mas numa linha impecável. Os nossos olhos podem enganar-se, a linha do mar nunca se engana”, conta à Agência ECCLESIA.
“Quem não experimenta o mar dos Açores, perde muito. O mergulhar, o sentir o gosto da água salgada. Se podemos ver com clareza o que está diante, estamos a visitar um lugar muito belo do planeta”, acrescenta.
As «Conversas na Ecclesia» visitam o mar dos Açores, na companhia do Cónego António Rego, natural da ilha de São Miguel, onde se encontra atualmente a residir.
“Durante muitos anos fiz caça submarina com uma espingarda e apanhava alguns peixes. Mas o coração acordou e disse que eu não tinha o direito de matar os peixes para me alimentar. Era um desafio grande: nós a perseguir, eles a fugir e era necessário habilidade. Seria um pecado de pescador, que pratiquei durante alguns anos, mas agora renego – não que não o possa fazer, tenho a espingardada pendurada, mas agora acho que tem menos graça”, recorda.
Natural da zona das Capelas, assim denominada por causa das rochas em forma “gótica”, esta é uma zona onde o cónego António Rego ainda hoje mergulha.
“Quem possa saber nadar um pouco, que possa nadar nestas águas e descobrir maravilhas. Com uma pequena máscara vai ver tudo aumentado na sua beleza”, convida.
As «Conversas na Ecclesia», com sabor e cenário no mar dos Açores, têm como convidado o cónego António Rego, que nos guia esta semana todos os dias às 17h00 no portal da Agência ECCLESIA e pelas 22h45 na Antena 1 da rádio pública.
PR/LS
Correspondência ao mar Quando penso no mar A linha do horizonte é um fio de asas E o corpo das águas é luar, De puro esforço, as velas são memória E o porto e as casas Uma ruga de areia transitória. Sinto a terra na força dos meus pulsos: O mais é mar, que o remo indica, E o bombeado do céu cheio de astros avulsos. Eu, ali, uma coisa imaginada Que o Eterno pica, Vou na onda, de tempo carregada, E desenrolo… Sou movimento e terra delineada, Impulso e sal de polo a polo. Quando penso no mar, o mar regressa A certa forma que só teve em mim ‑ Que onde acaba, o coração começa. Começa pelo aro das estrelas A compasso retido em mente pura E avivado nos vidros das janelas. Começa pelo peito das baías A rosar-se e crescer na madrugada Que lhe passa ao de leve as orlas frias. E, de assim começar, é abstrato e imenso: Frio como a evidência ponderada. Quente como uma lágrima num lenço. Coração começado pelos peixes, És o golfo de todo o esquecimento Na minha lembrança que me deixes, E a rosa dos Ventos baralhada: Meu coração, lágrima inchada, Mais de metade pensamento. Vitorino Nemésio |