Sacerdote português continua a acompanhar situação política, social e da Igreja no país
Lisboa, 31 ago 2020 (Ecclesia) – O padre Joaquim Gonçalves, missionário da Consolata, recordou algumas histórias e vivências de 40 anos de missão no Brasil onde as favelas de São Paulo foram campo pastoral dedicado a todas as pessoas, dos traficantes de droga aos voluntários.
“A minha maior experiência com traficantes de droga foi na maior favela de São Paulo, Heliópolis, que está na fronteira da cidade de São Paulo e de São Caetano”, explicou o sacerdote hoje no programa ECCLESIA, transmitido na RTP2.
O padre Joaquim Gonçalves recorda que abriram a missão na favela de Heliópolis em 2002 e morou durante dois anos sozinho, começou este serviço pastoral “do zero” e um dos “contactos sempre foi com as chefias” do tráfico de droga “e aí havia os grandes chefes da droga”.
“Contactos perigosos no sentido de serem criticados, não de colocar a minha vida em risco”, salienta, acrescentando que quando mudou de habitação foi viver “ao lado de um dos grandes traficantes”.
Segundo o missionário da Consolata “um contacto direto” com esses “grandes chefes da droga” que, depois, também “ajudaram a tomar posse de um terreno para construir uma igreja” que hoje é Paróquia de Santa Paulina.
“O diálogo tem de ser aberto, meio na brincadeira, muito fraterno, e também ter momentos importantes de diálogo mais silencioso, mais secreto, para falar das consequências que criam na sociedade com a droga” explicou.
Neste contexto, lembrou como exemplo que quando “um dos três grandes chefões” foi preso, e enviado “para segurança máxima”, a mais de 300 quilómetros, um dia a sua mãe dele disse-lhe que o filho tinha “saudades” do sacerdote e “pediu para o visitar na prisão”.
Conhecimentos, lembra o padre Joaquim Gonçalves, que fizeram também com que a polícia cercasse o seu carro, num dia quando estava a sair da favela, e “apontaram quatro armas e pediram a chave e os documentos”.
Segundo o sacerdote, o conflito “mais desafiador” entre os grupos foi na favela de Salvador onde correu “certo perigo” porque passou “a noite inteira num grupo falando com eles, depois outro grupo, até às 5 da manhã, e eles baixaram as armas e desistiram do ataque”.
“E não se atacaram mais”, realça, salienta que no diálogo é necessário “dar motivações” e os grupos rivais “sentiram a presença confiante” que “é fundamental”.
O missionário da Consolata foi enviado para o Brasil no final dos anos 70 do século passado quando “já estava comprometido para o Congo Belga” e ficou surpreendido porque “nunca tinha sido uma ambição, um sentimento, ou uma atração de missão” mas “sempre disse aos superiores, desde estudante, que nunca diria não”.
“Fui para uma paróquia no Rio Grande do Sul, onde também tínhamos um seminário menor, e comecei a fazer atividades que se tornaram muito atrativas porque a minha metodologia foi sempre conviver, estar perto, e não só explicar temáticas. Procurar entender o outro para haver um relacionamento, uma comunicação mais adequada”, desenvolveu, sendo depois enviado para São Paulo para a formação dos seminaristas.
O padre Joaquim Gonçalves que é natural de Pombal e celebrou 50 anos de sacerdócio em dezembro de 2019 regressou a Portugal há alguns meses mas continua a acompanhar a situação eclesial, política e social do Brasil, e o que “está a preocupar profundamente” é a pandemia do coronavírus Covid-19, nomeadamente o “a falta de controlo e ajuda aos indígenas” que considera o “risco maior”.
PR/CB