D. Stephen Martin Mulla, primeiro cardeal do Sudão do Sul, destaca impacto positivo da visita do Papa
Cidade do Vaticano,29 set 2023 (Ecclesia) – O arcebispo de Juba, D. Stephen Martin Mulla, alertou hoje para o risco de um agravamento da guerra no vizinho Sudão, com impacto direto sobre os refugiados e deslocados internos acolhidos no Sudão do Sul.
“Há sempre o potencial de que a guerra alastre. Pode alastrar-se para o Sudão do Sul, quem sabe? Pode alastrar-se para o Chade, outros países, mas rezo e espero que as pessoas tenham bom senso e se sentem para negociar a paz”, declarou o futuro cardeal, na sala de imprensa da Santa Sé, falando a jornalistas portugueses.
Na última semana, o líder da junta militar no poder no Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, admitiu, na Assembleia Geral da ONU, que a guerra no seu país “se vai propagar a outros países da região”
O Sudão está há cinco meses num clima de guerra civil, que coloca em conflito os militares liderados por al-Burhan e as Forças de Apoio Rápido (FAR, paramilitares), nas ruas de Cartum, capital sudanesa.
D. Stephen Martin Mulla, primeiro cardeal na história do Sudão do Sul, alerta que “a guerra é contagiosa”.
“Esperamos que se possa conter esta guerra, dentro do Sudão, porque se o conflito se espalhar para o nosso país, vai haver um segundo deslocamento interno de pessoas. Por isso, os organismos regionais e a União Africana estão a dar o seu melhor para que as duas partes entrem em negociações e assinem a paz”, apelou.
O responsável católico destacou o impacto da guerra no vizinho Sudão: “As nossas igrejas foram bombardeadas, todas as igrejas em Cartum sofreram danos, todas as paróquias”.
Perante a escalada do conflito, o Sudão do Sul tornou-se “um refúgio seguro para os sudaneses que estão a fugir do norte”.
“Agora temos um grande, enorme número de pessoas que entram no país, algumas junto à fronteira, algumas já em Juba, onde estão a ser instalados campos. As necessidades são gigantescas, precisamos realmente de apelar às organizações internacionais, para que venham em ajuda destas pessoas deslocadas”, indica.
O novo cardeal recorda a visita de Francisco a Juba, que decorreu entre 3 e 5 de fevereiro, como “um abrir de olhos para que a comunidade internacional” e um reforço do diálogo ecuménico.
“A chegada dos três líderes (Papa Francisco, arcebispo Justin Welby e pastor Iain Greenshields, ndr) cimentou as três Igrejas (católica, anglicana e presbiteriana), em conjunto. A nossa relação com as várias denominações sempre foi muito boa, por isso a visita do Santo Padre cimentou essas relações”, declarou.
Vejo que há grandes mudanças, nas pessoas, nos cristãos de várias denominações. Precisamos disso para trabalhar pela paz e esse trabalho, entre nós, está a tornar-se muito forte. Esperamos que as negociações de paz que estão a decorrer em Roma, na comunidade de Santo Egídio, deem bons resultados e a paz, finalmente, chegue ao Sudão do Sul”.
O arcebispo de Juba falou num “conflito político”, no qual as religiões podem criar uma plataforma de diálogo e travar o avanço de grupos fundamentalistas.
“Espero que, através do diálogo, se possam resolver estes problemas políticos”, concluiu.
O consistório para a criação de 21 cardeais, entre eles 18 futuros eleitores, decorre este sábado, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Praça de São Pedro.
Este é o nono consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019, 28 de novembro de 2020 e 27 de agosto de 2022.
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