Congregações religiosas em Moçambique pedem reacção do governo ao caso do tráfico de órgãos

Religiosos confirmam existência de redes organizadas e atacam inércia das autoridades O assassinato da missionária Joraci Edinger, em Moçambique, virou as atenções do mundo para esse país, no dia seguinte ao Procurador Geral Adjunto moçambicano, Rafael Sebastião, ter revelado as conclusões das investigações levadas a cabo pela Procuradoria Geral da República (PGR), sobre o alegado tráfico de órgãos humanos na província de Nampula, defendendo a não existência de tráfico no país. Já hoje a Agência ECCLESIA divulgou o documento onde as Conferência dos Religiosos e Religiosas de Moçambique (CIRM-CONFEREMO) abordam as denúncias de tráfico de crianças e órgãos humanos em Nampula, confirmando a existência desta prática. O documento de sete páginas apoia a denúncia feita pelas missionárias de Nampula, referindo que “é inegável a existência de uma rede de tráfico de órgãos a actuar na África do Sul, para ficarmos apenas na nossa vizinhança”. O comunicado indica também o nome de um casal a agir em Nampula, que já tinha sido apontado pelos missionários no local (ver depoimentos dos missionários portugueses) e consideram-nos elementos colocados no tráfico de crianças. Os religiosos denunciam um “estranho movimento nocturno de viaturas e aeronaves de pequeno porte, no aeroporto de Nampula, que tem limites com a propriedade do casal em questão e com o mosteiro Mater Dei”. Para os oitos responsáveis católicos que assinam o documento, o Estado não está a fazer uma investigação séria sobre os casos que foram denunciados desde o dia 2 de Outubro de 2002, criticando “negação apressada, pura e simples das denúncias” e “a tentativa de desacreditar as denúncias e de modo particular uma das denunciantes, Maria Elilda dos Santos”. “No dia 13 de Setembro de 2003, numa denúncia assinada pelo Arcebispo de Nampula, D. Tomé Makhweliha, pelo Reitor do Seminário Inter-diocesano, Pe. Carlos Alberto Gaspar Pereira, pela leiga consagrada da Arquidiocese de São Paulo, Maria Elilda dos Santos, e pela superiora do Mosteiro Mater Dei, Ir. Maria Cármen Calvo Ariño (Ir. Juliana), foram divulgados vários acontecimentos estranhos e preocupantes ocorridos na cidade de Nampula”, revelam. “Essa denúncia foi levada à reunião da Conferência Episcopal de Moçambique, que decidiu apresentar o problema ao Presidente da República, Joaquim Chissano”. Acrescenta o comunicado, que traz em anexo o relato dos oito casos denunciados nessa carta do ano passado. O Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), D. Jaime Gonçalves, declarou à Agência ECCLESIA que “queremos voltar a circular livremente em Moçambique sem o perigo de sermos apanhados e nos extraiam órgãos internos”. As denúncias feitas pela irmã Maria Elilda, do mosteiro de Mater Dei, são classificadas por estes responsável católico como “um bom trabalho, um lindo trabalho de denúncia”. Em relação à morte da missionária brasileira Doraci Edinger, a 24 de Fevereiro, D. Jaime Gonçalves não sabe “se o caso está relacionado com as denúncias”, mas assegurou que o Conselho Permanente da CEM “está atento”. Neste momento a Irmã Elilda dos Santos está a ser pressionada para abandonar Moçambique, acusada de desestabilizar o país. A religiosa está cada vez mais isolada, sobretudo desde a divulgação do relatório da PGR a desmentir os factos por ela relatados. Os elementos recolhidos pelas irmãs já chegaram, também, ao conhecimento das autoridades, mas os missionários no local confessam o seu desapontamento com a polícia e o sistema judicial, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana ter feito saber, na semana passada, que não tinha indícios nenhuns de que existisse tráfico de órgãos em Nampula. Afonso Dhlakama, líder da Renamo, disse à RDP África que as “investigações do alegado tráfico de órgãos humanos devem continuar”. MISSIONÁRIOS PORTUGUESES CONFIRMAM Arlindo Pinto, Missionário Comboniano em Nampula, explica que a Igreja Católica de Moçambique tem vindo a denunciar, há mais de seis meses, a existência de tráfico de menores e de órgãos humanos em Nampula. “Tudo começou no dia 15 de Julho de 2003, quando Dionísio da Silva Armindo levou uma criança de nove anos a uma casa dos arredores da cidade, perto do aeroporto, para a vender ao proprietário – assim declarou o jovem, mais tarde, na esquadra da polícia –, por um valor de oitenta milhões de meticais (3200 Euros)”, refere na publicação missionária “Além-Mar”. José Gaspar, missionário Espiritano, descreveu a situação na página oficial da Provínvia Portuguesa. De acordo com o seu relato, em Nampula – uns 700 Km a Norte de Maputo – não muito longe de Itoculo, onde está a nascer a nova missão confiada aos espiritanos, há um convento de freiras. Paredes meias, uma fazenda, concedida pelo Estado a um casal, ele sul-africano, ela dinamarquesa. E há ainda, nas imediações, uma pista para aviões ligeiros. Essa pista registou, de acordo com o mesmo, “um estranho aumento de tráfego, desde a chegada do ‘Branco’, apelido local do fazendeiro.” “Com a chegada do casal começam a desaparecer pessoas, crianças sobretudo. As pessoas andam apavoradas. Correm notícias de cadáveres que aparecem sem alguns órgãos. A polícia não atende às denúncias, feitas a medo, ameaça mesmo os denunciantes, e as autoridades locais permitem que esses cadáveres desçam à terra sem autópsias”, acusa. Os Missionários Espiritanos, em Portugal, foram alertados e avisaram os seus contactos em Bruxelas junto da sede da União Europeia. Algumas ONG’s, entre elas a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch foram contactadas a partir de Bruxelas. A Comissão Europeia foi informada sobre as denúncias apresentadas e as preocupações existentes acerca do assunto. O deputado europeu José Ribeiro e Castro interpelou a Comissão e o Conselho com um conjunto de questões sobre a possibilidade da existência de tráfico de órgãos em Moçambique. Notícias relacionadas • Congregações religiosas não recuam na denuncia do tráfico de crianças e órgãos humanos em Nampula • Igreja Católica em Moçambique apresenta os casos que denunciou ao presidente Chissano

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