Conflito de éticas atravessa a sociedade

Alertas de Enzo Bianchi, fundador da comunidade monástica de Bose

Numa sociedade de “turistas consumidores” em que vigora o primado do “fazer experiências” e do “perseguir o seu desejo de modo narcisista”, Enzo Bianchi afirmou esta manhã (dia 30 de Setembro), na Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, que é fundamental um “diálogo com a cultura e a sociedade”.

O orador – fundador da comunidade monástica de Bose (Itália) – proferiu uma conferência sobre «Para uma ética partilhada». Na introdução ao tema abordado, o Pe. Tolentino Mendonça, professor da Faculdade de Teologia, sublinhou as qualidades do conferencista que “é dos protagonistas do cristianismo contemporâneo”.

Nos últimos anos, iniciou-se uma “retomada do anticlericalismo, que é sempre uma reacção a um clericalismo que se alimenta de intransigências, de posições defensivas e de falta de respeito pelo interlocutor não cristão” – realçou Enzo Bianchi. Ao ler o fenómeno hodierno em que voltam à ribalta “textos apócrifos e gnósticos eloquentes e cativantes”, o conferencista alerta para a necessidade de observar que “o problema é sempre o mesmo: curiosidade quase doentia à volta de períodos obscuros da vida de Jesus, necessidade de «santificar» personagens evangélicas em que nos reconhecemos, desejo de projectar em Jesus os nossos sentimentos, em vez de fazermos penetrar em nós os sentimentos de Jesus”.

Na data de encerramento (8 de Dezembro de 1965) do II Concílio do Vaticano, Enzo Bianchi começa a experiência de vida monástica. Com um percurso rico, o Pe. Tolentino Mendonça destacou três linhas fundamentais do orador: “o trabalho e o conhecimento profundo das fontes patrísticas; a sua relação com a palavra bíblica e o diálogo com a cultura e a sociedade”.

Depois de abordar os fundamentalismos contemporâneos, o fundador da referida comunidade monástica alerta que a “ética tornou-se para a Igreja Católica o âmbito em que se consumam conflitos mais do que confronto e diálogo, primeiro com as outras igrejas cristãs, mas também com a sociedade e as culturas contemporâneas”. 

“O cisma entre as igrejas se vive, hoje, mais no campo da ética, e sobretudo, da ética inerente à esfera sexual, do que no campo doutrinal”. Na possibilidade de existir um «choque de civilizações», “não será entre cristianismo e as outras religiões, mas antes um conflito de éticas, que atravessará as nossas sociedades, sobretudo ocidentais”, sublinhou o orador.

O autor do livro «Para uma ética partilhada» – “uma das vozes espirituais mais surpreendentes do nosso tempo” – teve um papel “importante no último sínodo”. Pouco a pouco, a ética marca a agenda da sociedade ocidental. Para saber mais sobre o tema consulte a obra «Para uma ética partilhada», editada pela «Pedra Angular».

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