Conferências Quaresmais do Bispo de Viseu

Sendo uma decisão tomada em reunião do Cabido da Diocese de Viseu e por proposta do seu Bispo, realizaram-se neste ano, de novo, as Conferências Quaresmais.

Foram 5 encontros, realizados em diversas Igrejas da Cidade, sendo a última na Catedral, precisamente no 5º Domingo da Quaresma e imediatamente antes da Procissão de Nosso Senhor dos Passos. Procurando que fossem Conferências dentro da temática do Plano Pastoral da Diocese, tiveram estes títulos: Os Caminhos da Palavra na Igreja e na Sociedade actual; A Iniciação Cristã e os Compromissos dos Leigos na Igreja e na Sociedade actual; A Corresponsabilidade: desafio para a Igreja dos nossos tempos; O serviço e a Comunhão na Igreja: Ministérios Ordenados e Ministérios Laicais; A Páscoa de Jesus. Plenitude do Serviço e da Comunhão.

 

1ª Conferência

Evocando o Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, falei da necessidade de a Palavra ir e ser anunciada a todos os homens, tornando-se Caminho para a Igreja e para o Cristão. Como Discípulo Missionário, cada Cristão é convidado a levar a Palavra onde quer que vá e viva, pois em cada lugar, está onde Jesus quer chegar como Salvador e como Revelador do Pai. Ao Cristão compete anunciar Jesus que é, para cada pessoa, o Caminho a fazer a ponte entre a origem do homem – Deus – e a sua própria meta – Deus – levando o homem à sua plenitude. Daqui, o homem ser o caminho de Deus e da Igreja, concretamente, nos lugares onde vive: como uma Pessoa, como membro de uma Família, como um Vizinho, como um Trabalhador, como um Sofredor, como um Voluntário na Igreja e na Sociedade, como um Membro da Comunidade. Devem aproveitar-se todas as formas novas e modernas de fazer chegar a Mensagem, considerando o Evangelho como a “língua materna” e Jesus como o “caminho de vida”. Mais: os caminhos da Palavra vão sendo caminhos de missão. Jesus enviou os Seus Discípulos onde Ele próprio queria ir. O mesmo sucede hoje connosco: envia-nos onde Ele próprio quer ir, isto é, somos Seus embaixadores, como diz S. Paulo. Onde vai e está o cristão, aí deve estar a Mensagem do Evangelho – aí deve estar o próprio Jesus Cristo que as pessoas encontrarão em cada cristão.

 

2ª Conferência

A Quaresma inicia um tempo que é, por excelência, o da Iniciação Cristã. É a primeira etapa de uma longa caminhada que vai desde as Cinzas ao Fogo do Espírito, tendo o seu ponto alto no Lume Novo da Páscoa. Esta primeira etapa é o tempo propício para a renovação da vida e o aprofundamento dos dons – aspectos indispensáveis para vivermos os compromissos na Sociedade e na Igreja. Nestes compromissos temos a ajuda dos Sacramentos da Igreja, desde os que fazem nascer e constituem os alicerces da vida cristã, até aos que ajudam a viver e a crescer, aos que curam as doenças e aos que alimentam a força do Serviço e da Comunhão. Neste “organismo”, a Eucaristia ocupa um lugar único, como «sacramento dos sacramentos». Pela incompreensão e ignorância do papel da Igreja e dos dons que Jesus lhe confiou, existem hoje conflitos – pessoas que sem serem cristãs, ainda que baptizadas, vivem um cristianismo meramente «societário» e “exigem” os Sacramentos sem qualquer abertura à mínima preparação. Precisa instituir-se o “sacramento do acolhimento” que ajude a que a “procura” seja uma oportunidade e ajudar a que quem procura a Igreja encontre a Igreja. Este “acolhimento” deve fazer-se com grupos de cristãos “próximos na vivência de quem pede”, que partilhem com estes a sua experiência de Fé.

 

3ª Conferência

Corresponsabilidade na Igreja” ou “Igreja em Comunhão” ou “trabalho em rede” – expressões que afirmam a consistência de uma Igreja de Baptizados, num trabalho organizado e conjugado entre ministros ordenados, consagrados e leigos. As circunstâncias actuais – e não só a diminuição acelerada de Sacerdotes – pedem uma nova organização das Comunidades. Na nossa Diocese, temos este horizonte, com a proposta e a preparação de 7 novos Ministérios Laicais, com a preparação dos primeiros 9 candidatos ao Ministério Ordenado do Diaconado Permanente e com a próxima realização do Sínodo Diocesano. Enumerei diversos Documentos que nos têm ajudado e que vão ser centro do Sínodo (Lumen Gentium, Gaudium et Spes, Dei Verbum, Sacrossanctum Concilium, Apostolicam Actuositatem, Christifideles Laici e Discurso Final de Bento XVI na Visita ad Limina de 2007). Propomo-nos viver a “Eclesiologia de Comunhão na senda do Concílio”, como nos disse Bento XVI, sabendo que ela é “a rota a seguir”. Importa aprender a organizar a Igreja e a Diocese pelo modelo que é a Eucaristia, “Sacramento dos Sacramentos”, sendo todos participantes e sendo todos responsáveis pela sua celebração e pela sua vivência como força transformadora da Sociedade e da Igreja. Ao lado e com os Ministros Ordenados – os “Sacerdotes da Igreja” – devem preparar-se e assumir-se os “Sacerdotes do Mundo”, enquanto Leigos empenhados na organização e santificação das realidades temporais.

 

4ª Conferência

A Igreja só se justifica pelas suas tarefas e pela sua missão. Deve, pois, assumir com verdade e empenho o centro da sua missão: anúncio da Boa Nova, proclamar a felicidade e a salvação a todos e celebrar a Misericórdia do Pai. Por isso – e numa visão de prioridades – antes dos Serviços e Ministérios da Igreja (ordenados e laicais) está a Evangelização e a Catequese. O 1º anúncio, enquanto encontro com a Pessoa de Jesus Cristo e a Iniciação Cristã, enquanto início organizado da Catequese, são momentos que, não desligados, é urgente que sejam vividos e percorridos. Neste objectivo, os Movimentos, enquanto carismas e graças ao serviço da comunhão na Igreja, são muito importantes e têm um lugar próprio na Igreja. Eles são, como dizia João Paulo II, uma Primavera para a Igreja. A razão de ser e o objectivo fundamental de cada Movimento, Serviço, Carisma ou Ministério e a própria Igreja são sempre o anúncio e o encontro com a Pessoa de Jesus Cristo. É muito claro, importante e decisivo para a “ortodoxia” destes temas e desta praxis, o texto de S. Paulo sobre a diversidade dos carismas (1 Cor 12). Nenhum é exclusivo nem mais importante que o outro; todos são importantes para que o “corpo” viva e tenha qualidade de vida, Salvaguarda-se e valoriza-se a unidade e a comunhão. Todos procedem do mesmo Espírito e todos se orientam para o bem comum do mesmo “corpo”. Terminei por bendizer a Deus pela riqueza e diversidade dos Serviços, Ministérios, Secretariados, Movimentos (uns mais tradicionais outros mais “modernos”), Órgãos de Corresponsabilidade e todos os Carismas existentes na nossa Diocese de Viseu. A todos pedi empenho, colaboração e formação para serem cada vez mais dons de Deus para o crescimento de todos, ao serviço da unidade e da comunhão.

 

5ª Conferência

A última Conferência versou “a Páscoa de Jesus como plenitude do Serviço e da Comunhão”. A Fonte e o Modelo do Serviço e da Comunhão é a Santíssima Trindade. Dela e para nós, na Igreja, Jesus é o Mestre e a Referência, sobretudo na Páscoa – “passagem” de Deus na vida dos homens ao longo dos tempos. De facto, Deus nunca deixou de “passar” na vida dos homens, celebrando a Sua Páscoa, enquanto Festa de Libertação e acção de construção de um Povo, numa Aliança de amor. Foi assim com Noé, com Abraão, com Moisés e com Jesus Cristo. A mediação foi variando, bem como os meios de celebração da Aliança. Com Cristo, foi celebrada a Aliança nova e definitiva, selada com o Seu próprio Sangue. Porque nova e definitiva, tornou-se eterna e permanente, celebrada de forma sacramental na Eucaristia. Em todas as Páscoas ao longo dos tempos e, também por excelência, na Eucaristia, há determinadas constantes que permanecem desde a primeira: proximidade de Deus, fidelidade de Deus, amor, família… sempre num contexto de Aliança. Todas estas formas celebrativas da Páscoa e, sobretudo, a Páscoa de Jesus Cristo, são expressões profundas de serviço e de comunhão. São Serviço à vida e à libertação dos homens; são Comunhão com o Povo com o qual Deus vai estreitando a Sua Aliança de Amor.

 

Conclusão

A Páscoa de Jesus Cristo é a razão pela qual o Cristianismo é verdadeiro e nos garante e nos dá a verdadeira e plena salvação. Ela, a Páscoa, é a garantia da vida na sua plenitude, o que mais nada nem mais ninguém pode garantir. Por isso, viva a Páscoa!…

Que a celebração anual da Páscoa deste ano da graça de 2010 seja um abrir a torrente de Graça que brota da Páscoa de Jesus Cristo e que a todos nos fortaleça para amarmos e vivermos a Vida Nova de Jesus Cristo Ressuscitado, anunciando-a com alegria e com esperança, como a meta a que todos somos chamados.

Para todos, uma Páscoa muito Feliz, vivida no Serviço e na Comunhão, pela participação e pela corresponsabilidade, na Igreja e na Sociedade, assumindo cada um e cada uma a missão de vivermos a vida cristã, como serviço à construção e concretização do Reino de Deus. Este tornará a Igreja anunciadora e realizadora de justiça, de verdade, de vida, de amor e de paz! AMEN!

QUARESMA / 2010

Ilídio, Bispo de Viseu

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