Concordata 2004

O jornalista é um operário de palavras, sons e imagens condenado a trabalhar a altas temperaturas. Precisa ver, observar, sentir e depois, sobre o dito e o feito, escreve reflexivamente, com o pormenor da primeira fila, a panorâmica certa do écran e a sensibilidade inteligente de quem está longe e perto e, depois arriscar a reflexão que é muito mais que o comentário de superfície ou um desdobramento da narrativa. A mim próprio digo tudo isto, no meio de um dia pleno de emoção e cansaço. Desde manhã a expectativa da Sala Régia, uma enciclopédia de dez séculos de cristianismo testemunha de encontros e desencontros entre a Igreja, e uma série bizarra de reis e imperadores que sempre lhe exigiram e por vezes usurparam o seu melhor. Estamos no séc. XXI onde tudo parece diferente mas onde há semelhanças no coração da Igreja e no coração do mundo. Afinal é o meu país, que amo, e a Igreja que amo e sou, que ali estão, para assinarem um tratado que sucede a um acordo com mais de 60 anos num universo político, cultural e religioso inteiramente diferentes. Aconteceu o Concílio e aconteceu o 25 de Abril. E como disse o Patriarca de Lisboa à Ecclesia “ao contrário da Concor-data anterior que foi fruto de um conflito prolongado, esta nasceu da paz e de uma grande vontade de cooperação entre o estado português e a Igreja Católica”. A palavra do Papa na Sala Clementina, o encontro com o primeiro ministro na Biblioteca Privada e, finalmente, o cumprimento pessoal de João Paulo II a cada um dos presentes constituíram uma celebração de “Concordata” entre a Igreja bi-milenar e o Portugal histórico tudo, junto a cansaços, jejuns e confusões de satélites, com urgência de escrever sobre o joelho. Este é um dia histórico. Seja qual for a distância e a temperatura a que se observe. Dia da assinatura da Concordata 2004 . António Rego

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