Comunicar o silêncio é desafio para jornalistas

Profissionais comentam desafio lançado na mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2012

Lisboa, 08 mai 2012 (Ecclesia) – A compreensão da linguagem do silêncio e a sua transmissão nos meios de comunicação social constituem dois dos principais desafios colocados aos jornalistas que querem descrever a ausência de palavras que caracteriza frequentemente o fenómeno religioso.

José António Santos, secretário-geral da Agência Lusa, recorda o momento em que João Paulo II orou no Santuário de Fátima, em maio de 1991: “Um manto de sossego envolveu a capelinha e demais espaço envolvente. O Papa rezava mergulhado em oração íntima, completamente alheado do que se passaria em redor”.

“Ainda hoje sinto dificuldade em explicar aquele silêncio do Papa”, escreve o jornalista em texto publicado na edição de hoje do semanário Agência ECCLESIA, cujo tema central é dedicado ao 46.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja Católica assinala a 20 de maio.

Alexandra Serôdio, repórter do Jornal de Notícias, descobriu “há muito” serem “os silêncios que transmitem a verdadeira realidade das coisas e da vida”, mas a sua interpretação “tem sido um desafio constante” para uma jornalista que “faz da escrita o seu modo de vida”.

Interpretar e comunicar o silêncio é também “um objetivo de quem quer perceber o que move hoje a sociedade”, porque “mais que as palavras ditas de forma mais ou menos agradável ou mesmo emotiva, são os gestos, os olhares e os silêncios que devem ajudar a interpretar a verdadeira realidade”, realça.

O mesmo repto é colocado a quem trabalha com a imagem, como sublinha Imelda Monteiro, rosto dos programas ECCLESIA e ‘70×7’, transmitidos pela RTP-2: “Televisão, dizia a minha cultura académica, não rima com silêncio. Televisão é som, é palavra, é imagem em movimento… é uma transmissão contínua de estímulos comunicacionais. Será que tem lugar para comunicar o silêncio?”.

Uma inquietação que revive sempre que o objetivo é mostrar lugares e ambientes habitados pelo silêncio, como quando visitou um mosteiro de religiosas Clarissas: “Acreditem que para quem trabalha em televisão não é uma tarefa fácil”.

“Retenho na memória espaços enormes e vazios onde o que predomina é a ausência: ausência de movimento, ausência de som… Tudo o que tinha à minha frente contrariava as regras da televisão”, recorda.

O padre Rui Osório lembra que o Papa, ao escolher o tema para o Dia Mundial das Comunicações, “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”, introduziu uma regra essencial: “não basta ter que dizer; é importante saber ouvir”.

“A palavra tem necessidade do silêncio para ganhar expressividade”, frisa o jornalista, acrescentando que “a cultura digital não precisa apenas de tecnocratas, mas de quem a humanize com sabedoria, conjugando, com elevação cultural e espiritual, a beleza da palavra com o encanto do silêncio”.

A suspensão da palavra é também essencial na transmissão do cristianismo, nota o sacerdote: “Deus queira que os cristãos jamais comuniquem a outros a Palavra de Deus sem a escutar no silêncio contemplativo, atentos aos sinais dos tempos e ao modo como as pessoas se dão ao diálogo para que se faça luz”.

“Treinados no ‘pensamento produtivo’, o silêncio assusta-nos. Quando calamos algum tempo agitamo-nos, sentimo-nos inúteis, e desesperamos”, aponta por seu lado Pedro Gil, diretor do Gabinete de Imprensa do Opus Dei.

RJM

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