Comunicação: O que ganhou em tecnologia perdeu em humanidade

Jornalistas debateram em Fátima precariedade laboral no setor

Fátima, Santarém, 25 set 2014 (Ecclesia) – As jornadas nacionais da comunicação social, organizadas pela Igreja Católica, abriram hoje em Fátima com um debate sobre a precariedade que atinge o jornalismo e suas consequências empresariais e profissionais”.

No âmbito do tema “jornalismo descartável”, a jornalista Carmo Rodeia, do sítio “Igreja Açores", defendeu que “os novos media ganharam muito do ponto de vista tecnológico mas perderam muito em termos humanos”.

Com mais de 27 anos de experiência na área da comunicação, aquela profissional lamentou o “empobrecimento das redações”, uma vez que as empresas sabem que a evolução técnica permite hoje “fazer o mesmo trabalho com menos” recursos humanos.

Apontou ainda para fatores como a “crise ética e de valores” que marca a sociedade, a perda de identidade da própria informação, muitas vezes transformada num “espetáculo” em que mais do que a qualidade importam as audiências, e a subordinação do meio a “interesses” financeiros e políticos.

Algo que, na opinião de Carmo Rodeia, tem vindo a cercear a “independência” da informação e a sua “pluralidade” e profundidade.

O painel inaugural das jornadas deste ano das Comunicações Sociais da Igreja Católica em Portugal contou também com a participação do professor Eduardo Cintra Torres, que sublinhou a necessidade de contrariar a ideia de um jornalismo descartável, uma vez que esta é uma atividade “essencial na sociedade democrática”.

No entanto “há jornalistas descartáveis”, sustentou o docente, lamentando por exemplo a marginalização a que estão atualmente votados os “jornalistas mais experientes”, devido à lógica de custos que domina os media, e a realidade incerta dos mais novos.

O docente da Universidade Católica Portuguesa, especialista em matérias como televisão e ética na comunicação, acrescentou que, no que toca à “precaridade laboral", ela “leva a que haja jornalistas hoje mais atentos aos interesses dos patrões do que aos dos cidadãos que devem informar”.

A mesa de debate contou ainda com a participação de David Dinis, diretor do jornal digital “Observador”, um projeto recente, com cerca de quatro meses.

Sobre o tema em questão, aquele responsável sublinhou ser um “otimista”, sustentado que “o jornalismo não é o pior dos sítios para se estar”, até pelo mundo de oportunidades que a rede está a abrir.

“Há precariedade sim, há low cost. Não podemos ter a expetativa que todos vão conseguir resistir. Mas há sinais, nos EUA, por exemplo, de órgãos com capacidade de regeneração, quer no papel como no digital”, sustentou.

Quanto à situação dos jovens que entram para os meios de informação, a maior parte das vezes “mal pagos”, David Dinis admitiu ser “verdade que é possível pagar-lhes melhor”.

“Há casos em que a única coisa que levam para casa é o texto por eles assinado”, denunciou.

As jornadas nacionais de comunicação da Igreja Católica decorrem até esta sexta-feira, na “Domus Carmeli” em Fátima, subordinadas ao tema “Uma Rede de Pessoas”.

JCP  

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